A edição de 2025 do Data With Purpose Summit abriu com uma talk de Miguel de Castro Neto, diretor da NOVA IMS
José Fernandes
A edição de 2025 do Data With Purpose Summit abriu com uma talk de Miguel de Castro Neto, diretor da NOVA IMS
José Fernandes
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O equilíbrio entre as capacidades da inteligência artificial, assim como alguma intuição e bom senso, contribuirá para evitar os vieses da máquina e os juízos de valor humanos. Modelos colaborativos entre os dois elementos desta equação farão a diferença no futuro naquela que é uma das conclusões da terceira edição do Data With Purpose Summit, que decorreu hoje na reitoria da NOVA IMS, e a que o Expresso se juntou como media partner
Fátima Ferrão
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Sob o mote “Mindshifting - for Better Lives”, e com um programa dividido em três partes - dos dados à ação, inovação no centro da transformação, e novas vias para o progresso -, a terceira edição do Data With Purpose Summit (DWP), organizada pela NOVA Information Management School (NOVA IMS), reuniu um conjunto de empresários, académicos e líderes do sector público para uma partilha de experiências e de perspetivas sobre a utilização dos dados como fonte essencial para o desenvolvimento da inteligência artificial (IA), nos mais diversos sectores.
Desde logo a educação, pilar fundamental para a atualização de competências, obrigatória num mundo em mudança. Um sector que está, ele próprio, a atravessar uma transformação profunda, “com os dados e a inteligência artificial no centro dessa mudança”, assegura Miguel de Castro Neto. O diretor da NOVA IMS acrescentou, durante a sessão de abertura, que, apesar disso, o grande desafio não é tecnológico, mas sim humano. "A tecnologia não deve substituir, mas sim potenciar. Por isso, adotámos uma abordagem disruptiva, baseada em experiências de sucesso internacionais e numa visão pedagógica que abraça o novo”.
Miguel de Castro Neto falava do modelo educativo adotado pela NOVA IMS – o EDGE – que combina “a metodologia certa, uma experiência de aprendizagem diferenciadora e decisões baseadas em dados”. Na prática, isto significa usar IA generativa para criar aulas mais interativas, personalizadas e eficazes. Os alunos deixam de estar apenas a ouvir – participam, exploram, experimentam - e tudo isto acontece em salas de aula imersivas, híbridas, e centradas no estudante. Mas, sublinha o diretor, “mais do que os espaços ou as ferramentas, o que importa é a visão: formar pessoas preparadas para um mundo em mudança, com ética, criatividade e capacidade para resolver problemas reais”.
Ética antes da tecnologia
Num contexto de rápida transformação digital, a convergência entre ciência dos dados, IA e ciências sociais levanta desafios éticos e oportunidades sem precedentes. “Estamos a viver a 4ª revolução industrial, liderada pela IA, mas a grande questão é como isto melhora a vida das pessoas?”, questionou Martin Anthony. Para o professor da London School of Economics, e keynote speaker nesta conferência, a tecnologia não é suficiente.
Na sua opinião, é crucial que “os sistemas sejam transparentes e compreensíveis, para que, quando o ‘computador diz não’, possamos explicar porquê”. Questões como a privacidade e o enviesamento algorítmico exigem uma abordagem rigorosa, pois “temos de estar convencidos de que os dados com base nos quais foram treinados são válidos”.
Para garantir que a IA serve a sociedade, Martin Anthony defende que devemos manter o objetivo humano no centro das atenções e que a ética deve ser integrada no desenvolvimento da IA desde o início e não tratada como uma reflexão tardia. “O acesso deve ser sustentável, equitativo, positivo para a sociedade, e usar um ‘otimismo sóbrio’. O professor sublinha ainda que o progresso só será benéfico se houver uma colaboração entre governos, indústria e comunidades, e alerta: “O futuro não é sobre IA contra humanos, mas IA com humanos”.
O Data With Purpose Summit contou com um conjunto de oradores, de organizações públicas e privadas, nacionais e internacionais, e da academia que pode consultar aqui.
Conheça outras conclusões:
Dos dados à ação
“Fazer as questões certas é essencial”, afirma Ivo Bernardo. O cofundador da DareData defende que o "mestre dos dados" é a ‘personagem’ que está a conduzir a mudança e as transformações nas empresas para democratizar a utilização dos dados, e para que sejam usados da forma adequada, para melhorar as decisões. Este é um processo difícil pois, sublinha, “é mais fácil ficar afogado em dados”.
A velocidade de aprendizagem é uma competência essencial, que pode aprender-se. “É preciso ser um high-agent”, diz Filip Petrovski. Para o CEO da Data Masters, isto significa ser capaz de encontrar soluções rápidas e de descomplicar.
O impacto de dados de qualidade é enorme, mesmo em empresas de pequenas dimensões, defende Frederico Jesus, cofundador da Home Sweet Sushi.
Utilizar os dados para juntar conhecimento comunitário e para dar consistência às sociedades é a missão do projeto Rede Rua, fundado por Callie Wentling. “Trata-se de tornar os dados mais acessíveis à sociedade”, explica.
“O problema não são os algoritmos, mas conseguir fazer a engenharia de dados para criar os modelos certos”, defende Pedro Simões Coelho. O professor na NOVA IMS e responsável pelo Laboratório de Políticas Públicas baseadas em dados, elencou algumas das vantagens da utilização dos dados no sector público através de alguns projetos que está a acompanhar.
Na vertente da contratação pública, Bruno Damásio revela que a grande revolução não foi a tecnologia, mas o que foi feito com ela. O professor na NOVA IMS explica que foi criado um framework capaz de agregar dados que permitem fazer uma gestão mais eficiente de toda aquela estrutura.
Inovação no centro da transformação
Personalização: 75% dos consumidores espera ser reconhecido pelas suas preferências. Contudo, “a interação com chatbots ainda não é uma preferência da maioria, e publicidade gerada por IA não está a ser bem-sucedida”, revela Anna Mattila, professora na Pennsylvania State University.
A IA permite transformar dados em informação, e esta em políticas públicas. A convicção de Ricardo Batista Leite materializa-se na utilização de machine learning como potenciador para processo de transformação no sector da saúde. Tecnologia que servirá, defende o CEO da HealthAI, para reduzir a carga de doença que está a destruir o SNS.
“Saúde pública deve trabalhar com dados e usar a IA para maior eficiência”, diz Sónia Dias. A diretora da NOVA National School of Public Health alerta, contudo, para a falta de preparação que ainda existe na força de trabalho.
IA permite aliar múltiplas dimensões, mas não deve descurar dimensão humana. “É um trabalho que exige planeamento estratégico, sempre ligado às necessidades”, aponta Miguel Arriaga, da Direção-Geral da Saúde (DGS).
“A melhor IA é aquela que o utilizador nunca vê”, afirma Vitor Manita. O responsável pela área de GenAI & Machine Learning na Loka, recorda a redução do número de horas dedicadas a burocracia clínica como um dos grandes benefícios da introdução da IA na saúde. Mas, reforça, “é preciso começar pelo problema e não pela tecnologia”.
Os Large Language Models (LLM) estão a fazer emergir um 'reconhecimento social' que lhes permite pensar e aprender sobre os utilizadores. “Os LLM estão a fazê-lo para decidir como tratar cada utilizador”, explica Fernanda Viégas. A professora em Harvard, e cientista na Google, participa num projeto que cria modelos de utilizadores com vista a inverter esta avaliação enviesada da IA.
Novas vias para o progresso
Os modelos de linguagem têm um grande potencial, mas a sua utilidade prática ainda está a ser explorada, tal como aconteceu com a internet nos anos 90. “A qualidade dos resultados dos LLM depende da forma como interagimos com eles”, garante Fernando Bação. O professor na NOVA IMS acredita que uma interação mais intensa e desafiadora é mais eficiente do que tratar o modelo como um oráculo.
“A interligação de ciências do mar com o espaço e ciências de dados é fundamental para o futuro da economia azul em Portugal”, defende Ruben Eiras. O Secretário-Geral do Fórum Oceano revela que a área de 'tecnologia azul e observação' está em pleno crescimento, com investimentos significativos. “A tecnologia é crucial para a gestão dos oceanos, resolução de problemas climáticos, segurança e defesa, e para o desenvolvimento de atividades como aquacultura e eólica offshore”, acrescentou.
A implementação de novas capacidades na Força Aérea leva tempo (8 a 10 anos), e há desafios éticos e a necessidade de formar líderes para o futuro. A explicação, do Major-General João Carlos de Bastos Jorge Gonçalves, subchefe do Estado-Maior da Força Aérea, destaca o trabalho que está a ser feito para o desenvolvimento de uma força de quinta geração, que atua em múltiplas dimensões e domínios (terra, ar, mar, ciber e espaço) com grande quantidade de informação.
“A economia espacial e a conquista de territórios orbitais são o futuro, mas exigem adaptação, tempo e preparação genética para a vida no espaço”, diz Ricardo Conde. O presidente da Agência Espacial Portuguesa alerta para a existência de uma agenda que ameaça a humanidade, incluindo a questão climática e a necessidade de transformação digital. “O espaço é fundamental para aumentar a resiliência e garantir a soberania”.
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