Líderes da Transição

Débora: a guardiã dos oceanos que quer acabar com o lixo

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A fundadora da associação Oceanum Liberandum elegeu como missão de vida a eliminação dos resíduos guardados no fundo do mar e quer contagiar outros a seguirem os mesmos passos. Esta é uma das 20 personalidades portuguesas selecionadas pelo Expresso para integrar a lista daqueles que lideram a transição para um mundo mais verde. Acompanhe esta descoberta ao longo das próximas dez semanas com o projeto Líderes da Transição, do Expresso com apoio da EDP

Foi no final de 2021 que Débora Laborde e Rúben Galante se fartaram de assistir às notícias sobre a poluição dos oceanos, o aumento da temperatura global do planeta e à inação coletiva. Em vez de se resignarem, colocaram mãos à obra e fundaram a associação Oceanum Liberandum, uma organização que tem dedicado os últimos dois anos a promover ações de limpeza dos oceanos e das praias, não só em Portugal como em vários pontos do mundo. “É importante mostrar às pessoas o que realmente está nos oceanos, porque o que está debaixo de água não se vê. A realidade é que o fundo do mar tem milhares e milhares de toneladas de lixo”, explica em entrevista ao Expresso.

A jovem considera que o maior obstáculo à adoção de comportamentos mais sustentáveis não é a falta de interesse da população, mas antes o desconhecimento. “Começámos com as limpezas, mas agora, no final do ano, vamos ter uma nova abordagem. Vamos começar a filmar uma série de mini documentários em todo o mundo para mostrar a realidade de cada país”, acrescenta.

“Se nos unirmos e continuarmos a espalhar a palavra, acredito que chegaremos a 2030 com as temperaturas a descer, a vida marinha a aumentar e acho que conseguimos tornar o nosso planeta, aos poucos, um bocadinho mais verde”, perspetiva.

A energia e dedicação à causa são testadas todos os dias, mas é de persistência que se faz o caminho rumo a uma Terra cada vez mais verde e justa. Sobre a forma como olha para o futuro, Débora Laborde acredita que, “se mantivermos as nossas ações”, no final desta década teremos “muitas secas”, “escassez de água” e “fome em vários países”, com potencial para a criação de disputas por bens básicos à vida. Para evitar este cenário negro, é preciso ação. “Se nos unirmos e continuarmos a espalhar a palavra, acredito que chegaremos a 2030 com as temperaturas a descer, a vida marinha a aumentar e acho que conseguimos tornar o nosso planeta, aos poucos, um bocadinho mais verde”, perspetiva.

No entanto, para envolver os cidadãos nesta missão coletiva é preciso garantir condições de vida dignas, algo que a fundadora da Oceanum Liberandum diz estar em causa. As razões são “a realidade de guerra” que se vive em vários pontos do mundo, a inflação e os salários baixos que dificulta a intervenção ambiental. “A nossa preocupação é com o que nos afeta agora. Mas se conseguirmos tomar uma atitude quanto a isto, as coisas vão mudar e as pessoas vão sentir-se líderes da sustentabilidade”, defende.

IDEIA MICRO | MAIS REUTILIZAÇÃO

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Para Débora Laborde, há passos simples que a generalidade da população pode seguir de forma a contribuir para a redução do desperdício e da utilização de recursos. “Se pensarmos numa coisa tão simples quanto uma garrafa de plástico, a mentalidade das pessoas é ‘vamos ali e compramos uma garrafa porque temos sede’”, diz. Porém, é urgente mudar a forma como encaramos o consumo do quotidiano e trocar o descartável por outras soluções, como garrafas de vidro ou até, no supermercado, sacos de pano para transportar frutas, legumes e outros produtos. “Se conseguíssemos incutir isto no nosso dia a dia, também reduziríamos imenso o consumo único no nosso planeta”, aponta.

IDEIA MACRO | RECUPERAR A VENDA A GRANEL

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Numa perspetiva mais abrangente, a ativista advoga a implementação, nas grandes superfícies comerciais, de “sistemas de refill” e de venda a granel, nomeadamente nas leguminosas, especiarias e outros produtos semelhantes. “Muitas vezes não parte das pessoas não quererem adotar estas estratégias. Parte do difícil acesso a estas lojas ou até do custo-benefício não ser o mais adequado à realidade de cada um”, afirma.

Contudo, seguir este modelo e torná-lo a regra em vez da exceção poderia permitir reduzir “imenso” o consumo de plástico e outras embalagens, mas também seria uma forma de os supermercados liderarem pelo exemplo e incentivarem esta nova forma de consumir. “O sair da zona de conforto é, às vezes, o que nos faz ter aquelas atitudes que realmente fazem uma diferença no nosso planeta”, remata.

São académicos, empresários e ativistas com vontade de mudar o mundo para melhor, um passo de cada vez. O projeto Líderes da Transição, do Expresso com apoio da EDP, selecionou 20 personalidades portuguesas com percurso assinalável na jornada da sustentabilidade e vai partilhá-lo com os leitores até dezembro. Ao longo de 10 semanas, o Expresso publica as suas histórias, percursos e ambições para incentivar a transição para um futuro mais verde.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

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