O sorriso de Jason Spindler, que se repete em todas as fotos que os media publicam desde que o seu nome foi confirmado como uma das vítimas do atentado de Nairobi, é a imagem que fica para quem nunca o conheceu. Mas as notícias contam também a sua história e de como escapou aos ataques de 11 de setembro de 2001, mudando toda a sua vida, para acabar por morrer, de qualquer forma, em consequência do terrorismo.
Spindler faria 41 anos na próxima semana. Era o mais velho de três irmãos, natural de Houston, nos Estados Unidos, e “um poço de energia”, como agora o descrevem os amigos. O dia em que escapou ao horror do World Trade Center - atrasara-se para chegar ao escritório e estava a sair da estação do metropolitano quando a primeira das Torres caiu - foi um ponto de viragem. No momento imediato, arregaçou as mangas e, em vez de fugir do local da tragédia, emaranhou-se pelos destroços, ajudando os sobreviventes. Nos meses seguintes, mudou de vida. Deixou a banca, sector onde trabalhava no mercado de investimentos, concluiu uma pós-graduação em Direito, na Universidade de Nova Iorque, e deixou o país, dedicando-se ao empreendedorismo social.
Ao “The Washington Post”, um amigo recordou-o como alguém muito especial. Enquanto a maioria das pessoas foge ao ouvir explosões e tiros, disse, o seu instinto ditava o contrário: “Saltava diretamente para as situações”.
É por isso que Kevin Yu não duvida que, ao ouvir os tiros e explosões fora do hotel, no Quénia, ele tenha sido “um dos que procurou de imediato ajudar”. Não fazia o seu género ficar sentado numa cadeira ou esconder-se numa casa-de-banho”, afirmou.
Jason Spindler foi um aventureiro, sempre em busca de realização pessoal. Por onde passou, deixou marca, garantem os familiares. No Peru, onde esteve como voluntário ao serviço do Corpo da Paz norte-americano, ajudou os agricultores locais a organizarem-se de forma a alcançarem mercados de maior dimensão, contou a mãe, que justificou a presença do filho em Nairobi precisamente por causa da atividade que desenvolvia, como conselheiro de negócios em mercados em vias de desenvolvimento.
Spindler foi o fundador, presidente e diretor executivo da I-Dev Internacional, uma empresa que fazia aconselhamento estratégico e financeiro. Ajudar os outros era o que mais gostava de fazer, repetem os amigos. “Vamos sentir muito a sua falta. E é muito triste que um jovem tão brilhante tenha sido levado pelo terrorismo”, desabafou a mãe, Sarah Spindler.
O atentado de terça-feira ao complexo DusitD2 - que inclui um hotel e uma área comercial - foi reivindicado pelo grupo Al-Shabaab. Num comunicado, os terroristas anunciaram que a ação foi “uma resposta” à decisão do Presidente dos EUA, Donald Trump, de reconhecer Jerusalém como a capital de Israel”. Pelo menos 21 pessoas morreram.
Quatro homens armados atiraram bombas sobre veículos no parque de estacionamento antes de se dirigirem ao lobby do hotel, onde um deles se fez explodir, detalhou a polícia. O ataque prolongou-se por 19 horas e só terminou na manhã seguinte. Os quatro homens foram abatidos pelas autoridades durante a intervenção policial.
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