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Portugueses confiam mais nas instituições europeias do que nas nacionais

Portugueses confiam mais nas instituições europeias do que nas nacionais
Sean Gallup

No Dia da Europa, que se assinala hoje, a Fundação Francisco Manuel dos Santos divulga os resultados de um estudo sobre a perceção da sociedade em relação à União Europeia

São já mais de 38 anos de casamento entre Portugal e a União Europeia (UE), uma relação com altos e baixos, mas que, de forma transversal, é muito valorizada pelos portugueses. À boleia do Dia da Europa, que se assinala a 9 de maio, a Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS) publica as conclusões do barómetro (veja AQUI) que mostra que a população nacional confia mais nas instituições europeias do que nas congéneres nacionais. “Em Portugal, a confiança nas instituições políticas europeias é largamente superior à nas nacionais, como o parlamento ou o Governo”, lê-se no relatório hoje divulgado.

Mas vamos aos números: 37% dos inquiridos diz confiar no Governo português, enquanto 65,5% deposita confiança na Comissão Europeia. Situação semelhante, com números muito expressivos, acontece no duelo entre a Assembleia da República (38,3%) e o Parlamento Europeu (66,1%). Ana Maria Belchior, investigadora e coordenadora do Barómetro da Política Europeia, associa esta disparidade a uma “maior responsabilização política” das instituições portuguesas.

84,8%

é a percentagem de portugueses que, segundo o Barómetro da Política Europeia 2024, considera que o seu voto nas eleições europeias conta para o destino da UE. Apenas 49% acredita que votar tem impacto nas eleições nacionais

“Este padrão de maior desconfiança a nível nacional não é recente. Em Portugal, a confiança nas instituições europeias tem sido tradicionalmente superior à confiança no Governo ou no parlamento”, assinala a também professora no ISCTE. A exceção acontece por norma em períodos de crise, como a vivida durante os anos da troika, em que a confiança na UE caiu para só voltar a subir em 2015. Em tendência positiva desde essa altura, os níveis voltaram a decrescer em 2022 à boleia da crise energética, do conflito na Ucrânia e do contexto económico marcado pelo aumento das taxas de juro. “É uma tendência que também se observa noutros países”, acrescenta Ana Maria Belchior.

Apesar destas pequenas oscilações, a satisfação dos portugueses com o projeto europeu é evidente: mais de 90% dos inquiridos garante que Portugal beneficiou da adesão à UE, o valor mais elevado de sempre. Em paralelo, também a adesão à moeda única é vista com bons olhos pela população, sendo que sete em cada dez pessoas considera a adoção do Euro positiva.

Um país europeísta

Sofia Moreira de Sousa, representante da Comissão Europeia em Portugal, não tem dúvidas de que “o sentimento de pertença e de confiança na UE" é sólido porque "a UE deu provas de encontrar respostas muito assertivas e necessárias às crises que vivemos” nos últimos anos. Da resposta pandémica, com a aquisição conjunta de vacinas, aos instrumentos financeiros como o Plano de Recuperação e Resiliência, passando pelo plano de resposta à crise energética ou o apoio à Ucrânia, a responsável considera que a UE mostrou capacidade de “liderança”.

83,3%

é a percentagem de portugueses que defende que a UE deve condicionar a atribuição de fundos comunitários aos Estados-membros com base no seu respeito pelos direitos humanos. Hungria é apontada como o principal exemplo de desrespeito

“Há este reconhecimento dos portugueses de que juntos conseguimos superar as dificuldades, conseguimos avançar e que se estivermos cada um a remar para o seu lado não vamos conseguir chegar a lado nenhum”, insiste Sofia Moreira de Sousa.

Embora o barómetro apresentado pela FFMS reforce a ideia de que a sociedade portuguesa gosta do projeto europeu e que lhe reconhece importância, há também temas em que os inquiridos gostariam de ver mais ação por parte da Comissão Europeia e do Parlamento Europeu. O principal motivo de insatisfação prende-se com a redução da pobreza e das desigualdades, um tema em que mais de 70% se mostra desagradado, seguido do conflito entre Israel e a Palestina, em que 63,6% das pessoas considera ser necessário fazer mais. Ao nível da imigração a partir de países terceiros, 62,8% dos inquiridos assume-se insatisfeito.

79,3%

dos inquiridos afirma de, forma acertada, que a Suíça não faz parte da UE. Embora os portugueses mostrem um conhecimento razoável sobre o projeto europeu, apenas 44,4% sabe o nome da presidente da Comissão Europeia e só 47,5% consegue identificar um eurodeputado português

“Tal significa que a par do posicionamento pró-europeu se regista uma tendência para a insatisfação como a política é conduzida a nível europeu”, realça a coordenadora do barómetro, que diz ainda que este tipo de questões pode ajudar “a explicar o afastamento dos portugueses em relação à UE no plano eleitoral”. E, neste campo, os números são preocupantes. A abstenção nas eleições europeias tem vindo a crescer desde 1999, ano em que 60% dos eleitores não foi às urnas. Em 2019, atingiu-se o máximo histórico de abstenção com 69,3%. “A mobilização para o voto é superior quando o que está em jogo é a definição de um governo cujos poderes executivos sobre a política nacional são potencialmente impactantes na vida dos indivíduos. Sem essa perceção, a mobilização é consequentemente menor”, explica Ana Maria Belchior.

As eleições europeias estão marcadas para 9 de junho, em Portugal, e este ano será possível votar em qualquer local do país. A ideia é facilitar o processo para evitar o crescimento da abstenção.

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