As quatro nações árabes que estão a boicotar o Qatar diplomática e financeiramente só vão dar início a um diálogo com o país se este aceitar cumprir a sua lista de exigências e parar de “financiar o terrorismo”. Foi esta a declaração conjunta da Arábia Saudita, dos Emirados Árabes Unidos, do Bahrain e do Egito no final de um encontro este domingo em Manama, a capital do Bahrain.
“Os quatro países estão preparados para dialogar com o Qatar na condição de este anunciar a sua sincera disposição para parar de financiar o terrorismo e o extremismo, para se comprometer em não interferir nos assuntos externos de outros países e para cumprir as 13 exigências” apresentadas no início do mês, referiu o sheikh Khalid bin Ahmed al-Khalifa, chefe da diplomacia do Bahrain.
No âmbito do boicote imposto pelos quatro países ao Qatar há um mês, está suspenso todo o tráfego terrestre, aéreo e marítimo com a nação do Golfo, com o bloco a expulsar dos seus territórios todos os expatriados qataris. Na reunião de domingo, o grupo árabe reconheceu que os cidadãos do Qatar são os que estão a sofrer mais com o bloqueio financeiro e diplomático.
Recusa em negociar
Havia alguma esperança de que o bloco fosse amenizar as exigências apresentadas ao Qatar, entre elas a de que encerre a Al Jazeera, mas isso não aconteceu — com o ministro saudita dos Negócios Estrangeiros, Adel al-Jubeir, a recusar-se a renegociar a lista no encontro de domingo. “[As autoridades qataris] falam de tudo menos de como vão acabar com o seu apoio ao terrorismo”, declarou Jubeir, acusando o país de não estar a ser “genuíno”. “Estas exigências não são negociáveis, não podemos encurtar a lista.”
Reagindo às novas declarações, o chefe da diplomacia qatari, o sheikh Mohammed bin Abdulrahman Al Thani, voltou a acusar as quatro nações de estarem a violar leis internacionais com o boicote imposto no início de junho. “Existe uma clara conclusão [do encontro em Manama], de que só há uma política teimosa da parte dos países bloqueadores e uma recusa em admitir que estas ações são ilegais. É uma continuação de uma política de intransigência.”
“Penso que esta conferência de imprensa confirmou que continuamos no primeiro dia da crise”, defende Mahjoob Zweiri, professor da Universidade do Qatar, em conversa com a Al Jazeera. “Parece que eles não estão convencidos e estão a insistir na lista de exigências. Estão a afinar por outro diapasão. A comunidade internacional tem uma impressão muito positiva do Qatar no que toca ao combate ao terrorismo, mas estes quatro países não partilham essa opinião. Devemos esperar reações de Washington, da Alemanha e do Reino Unido esta noite [de domingo] ou amanhã [hoje]. Penso que [o secretário de Estado dos EUA, Rex] Tillerson vai ficar preocupado com o que ouviu hoje.”
Também em declarações ao canal qatari, John Yearwood, que dirige o Instituto Internacional de Imprensa, definiu a última tomada de posição do bloco como “profundamente desapontante”, ecoando o criticismo de organizações dedicadas à liberdade de imprensa face às ameaças que a Al Jazeera enfrenta.
“Condenamos nos termos mais forte possíveis a exigência de que o grupo de media seja encerrado. A Al Jazeera desempenha um papel. muito importante em todo o mundo na recolha de informações não-enviesadas junto dos cidadãos da região. E qualquer tentativa de a encerrar vai contra o livre fluxo de informação.”
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