Portugal nunca esteve tão presente nos supermercados nacionais e nos retalhistas espalhados pelo mundo, e o trabalho dos últimos anos reflete o foco de um esforço de produção nacional centrado na exportação, e de um sector agroalimentar que aposta na diferenciação pela qualidade. É o caso de produtos como a pera rocha ou a maçã reineta de Alcobaça, que têm uma visibilidade global cada vez maior.
Um trabalho que tem não só a marca do retalho português mas também dos nomes internacionais que operam em Portugal, como é o caso do Lidl, que celebrou 30 anos de presença em território nacional com a conferência “Portugal Exporta: o futuro são os nossos produtos”. Organizada pelo retalhista alemão com o Expresso como media partner, foi palco de debates e da apresentação de um estudo realizado pela Forvis Mazar sobre o seu papel no crescimento das exportações portuguesas ao longo destes anos.
As exportações facilitadas pelo Lidl passaram de €1 milhão de euros em 2014 para €163 milhões no ano transato, traduzindo um crescimento médio anual de 62%. Se formos à soma acumulada da última década, o valor dos produtos portugueses exportados ascendeu a €773 milhões. Em 2024, as vendas apoiadas pelo retalhista alemão representaram 1,9% do total das exportações portuguesas de produtos alimentares para a União Europeia, o que representa uma subida face aos 0,2% registados em 2016. O estudo realça ainda que, por cada €1, foram gerados €1,88 na economia nacional, com influência direta de 100 fornecedores nacionais, que exportam mais de uma centena de artigos, disponíveis em todos os mercados onde o Lidl está presente. Por outro lado, 78% das exportações são de pequenos e médios produtores.
A conferência foi apresentada por Rodrigo Pratas, jornalista da SIC, e contou com a presença de Gonçalo Lobo Xavier, diretor geral da APED; Maria Estarreja, diretora executiva do Retail Innovation Lab da Católica-Lisbon; Vanessa Romeu, diretora de Corporate Affairs do Lidl Portugal; Bruno Pereira, administrador de compras do Lidl Portugal; Pedro Silva, head of consulting da Forvis Mazars; Alexandra Borges, diretora geral de compras do Lidl Portugal; Frederico Falcão, presidente executivo da ViniPortugal; Gonçalo Santos de Andrade, presidente da Portugal Fresh; Paulo Rios Oliveira, administrador da AICEP; João Vieira Pereira, diretor do Expresso; Augusto Mateus, ex-ministro da Economia e professor universitário; e João Rui Ferreira, secretário de Estado da Economia.
Conheça as principais conclusões.
- O retalho em Portugal tem tido um papel preponderante no aumento de visibilidade dos produtos portugueses dentro e fora de portas, com impacto no crescimento da produção nacional e na atratividade do sector.
- O "retalho é uma forma de apoiar os produtos locais", afirma Maria Estarreja, com a académica a falar de uma "tendência crescente", em que "80% das pessoas" afirma "comprar marcas próprias [dos retalhistas]".
- "Portugal é o país da Europa com maior consumo de marcas próprias", revela Vanessa Romeu.
- Para Gonçalo Lobo Xavier, "hoje trabalhar no retalho é uma oportunidade para uma carreira" no que representa o ultrapassar de "um estigma. Ou isso ou ir para as obras", relembra de forma bem humorada, numa frase que era comum.
- "O retalho é muito mais do que estar nas caixas do supermercado", reforça, para de seguida mencionar "exemplo de resiliência" que o sector deu "durante a pandemia e o apagão".
- Outra tendência "é a sustentabilidade", afirma Maria Estarreja, com as pessoas "disponíveis a pagar 12% a 15% acima do preço, em média, por sustentabilidade" e "acima de 20% na parte alimentar".
- "Mais que triplicamos os valores das exportações [de frutas, legumes e flores] nestes 14 anos", refere Gonçalo Santos de Andrade.
- Agora, para dar o próximo passo, "tem que haver obras de modernização e perder vergonha em falar do nome das coisas". Para o responsável, o "país tem que ter ambição e fazer as coisas" com um "equilíbrio entre sustentabilidade ambiental e económica". Campo onde a União Europeia tem estado a dar muitos tiros nos pés".
- "Este é o Portugal verdadeiro", atira Paulo Rios Oliveira, que explica da seguinte forma o papel da AICEP: "Não nos compete ser empresários. Se não atrapalharmos às vezes já não é mau". Defende o administrador que Portugal é "demasiado pequeno para ser odiado". Por isso, enquanto marca, há "que ir mais longe" e que "os nossos produtos" não competem "em desigualdade com outros lá fora".
- Apesar dos sinais positivos dados em vários campos, a "economia portuguesa é a única europeia que investe hoje menos do que na viragem do século", aponta Augusto Mateus. É necessário "aumentar drasticamente a capacidade das nossas empresas e abandonar a ideologia que o grande é pior que o pequeno". Com a certeza que "se não exportamos mais, ficamos presos na dimensão do nosso país".
- “Conteúdo importado das nossas exportações não devia ter subido”, como aconteceu, defende, para acrescentar que “não estamos a exportar suficiente valor acrescentado”. Se é certo que “os resultados são muito bons e apreciáveis em certos sectores, como o agroalimentar”, o “país no seu conjunto precisa de fazer mais”. Em suma, “tem que se exportar mais riqueza produzida".
- Lembra João Rui Ferreira que “para as empresas se internacionalizarem, a primeira etapa é sempre as exportações”, com destaque para o "papel de escala" e de "grande empregador".
- O governante realça também o "sentido grande de responsabilidade de transferência de valor ao longo da cadeia" e refere o trabalho do Governo na ótica da "simplificação e desburocratização da vida das empresas".
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