Intimidação e chantagem, mas também sedução. As estratégias da China para controlar a imprensa no mundo
Assim descreve o relatório que a Repórteres sem Fronteiras acaba de publicar, e que apela à vigilância em nome da democracia
Assim descreve o relatório que a Repórteres sem Fronteiras acaba de publicar, e que apela à vigilância em nome da democracia
Jornalista
A crescente assertividade da China no palco mundial tem numerosas facetas. Entre elas, um esforço constante para controlar a informação que circula sobre o país, não apenas no interior do seu território, mas pelo mundo fora. Num relatório acabado de divulgar pela Repórteres sem Fronteiras, uma ONG sediada em Paris, são enunciadas muitas das ações em questão e nota-se o perigo que representam para a democracia tal como a conhecemos.
"Chantagem, intimidação e assédio em larga escala" são parte da estratégia, facilitadas pelo ascendente económico que a China tem vindo a ganhar em numerosos países - mesmo países tradicionalmente vigilantes em relação à liberdade de expressão. A crise económica, e em especial a crise generalizada da imprensa tradicional, tornam esta particularmente sensível a influência exercida através do dinheiro.
Assim, a um nível bastante óbvio, há os artigos de propaganda pró-Beijing que mesmo grandes jornais de referência publicam regularmente, a troco de somas que podem chegar ao quarto de milhão de dólares. A um nível menos visível, mas ainda mais poderoso, há as viagens à China com tudo pago que são oferecidas a jornalistas dos mais variados países. Esse tipo de oferta é frequente em África, onde a China tem feito investimentos maciços que a levam a ser acusada de subtrair recursos naturais indispensáveis aos países em questão, bem como de sujeitar esses países a fardos de dívida insustentáveis.
Outra estratégia igualmente discreta (ou que assim se pretende) é a entrada no capital de certos media importantes. Segundo o relatório, a China tem conseguido eliminar ou evitar a publicação de artigos problemáticos para o governo chinês. "Na mente do regime de Beijing, a função dos jornalistas não é a de ser contrapoder mas servir a propaganda dos Estados", diz o secretário-geral da organização, Christophe Deloire. "Se as democracias não resistirem, a propaganda 'estilo chinês' invadirá gradualmente os media mundiais, competindo com o jornalismo tal como o conhecemos".
O diretor do escritório da RSF na Ásia Oriental, Cédric Alviani, concorda: "É muito provável que o que mostramos neste relatório seja apenas a ponta do iceberg. É isso que faz arrepios. O nosso propósito é o de despertar interesse entre os jornalistas, a fim de que prestem atenção à dimensão da influência chinesa nas suas regiões", disse à Hong Kong Free Press, um jornal gratuito que se descreve como "dirigido por jornalistas e completamente independente".
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