Em declarações perante a Comissão de Constituição e Justiça do Senado, diante da qual fez questão de comparecer esta quarta-feira para explicar a troca de mensagens com Deltan Dallagnol, procurador e coordenador da Lava Jato, o ministro da Justiça, Sérgio Moro, começou por afirmar que as mensagens “são completamente normais” e colocou a hipótese de estas terem sido manipuladas. “Há coisas que posso eventualmente ter dito, mas outras causam-me estranheza. Essas mensagens podem ter sido totalmente ou parcialmente adulteradas”, sugeriu o ex-juiz federal.
Esta terça-feira, o site “The Intercept” divulgou uma série de mensagens trocadas entre Sergio Moro e Dallagnol a 13 de abril de 2017, em que o atual ministro da Justiça terá perguntado se as suspeitas contra o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso eram “sérias”, uma vez que não queria “melindrar alguém cujo apoio é importante”.
Segundo o site de investigação jornalística, que tem vindo a revelar “mensagens secretas da Lava Jato”, numa investigação conhecida pelo nome “Vaza Jato”, os procuradores responsáveis pela operação de combate à corrupção fingiram investigar o ex-presidente brasileiro somente para passar a ideia de que estariam a ser imparciais. Moro negou qualquer conluio com o procurador Dallagnol e referiu ter absolvido “cerca de 20%” dos que denunciados pelo Ministério Público no âmbito da operação Lava Jato. “Não existe conluio nenhum. Existe divergência”, disse.
Moro diz que já não tem as mensagens e por isso não pode afirmar se são ou não “autênticas”
Ainda em relação às mensagens trocadas com Dallagnol um dia depois de a imprensa brasileira ter divulgado suspeitas de corrupção contra Fernando Henrique Cardoso, envolvido alegadamente na Lava Jato, Moro disse já nem sequer tê-las no telemóvel (“utilizei o Telegram apenas durante um período específico de tempo. Em 2017, apercebi-me de que a aplicação não é segura e não voltei a usá-la”) e por isso não poder afirmar se são “autênticas” ou não. E mesmo que o sejam, não representam qualquer violação da lei.
“Sempre agi conforme a lei. No Brasil, é normal haver esses contactos entre juiz, advogado, Ministério Público e polícia. O que deve ser avaliado é o conteúdo dessas conversas.” Já no comunicado divulgado após a publicação das mensagens, o Ministério da Justiça brasileiro tinha afirmado que Sergio Moro não reconhecia a “autenticidade das supostas mensagens obtidas por meios criminosos, que podem ter sido editadas e manipuladas”.
Durante a sessão na comissão, Moro lembrou, além disso, que o seu telemóvel foi pirateado no início deste mês e que duvida que tanto esse ataque virtual, assim como os restantes a telemóveis de procuradores da Lava Jato, tenham sido cometidos por “amadores” ou “adolescentes com espinhas na frente do computador”. O site “The Intercept” afirmou, contudo, ter tido acesso às mensagens através de uma fonte anónima antes da suposta invasão ao telemóvel de Moro.
“Não é um adolescente com espinhas na frente do computador, mas sim um grupo criminoso estruturado”, afirmou Sérgio Moro, dizendo-se “surpreendido pelo nível de maldade das pessoas responsáveis por esses ataques, pela sua ousadia ao invadir ou tentar invadir telefones de procuradores da República, e utilizar isso não para fins de interesse público mas para minar os esforços anticorrupção”.
Questionado por um senador sobre se poderá vir abandonar o cargo de ministro da Justiça de modo a garantir total isenção em investigações sobre a sua conduta enquanto juiz da operação Lava Jato, Moro respondeu afirmativamente, dizendo não ter “nenhum apego pelo cargo em si”. “Se houver alguma irregularidade da minha parte, eu saio”.
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