Próxima paragem. Transportes gratuitos para todos?

Grande Lisboa. Gratuitidade é um incentivo a deixar o carro em casa, mas autarcas defendem que também é preciso mais articulação dos horários e novas ligações que sirvam as pessoas
Grande Lisboa. Gratuitidade é um incentivo a deixar o carro em casa, mas autarcas defendem que também é preciso mais articulação dos horários e novas ligações que sirvam as pessoas
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O vice-presidente da Câmara de Cascais, Nuno Piteira Lopes, não tem dúvidas: “O transporte na Área Metropolitana de Lisboa (AML) será, tendencialmente, gratuito.” E não é o único a pensar assim. A secretária de Estado da Mobilidade, Cristina Pinto Dias, concorda e ambos têm exemplos de que esse é um caminho que já está a ser feito, inclusive fora da Grande Lisboa. Em Cascais, o transporte rodoviário é gratuito e desde o início deste ano que todos os jovens até aos 23 anos, estudantes ou não, podem ter um passe gratuito em qualquer zona do país.
Contudo, numa decisão destas é preciso ter atenção às palavras. “Veja o passe ferroviário verde que custa €20 para andar de norte a sul do país, menos no Alfa Pendular e nos urbanos. No tendencialmente gratuito, é disto que estamos a falar”, diz a governante.
É também preciso perceber o que realmente implica não pagar nos transportes, porque a despesa terá de ser suportada por alguém. No caso da AML, sugere Nuno Piteira Lopes, “uma percentagem seria [suportada] pelas câmaras”, à semelhança do que acontece com o passe Navegante, que, para manter o mesmo preço de €40 há seis anos, custa €90 milhões às 18 autarquias da Grande Lisboa, lembra Fernando Ferreira, presidente da Câmara de Vila Franca de Xira.
A outra percentagem teria de ser paga “pelo Orçamento do Estado (OE)”, acrescenta Nuno Piteira Lopes, mas não uma despesa direta, como, por exemplo, os €280 milhões dos passes gratuitos até aos 23 anos. Seria “por um imposto cobrado aos utilizadores de carros”, sugere, até porque o objetivo é incentivar o uso do transporte público.
Contudo, para a presidente da Câmara de Almada, Inês de Medeiros, não basta ter preços baixos para as pessoas deixarem o carro em casa. E Nuno Piteira Lopes sabe-o bem. “O transporte é gratuito em Cascais, e para mim não é aceitável que só 40% dos jovens vão de autocarro para a escola”, repara.
Diz Inês de Medeiros que as pessoas precisam de sentir que o transporte público “é mais vantajoso”, não só pelo custo mas também pelo tempo que demoram a deslocar-se. E os oito autarcas presentes na conferência que a Transportes Metropolitanos de Lisboa (TML) organizou esta semana concordam que é nisso que é preciso trabalhar: numa maior articulação de horários e fiabilidade dos serviços. Porque não faz sentido “ter o autocarro a chegar às 10h13 e o comboio a sair às 10h10”, vinca o vice-presidente da Câmara de Cascais. Ou demorar mais tempo de transportes do que de carro a fazer o percurso de Lisboa a Sesimbra, repara o presidente da Câmara, Francisco Jesus.
Para corrigir estes entraves “é preciso ter transporte coletivo em sítio próprio [faixas bus] e ter uma rede de interfaces”, repara Faustino Gomes, presidente da TML. Mas também novas ligações, como a expansão do metro de Lisboa até Alcântara e a ligação do Rato ao Cais do Sodré ou a extensão do Metro Sul do Tejo (MST) à Costa de Caparica e à Trafaria, ambos em curso.
Mas também a possibilidade de expansão do MST a Alcochete, passando pelo Seixal, Barreiro e Moita, a reconversão do SATU, em Oeiras, para ligar as linhas ferroviárias de Cascais e Sintra, um serviço de elétrico ou de autocarro elétrico em faixa própria entre Algés e a Reboleira, a ligação de Sesimbra aos comboios, no Fogueteiro ou em Coina, a extensão do futuro metro de superfície entre Odivelas e Loures (Linha Violeta do Metro de Lisboa) até Vialonga ou a criação de uma faixa só para autocarros na A5.
Tudo projetos que recebem luz verde dos autarcas, mas que garantem não ser possível fazerem sozinhos, sem a Administração central.
INTEGRAÇÃO É a marca que junta quatro operadores de transportes da Grande Lisboa: Viação Alvorada (Amadora, Oeiras e Sintra), Rodoviária de Lisboa (Loures, Odivelas, Mafra e Vila Franca de Xira), Transportes Sul do Tejo (Almada, Seixal e Sesimbra) e Alsa Todi (Alcochete, Moita, Montijo, Palmela e Setúbal). Não inclui a Carris, a MobiCascais e a Transportes Colectivos do Barreiro.
716
mil foi o número de passageiros transportados pela Carris Metropolitana a 26 de março, um novo recorde diário desde que entrou em operação, em 2022. Segundo a Transportes Metropolitanos de Lisboa (TML) — que gere a Carris Metropolitana —, o recorde registado na semana passada é representativo do crescimento da procura, que aumentou 24% de 2023 para 2024.
SIMPLIFICAÇÃO O passe Navegante foi criado em abril de 2019 com o objetivo de simplificar o sistema de bilhética de todos os tipos de transportes da Área Metropolitana de Lisboa (AML), que se estende de Setúbal a Mafra. Substituiu os diferentes passes que existiam nas várias empresas de transportes desta região, como o antigo L123, em Lisboa.
560
milhões foi o número de viagens realizadas em toda a rede de transportes da AML em 2024, mais 23% do que no ano anterior. Incluem-se os autocarros da Carris Metropolitana, da Carris, em Lisboa, da MobiCascais e da Transportes Colectivos do Barreiro, os barcos da Fertagus e da Soflusa, o Metro de Lisboa e o Metro Sul do Tejo e os comboios urbanos e suburbanos da CP
EXPANSÃO As quatro empresas de transportes que operam debaixo da marca Carris Metropolitana adicionaram 2800 novas ligações rodoviárias à sua operação no dia 1 de abril, perfazendo agora um total de perto de 21 mil ligações, revela a TML. Segundo dados fornecidos por esta empresa, as quatro transportadoras totalizam ainda 1700 autocarros, 4000 motoristas e 12.600 paragens.
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