O golpe militar de 31 de março de 1964, que instaurou a ditadura no Brasil durante 21 anos, não deve ser comemorado, como foi incentivado recentemente pelo Presidente Jair Bolsonaro. Uma sondagem da Datafolha, divulgada este sábado pelo jornal “Folha de S. Paulo”, aponta para uma clara maioria (57%) a favor da data ser desprezada, enquanto 36% acreditam que merece ser celebrada. Sete por cento dos 2086 entrevistados não souberam ou não quiseram responder.
O tema tornou-se fraturante no Brasil quando o porta-voz da Presidência, o general Otávio Rêgo Barros, afirmou que Bolsonaro tinha ordenado as “comemorações devidas” nos quartéis, a propósito dos 55 anos do evento, pela primeira vez desde o restabelecimento da democracia no país. A Defensoria Pública da União tentou impedi-la judicialmente, mas sem sucesso.
Durante os 21 anos de regime militar não houve eleições e houve censura, restrições à liberdade de expressão e perseguições políticas. No âmbito do trabalho da Comissão Nacional da Verdade, instituída pelo Governo brasileiro para investigar violações de direitos humanos entre 1946 e 1988, as próprias Forças Armadas reconheceram que houve tortura e mortes.
No entanto, o próprio Bolsonaro acha que não houve um golpe militar em 1964, mas sim uma transição para um “regime com autoridade”, que teve uns “probleminhas”. Após ser criticado, o Presidente brasileiro garantiu que não haveria comemoração, mas “rememoração”. No entanto, a Presidência divulgou via Whatsapp, a 31 de março, um vídeo de exaltação da ditadura militar.
“Foi só aí que a escuridão, graças a Deus, foi passando, passando, e fez-se a luz", pode ouvir-se no vídeo. Fontes do Palácio do Planalto recusaram-se posteriormente a fazer mais comentários, mas o filho do Presidente, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, partilhou-o nas redes sociais.
De acordo com a sondagem, a recusa de exaltação do golpe tem mais apoio entre os mais jovens, com mais estudos e mais rendimento. Entre as pessoas de 16 a 24 anos, 64% são contra à comemoração da data e a percentagem chega a 67% entre os licenciados. Por outro lado, foram favoráveis à celebração do golpe 42% das pessoas com mais de 60 anos. Os votantes de Bolsonaro são igualmente favoráveis à posição do Presidente, mas por uma margem curta: 49% a favor e 43% contra.
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