Barómetros

“É preciso que a imigração não caia no gueto da extrema-direita”

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Quem o defende é João Vale de Almeida, que pede aos “partidos tradicionais” para abordarem a questão de forma séria para evitar consequências como a do Brexit, no Reino Unido. O antigo embaixador falava ontem num debate sobre o mais recente barómetro sobre a Europa da Fundação Francisco Manuel dos Santos, que decorreu na SIC Notícias

Nos últimos cinco anos, o tema da imigração passou a ser um dos principais temas que preocupam os portugueses, de acordo com os dados do Barómetro da Política Europeia divulgado ontem, quinta-feira, a propósito do Dia da Europa. Segundo o estudo da Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS), esta é uma questão importante para 62,8% dos inquiridos, que mostram insatisfação na forma como a União Europeia tem respondido ao desafio. “Vi na comparação dos estudos um crescimento de dez vezes em cinco anos ao nível da importância que os portugueses atribuem à imigração”, assinalou João Vale de Almeida durante o debate de ontem na SIC Notícias.

O antigo embaixador da União Europeia nos Estados Unidos, na ONU e no Reino Unido (já depois do Brexit) foi um dos convidados para analisar e refletir sobre as principais conclusões do barómetro conhecido esta semana. Participaram ainda Sofia Moreira de Sousa, representante da Comissão Europeia em Portugal, e Gonçalo Saraiva Matias, presidente da FFMS e especialista em migrações.

A satisfação da sociedade portuguesa com a adesão ao projeto europeu e ao Euro, mas também a maior confiança que atribuem às instituições europeias em detrimento das nacionais e a ameaça do populismo na Europa foram os principais temas em discussão. Conheça, abaixo, as principais conclusões:

O debate contou com (da esq. para a dir.) João Vale de Almeida (ex-embaixador da UE), Sofia Moreira de Sousa (Comissão Europeia) e Gonçalo Saraiva Matias (Fundação Francisco Manuel dos Santos)
José Fernandes

Preocupação com imigração aumentou dez vezes mais

  • Seis em cada dez portugueses considera que a UE não tem respondido eficazmente à questão da imigração, um sinal que o antigo embaixador João Vale de Almeida considera que deve “alertar” os partidos políticos nacionais. “É preciso que a imigração não caia no gueto da extrema-direita e que seja tratado de forma racional, de forma pedagógica, e que não iluda os portugueses”, diz
  • O estudo da FFMS reforça ainda que o euroceticismo se concentra sobretudo nas pessoas que revelam opiniões populistas e que “os partidos tradicionais não podem ignorar”. Vale de Almeida relembra que “o Brexit começou com a questão da imigração” e não em reação ao projeto europeu
  • Gonçalo Saraiva Matias considera que o aumento da preocupação dos portugueses em relação a este tema “não é, em si mesmo, um problema, porque isso pode querer dizer que estão mais conscientes da questão”. O especialista critica ainda o Pacto das Migrações, recentemente aprovado, em especial pelo sistema de distribuição dos requerentes de asilo e com os mecanismos da imigração regular. “Ficou sempre um pouco aquém do que poderia ter sido”, lamenta

Portugal é europeísta

  • Segundo o barómetro agora conhecido, nove em cada dez portugueses reconhece o benefício da adesão do país à UE, que vai já a caminho das quatro décadas. Sofia Moreira de Sousa considera que a participação do país neste projeto foi importante para consolidar a democracia conquistada no 25 de abril e não tem dúvidas de que “os portugueses são europeístas”;
  • “Contribui muito para isto o facto de a UE ter sido capaz de dar respostas efetivas e determinadas, no tempo certo, aos desafios que temos enfrentado nos últimos anos”, aponta, elencando temas como a pandemia, a crise energética ou os conflitos armados;
  • Sobre a falta de participação dos eleitores na escolha dos eurodeputados para o Parlamento Europeu e que se reflete numa abstenção superior a 60% em 2019, a representante da Comissão Europeia diz que “talvez as pessoas sintam que [a UE] é um dado adquirido”. “Não podemos tomar a UE como algo adquirido. Vimos acontecer com o Brexit e com muitas pessoas que não foram votar, muitos jovens, e porque não cuidarem deste projeto acordaram com um referendo que decidiu que o Reino Unido saiu da UE”, assinala.

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