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“Vamos fazer dois pilotos de rastreio ao cancro do pulmão”

Novidade foi avançada por Ana Povo, secretária de Estado da Saúde, na apresentação dos resultados do Estudo “A Saúde do Homem”, que decorreu esta manhã no Palco Impresa. O projeto do Expresso foi conduzido pela GfK Metris e contou com o apoio da Johnson & Johnson Innovative Medicine. Conheça algumas das principais ideias e conclusões

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O Estudo “A Saúde do Homem”, hoje apresentado, procurou dar voz à população masculina, numa área onde a prevenção e o diagnóstico precoce continuam a ser os grandes desafios. A investigação baseou-se em duas sondagens: uma realizada à população em geral, para identificar as doenças que mais preocupam os homens; e outra mais específica, dirigida a homens que vivem com doenças crónicas.

Durante a apresentação, sublinhou-se a importância de quebrar o silêncio em torno da saúde dos homens e de reforçar a informação sobre prevenção, diagnóstico e tratamento - este projeto incluiu ainda uma série de entrevistas a especialistas de várias áreas, desde médicos, psicólogos, investigadores e outros profissionais com experiência direta na área da saúde masculina.

O objetivo é lançar um debate público e contribuir para políticas de saúde mais ajustadas às necessidades da população masculina em Portugal. Quanto ao estudo, revela que muitos homens só procuram o médico... em último caso, ignorando até sinais precoces das doenças.

Revelação de Ana Povo

Ricardo Costa (Chief Content Officer do Grupo Impresa) abriu os trabalhos e passou a palavra a Ana Povo (secretária de Estado da Saúde), que na sua intervenção, quando falava em rastreios, lembrou que “o investimento médio nos rastreios é de €50 milhões/ano”. A médica admitiu que “estamos disponíveis a aumentar esse valor“e que “o orçamento de 2026 vai ter, pela primeira vez, uma rubrica própria”, pois terá “um orçamento programático para a promoção e prevenção da saúde e todos os ganhos que isso implica”.

Ana Povo revelou então que “vamos fazer dois pilotos de rastreio de cancro do pulmão, que é doença de homens e de mulheres. “E vamos começar como pilotos para perceber a avaliação do ganho global da saúde da população, para depois vermos se irá ser vertida como uma norma para médicos de medicina geral e familiar, ou se iremos mesmo alargar a âmbito nacional, tal como é o rastreio do cancro da mama. Estamos a trabalhar, não posso dizer quando é que vai mesmo começar, mas já estão escolhidos os dois pilotos e estamos diariamente a trabalhar nisso”, acrescentou.

Seguiu-se um vídeo com vários testemunhos de figuras de vários quadrantes e António Gomes (diretor-geral GfK Metris) apresentou depois o Estudo “A Saúde do Homem”. Houve então lugar para uma mesa redonda que contou com a participação de Luís Cunha Miranda (coordenador do Observatório do Ato Médico – Ordem dos Médicos), Sónia Dias (diretora da Escola Nacional de Saúde Pública), Eduardo Netto (vogal da direção do Programa Nacional de Doenças Oncológicas) e José Graça (Plataforma Saúde em Diálogo – vice-presidente da Associação Portuguesa de Doentes da Próstata). Após algumas intervenções do público presente, os trabalhos foram encerrados por Filipa Mota e Costa (diretora geral da Johson&Johnson Innovative Medicine).

Algumas das principais conclusões:

Números e percentagens

  • Apenas 8% visitam o médico devido a campanhas de saúde, embora estas comecem a ter impacto: 74% das consultas motivadas por prevenção resultam delas. Entre os participantes, 81% já tiveram uma doença, mas 35% não adotaram cuidados adicionais. 
  • Quanto às doenças que mais preocupam, destacam-se gripe (52%), doenças cardíacas (34%) e depressão (24%). Barreiras culturais, económicas e literacia limitada contribuem para atrasos no diagnóstico.
  • O projeto lança luz sobre vários pontos: apenas 26 % dos inquiridos sentem-se pessoalmente preocupados com os hábitos que afetam a saúde; 21 % reconhecem impacto direto na autoestima ou desempenho profissional - a maior barreira apontada na relação com o médico de família são os tempos de espera para marcação de consulta .

Recados

  • “Choca-me e preocupa-me que as pessoas com HIV ainda se sintam estigmatizadas”, comentou Ana Povo.
  • É imperioso definir estratégias para aumentar a literacia em saúde – esta foi, de resto, uma ideia defendida por todos.
  • “Há estigma em relação ao cancro da próstata”, afirmou José Graça. “Normalmente, o diagnóstico é feito já num estado avançado da doença”, lamentou, mas reconheceu que a população mais jovem “está mais atenta” a este problema e que muitas vezes “são as mulheres a fazer perguntas porque o homem não tem coragem”.
  • Luís Cunha Miranda defendeu uma política na saúde “que não mude” em cada mudança de Governo. “Precisamos de um plano estratégico na saúde”, afirmou.

Pistas

  • "Estes dados são muito importantes, criam evidência que nos mostra onde devemos ter mais atenção”, afirmou Sónia Dias, que defendeu que é preciso encontrar estratégias para uma população saudável. A mesma especialista destacou como “ponto positivo” o facto de os profissionais de saúde serem a principal fonte de informação e realçou a necessidade de “educar” as faixas etárias mais jovens. “Há cada vez mais doenças crónicas na população mais jovem”, disse.
  • José Graça lembrou que “os comportamentos de cada um” são determinantes e apontou o dedo aos excessos, ao álcool, ao tabaco e... à dificuldade do homem em ir ao médico.
  • Luís Cunha Miranda espera que este Estudo não seja colocado na gaveta: “Espero que não seja tipo flor, aparece e desaparece”. “Gostava que houvesse uma linha para continuar a investigar e que seja transladado para a prática clínica”, comentou Eduardo Netto.

Este projeto é apoiado por patrocinadores, sendo todo o conteúdo criado, editado e produzido pelo Expresso (ver Código de Conduta), sem interferência externa.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

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