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Ataques como os do Sri Lanka “serão cada vez mais comuns”

Ataques como os do Sri Lanka “serão cada vez mais comuns”
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Especialista em terrorismo afirma que atentado demonstrou uma capacidade operacional “sofisticada”, uma ação de comando e coordenação “bastante eficaz”. Portugal tem “naturalmente” de estar preocupado com um ataque desta natureza

Ataques como os do Sri Lanka “serão cada vez mais comuns”

Hugo Franco

Jornalista

O especialista em terrorismo internacional Felipe Pathé Duarte traça o perfil do pequeno grupo jihadista do Sri Lanka suspeito de ter preparado o ataque terrorista que matou fez mais de 290 mortos e mais de 500 feridos. "É uma filial do Daesh no Sri Lanka", alerta.

Quem são estes autores do ataque no Sri Lanka? E o que de pior já fizeram recentemente?

O National Thowheed Jamath são um grupo jiadista local. Embora ainda não tenham reivindicado o atentado, foram eles os responsabilizados pelo governo. Sem grande expressão, ou histórico de acções terroristas (só vandalismo – ataques a templos budistas em Mawanella no ano passado), nascem no seio da minoria muçulmana no Sri Lanka (9%), tendo como pano de fundo as tensões sectárias que marcam o país – particularmente contra maioria budista, que representa o poder instituído.

Há ligações deste atentado com células do Daesh?

Há indícios que apontam que este grupo é uma filial do Daesh no Sri Lanka. E os perpetradores eram conhecidos por terem ligações com os cingaleses que viajaram para o Médio Oriente para se juntarem ao Daesh na Síria e no Iraque – que, aliás, celebrou o atentado online. É um padrão o apoio da “internacional jiadista” a grupos jiadistas locais, para que se transformem em filiais (começou com al-Qaeda e exponenciou com o daesh). O ataque demonstrou uma capacidade operacional sofisticada, com uma ação de comando e coordenação bastante eficaz. Tem o ADN do jiadismo global – se compararmos com acções semelhantes.

O Sri Lanka terá sido escolhido por ser um país frágil em termos de segurança? Quais acha que foram as principais razões pelo alvo ter sido este?

Também. Já estavam referenciados desde os ataques a Mawanella (2018). E havia indícios de possíveis ataques durante a Páscoa – descurou-se a dimensão, provavelmente. O Sri Lanka não é conhecido pela actividade jiadista. A inexperiência fez com que seja alvo ideal para grupos transnacionais que procura causar o máximo impacto, com o menor risco. O objectivo foi o de criar um alto índice de mortes e atrair, de novo, a atenção internacional.

O facto de haver Igrejas católicas como alvo e do atentado ter sido cometido na Páscoa é uma nova mensagem dos grupos terroristas para o mundo?

Parece haver um padrão, para além de punir, o objectivo é também o de explorar tensões sectárias e levar a mais reacções violentas. Isto não é novo. Traz-nos à memória os ataques na mesquita da Nova Zelândia, ou os ataques do Domingo de Ramos no Egipto em 2017, onde morreram 45 pessoas, ou o atentado suicida tem Lahore, no Paquistão, na Páscoa de 2016 que matou 75. Após o ataque na Nova Zelândia, aumentou a conscientização sobre a ameaça de ataques a instituições religiosas e pessoas em oração. A cooperação internacional na sequência do massacre de Christchurch é uma lição para o Sri Lanka sobre o tipo de apoio de que necessitará agora. Mas os governos ainda não encontraram uma maneira de impedir estes ataques, mesmo com partilha de intelligence e a tecnologia mais recente. Serão cada vez mais comuns.

Nos últimos maiores ataques, não se tem registado esta aparente coordenação entre terroristas. Pelo contrário, têm sido feitos pelos chamados lobos solitários. Pode haver uma mudança no paradigma nos próximos atentados?

A ideia de lobo solitária é relativa. No caso do jiadismo, a acção raramente é individual. Por regra há uma estrutura de apoio e até de recuo. Existe sim uma desconexão com o comando central, agindo não por ordem directa, mas por inspiração. Mas, por sinal, no caso da extrema direita violenta, a acção tem sido mais individualizada – o exemplo máximo disso é o do Anders Breivik (2011), na Noruega. Mas nunca estão sozinhos. Não é um fenómeno isolado. Partem de um movimento social para a acção direta.

Portugal tem também de estar preocupado com um ataque desta natureza, dada a sua dimensão e preparação?

Naturalmente que sim.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: HFranco@expresso.impresa.pt

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