Guinness vetou recorde de enfermeira em maratona por não ter usado saia
A enfermeira Jessica Anderson durante a sua participação na Maratona de Londres
Eric Tolentino
Jessica Anderson, que correu de bata médica, pede ao livro de recordes para rever regras e eliminar um “estereótipo de género”. O Guiness está a reconsiderar a situação após protestos
Em fevereiro, Jessica Anderson contactou o Guinness World Records com o objetivo de validar um eventual recorde do mundo na Maratona de Londres – que se realizou este ano a 28 de abril –, para mulheres vestidas de enfermeira. Foi informada de que o prazo para a inscrição de corredores com uniformes especiais estava ultrapassado e, ainda mais relevante, que teria de usar o vestido tradicional das enfermeiras, que associamos por exemplo ao período da II Guerra Mundial, com saia, avental e chapéu.
Anderson, que trabalha de facto como enfermeira há sete anos, na urgência do Royal London Hospital, em Londres, não cedeu à indicação – usou uma bata médica atual, com calças e túnica azuis – e não deu descanso às pernas: correu os 42,195 quilómetros em três horas, oito minutos e 22 segundos, batendo o anterior recorde por 32 segundos. Face ao impacto que o feito e respetivo veto tiveram, após uma entrevista ao site “Runner’s World”, o Guinness World Records já anunciou que vai reconsiderar a sua posição.
"A inclusão e o respeito são valores muito caros ao Guinness World Records e, embora tenhamos sempre de garantir que conseguimos diferenciar as diferentes categorias, é muito claro que este recorde e respetivas regras há muito que precisam de ser revistos, o que será uma prioridade nossa nos próximos dias", anunciou a instituição, que tinha alegado que o uniforme que a inglesa usou é semelhante ao dos médicos, que têm um recorde próprio.
"Essa definição está tão ultrapassada. Algumas das minhas colegas usam saia no trabalho, mas a maioria veste calças e túnica. Tenho a certeza que também nunca vi nenhum enfermeiro usar um vestido. Certamente que o Guinness World Records não quer ofender ninguém, mas seria bom que decidissem rever os critérios em vez de reforçar um velho estereótipo de género”, afirmou à “Runner's World”.
Entretanto, esta polémica e a atenção que mereceu nas redes sociais teve pelo menos um efeito positivo: a participação na maratona tinha também como motivação a angariação de fundos para a unidade de cuidados intensivos e intermédios do hospital em que trabalha. O objetivo era chegar às 500 libras (587 euros), mas o valor arrecadado ao início da tarde desta segunda-feira já ultrapassava os 5000 euros.