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Eritreia. Fundação de defesa dos direitos humanos acusa UE de financiar esquema de trabalho forçado

Eritreia. Fundação de defesa dos direitos humanos acusa UE de financiar esquema de trabalho forçado
MAHEDER HAILESELASSIE TADESE/AFP/Getty Images

A UE reconhece que pessoas ao serviço da nação estão a ser usadas num projeto de construção de estradas mas esclarece que estas são pagas e que os salários até aumentaram recentemente. Fontes ouvidas pela BBC desmentem aumento. Fundação ameaça levar UE a tribunal por violação da sua própria Carta dos Direitos Fundamentais

Eritreia. Fundação de defesa dos direitos humanos acusa UE de financiar esquema de trabalho forçado

Hélder Gomes

Jornalista

A Eritreia é uma “prisão a céu aberto onde as pessoas que trabalham ao serviço da nação estão encurraladas em condições extremamente duras”, enquanto a União Europeia (UE) financia um esquema no país que recorre a “trabalho forçado”. A denúncia foi feita esta segunda-feira por Mulueberhan Temelso, diretor da FHRE, uma fundação de defesa dos direitos humanos dos eritreus.

A UE comprometeu-se a gastar 20 milhões de euros na Eritreia como parte do fundo europeu de emergência para África, que visa combater o que apelida de “migração irregular”, financiando esquemas de criação de emprego em vários países africanos. Aquele montante está a ser gasto na melhoria da rede de estradas na Eritreia. A UE reconhece que pessoas ao serviço da nação estão a ser usadas no projeto mas esclarece que estas são pagas e que os salários até aumentaram recentemente.

No entanto, fontes ouvidas pela BBC revelaram que desde 2016 os soldados recebem pouco mais de 100€ por mês e que, após descontos, cada um recebe apenas 15€ mensais e a sua família 35€. Ainda segundo a estação britânica, não houve um aumento recente de salários. A UE não respondeu a um pedido de esclarecimento feito pela BBC.

“Estou muito interessado em ouvir o que a UE tem a dizer em sua defesa”

Na segunda-feira, a FHRE enviou uma carta à UE alertando que, se esta não se retirar do projeto de construção de estradas, levará a organização a tribunal por violação da sua própria Carta dos Direitos Fundamentais. O documento comunitário refere claramente que “ninguém será obrigado a executar trabalho forçado”.

“Estou muito interessado em ouvir o que a UE tem a dizer em sua defesa porque o que quer que diga será em defesa do recurso a trabalho forçado”, referiu à BBC o advogado que representa a FHRE. “Acho que esta situação é difícil de entender e espero que muita gente na UE tenha dificuldades em entender isto”, acrescentou.

“Uma geração de refugiados eritreus”

Oficialmente, a Eritreia exige que as pessoas cumpram 18 meses de trabalho ao serviço da nação mas este período foi prolongado indefinidamente na sequência da guerra com a Etiópia, que terminou em 2000.

Uma investigação das Nações Unidas concluiu, em 2016, que os recrutas eram usados em “trabalho forçado”. Em 2018, a Amnistia Internacional considerou que a prática destruiu “os sonhos da juventude do país” e criou “uma geração de refugiados eritreus”.

A Eritreia afirma que este é um retrato distorcido do que se está a passar e nega a existência de trabalho indefinido ao serviço da nação. Após a assinatura do acordo de paz com a Etiópia no ano passado, as organizações esperavam que aquele trabalho voltasse à duração original de um ano e meio mas tal ainda não aconteceu.

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