Adolescente raptada telefonou três vezes para o 112 e ninguém fez nada. O raptor matou-a
O caso está a indignar a Roménia e já levou à demissão do chefe da polícia. As autoridades só entraram na casa do raptor 19 horas depois dos telefonemas
O caso está a indignar a Roménia e já levou à demissão do chefe da polícia. As autoridades só entraram na casa do raptor 19 horas depois dos telefonemas
Jornalista
"Estou numa casa velha, quase uma casa abandonada, há relva no pátio. Tem um carro de serviço, tem dois cães-lobos...". A voz da jovem que fazia esta descrição revelava bem a aflição em que estava. Alexandra, o nome que para já lhe deram, era uma adolescente romena de 15 anos que contava ter sido raptada por um homem que lhe dera boleia.
Isto passava-se na cidade de Caracal, no sul do país. O rapto acontecera na quarta-feira, e na quinta-feira de manhã, pouco depois das onze horas, Alexandra conseguira ligar para o 112, o número de emergências, a pedir ajuda.
Infelizmente, não lhe serviu de nada. A chamada foi passada à polícia, que não atuou, talvez por não acreditar na história (é o que a família de Alexandra julga que aconteceu). Passaram-se longas horas até alguém finalmente localizar a casa. Foi às três da manhã de sexta-feira. Mesmo aí, a polícia não entrou no imóvel. É verdade que a lei estabelece as seis da manhã como hora mínima para isso, mas há excepções - óbvias - para situações de perigo iminente.
Talvez por medo de um processo, os polícias preferiram ir a um juiz, que por volta das quatro da manhã emitiu um mandato, o qual só foi executado depois das seis. Ou seja, 19 horas após a primeira chamada de emergência.
Tinha havido mais duas logo a seguir, naquela manhã de quinta-feira. A última terminara com Alexandra a dizer, aterrorizada, "ele vem aí!, ele vem aí!". O homem tê-la-á matado pouco depois. Soube-se, entretanto, que se chama Gheorghe Dinca e tem por volta de 65 anos. De profissão é mecânico e tem ele próprio três filhos, dois dos quais vivem no estrangeiro.
Aqueles que deverão ser os restos mortais de Alexandra, descobertos na casa, já foram enviados para análise. No local encontravam-se também jóias que lhe pertenciam. As autoridades explicaram que inicialmente houve dificuldade em localizar o local, mas o ministro de Interior demitiu o chefe da polícia, explicando que eram necessárias medidas drásticas.
Por entre manifestações de protesto em frente ao Ministério do Interior e apelos a que responsáveis públicos sejam presos, a indignação é geral. O antigo presidente da Comissão Nacional para a Modernização da Roménia, tio de Alexandra, anunciou que vai apresentar queixa contra "todos os bastardos que mataram uma criança e o têm na consciência".
A morte de Alexandra poderá deitar sobre luz sobre o caso de uma outra adolescente que desapareceu em circunstâncias semelhantes em abril passado. Essa jovem nunca foi encontrada e suspeita-se que Dinca esteja envolvido. Se for verdade, quanto mais crimes do género poderá ter cometido? A investigação ainda está a começar.
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