Congresso dos EUA vai suspender venda de armas aos sauditas até crise com o Qatar estar resolvida
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Líder da comissão de relações externas do Senado diz que postura da Arábia Saudita e seus aliados sunitas põe em causa os esforços dos EUA no Médio Oriente
Em declarações aos jornalistas na segunda-feira, o senador Bob Corker acusou as nações do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG) de não terem aproveitado a cimeira de maio em Riade, que contou com a participação do Presidente norte-americano Donald Trump, para resolverem as suas diferenças, “tendo escolhido em vez disso o caminho do conflito”.
Nesse mesmo encontro, Trump terá negociado um acordo de venda de armas aos sauditas avaliado em mais de 110 mil milhões de dólares (mais de 98 mil milhões de euros) — um que, segundo um ex-espião da CIA que é analista do Instituto Brookings, “não existe”.
“Em vez disso”, apontou Bruce Riedel no início do mês, “há uma série de cartas de interesse ou de intenções, mas nenhum contrato. Muitos são ofertas que a indústria da Defesa acha que podem vir a interessar aos sauditas um dia destes. Mas até agora, nada foi entregue ao Senado para revisão. A Agência de Cooperação de Segurança e Defesa, o braço de venda de armas do Pentágono, chama-lhes ‘vendas planeadas’. Nenhum dos acordos identificados até agora são novos, todos começaram com a administração Obama.”
Trump esteve reunido com representantes do CCG em Riade no final de maio
“Antes de darmos mais autorizações durante o período de revisão informal da venda de equipamento militar letal aos Estados do CCG, precisamos de compreender melhor qual o caminho para resolver a atual disputa e voltar a unir o CCG”, disse ontem Corker. O Congresso tem o poder de bloquear vendas de armas a outros países durante um mês a contar do dia em que o Departamento de Estado notifica os legisladores sobre um dado acordo.
A coligação liderada pela Arábia Saudita e que integra países árabes como o Egito, os Emirados Árabes Unidos e o Bahrain anunciou o corte de relações com o Qatar a 5 de junho, mas só forneceu uma justificação formal para a decisão 18 dias depois, quando publicou uma lista de 13 exigências a serem cumpridas no prazo de dez dias.
Desde que a lista de 13 exigências foi divulgada, Tillerson assumiu uma postura mais prudente, dizendo que será “muito difícil” para o Qatar cumprir essas exigências em tempo útil e argumentando que existem “áreas importantes que servem de base ao diálogo em curso, que pode levar a uma resolução”.
Deste lado do Atlântico, as reações têm sido mais unidas e em tom de maior condenação à Arábia Saudita e seus aliados. Sigmar Gabriel, o ministro alemão dos Negócios Estrangeiros, já classificou a atual crise no Golfo como uma versão árabe da famosa série de televisão “House of Cards” — sublinhando que as exigências feitas ao Qatar são provocatórias, que o país está longe de ser o único responsável pelo financiamento de terroristas e que a Europa tem de fazer mais para infuenciar as visões da administração Trump sobre o Médio Oriente.
“Cabe-nos a nós, europeus, convencer os EUA a continuarem a apoiar o sistema internacional”, declarou ontem Gabriel num encontro do “think tank” Council on Foreign Relations. Nesse mesmo evento, o chefe da diplomacia iraniana disse que os países que apontam o dedo ao seu país e ao Qatar estão a tentar fugir às suas próprias responsabilidades e ao seu falhanço em responder às exigências dos seus povos.