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Acelerar para ficar na corrida

Nuno Costal fez o enquadramento de Portugal no estudo global e defendeu que as organizações têm de definir uma estratégia para a GenAI
Nuno Costal fez o enquadramento de Portugal no estudo global e defendeu que as organizações têm de definir uma estratégia para a GenAI

Transformação. Estudo global sobre inteligência artificial generativa refere “alguma lentidão” no mercado português. É preciso arrepiar caminho para não perder competitividade tecnológica

Antes de mais: o que é a inteligência artificial generativa? A GenAI é um tipo de IA capaz de criar novos conteú­dos, como texto, imagens, música ou até código, com base em dados previamente aprendidos. Em vez de apenas classificar ou reconhecer padrões, ela gera algo original e novo, imitando a complexidade e a criatividade humana, mas com a ajuda de modelos matemáticos e algoritmos avançados. Algumas empresas têm usado GenAI para criar conteúdo criativo e personalizado para campanhas de marketing, anúncios personalizados, slogans e descrições de produtos com base em dados dos consumidores.

O estudo “Global GenAI Report — How organizations are mastering their GenAI destiny in 2025” revela que Portugal está perfeitamente alinhado com estas tecnologias emergentes, ainda que “alguma lentidão” no mercado português alerte para a possibilidade de o país poder perder alguma competitividade na matéria.

“Não se vê uma diferença significativa na forma como Portugal olha para a GenAI como elemento transformador e capaz de fazer evoluir os nossos modelos de negócio. O que vemos de diferente é o ritmo de adoção, um caminho mais lento, uma expectativa mais baixa para os impactos esperados em 2025”, alerta Nuno Costal, que apresentou a situação do país no estudo e é principal director NTT Data Portugal: “O nível de definição para aquilo que é uma estratégia para abordar a GenAI como um todo é mais baixo relativamente àquilo que o estudo global demonstra, e também temos uma preocupação maior com a dúvida, se as pessoas que temos são ou não capazes de lidar com a transformação num curto prazo.”

O especialista defende ainda que “Portugal tem menos espaço para falhar ou para fazer investimentos que não tenham retorno. Portanto, muito foco naquilo que é o retorno imediato e naquilo que é mostrar que a tecnologia tem valor, não perder o momento, e lidar corretamente com o que são as preocupações manifestadas, nomeadamente o enquadramento regulatório. E também a resolução dos problemas associados ao legado tecnológico, que é considerado como uma das fontes inibidoras em Portugal para a adoção destas tecnologias”.

Nuno Costal realça a importância de se ter uma estratégia bem definida nesta área e que em Portugal “apenas 62% dos inquiridos versus 83% em termos globais” admitiram ter o caminho a seguir planeado. “É fundamental que a estratégia não viva isolada dentro de uma organização, que seja parte intrínseca daquilo que é um plano e estratégia de negócio como um todo”, diz. “É altamente relevante trazermos as pessoas para bordo, são elas que vão utilizar estas tecnologias”, alega.

Líderes investem em GenAI

Nas conclusões globais, o estudo mostra que quase todos os líderes inquiridos já investiram em GenAI (83% já criaram mesmo equipas “especializadas” ou “robustas” nesta área). Em relação a “Estratégia e Transformação”, o estudo mostra que 97% dos CEO antecipam um impacto significativo desta tecnologia, enquanto 70% dos inquiridos consideram que esta mudança será rápida e terá um impacto substancial em 2025. Já 83% declaram ter uma estratégia de IA Generativa bem definida.

“Para obter retorno da inteligência artificial generativa não é suficiente experimentar. É preciso levar essa estratégia a um nível que tenha impacto em toda a organização. Uma das coisas que vimos, sobretudo a nível de executivos, é que depois do tempo de experimentação, dois anos, dois anos e meio, estão a começar a entender que a GenAI vai ter um poder transformador muito alto, mas não podem esperar o retorno num curto prazo, mas sim a médio ou longo prazo”, diz David Pereira David Pereira, chief GenAI officer, NTT Data Europe and Latin America. “É necessário integrar a GenAI com o resto da infraestrutura. E é muito relevante acompanhar o talento. Não só proporcionar formação, mas saber que disponibilidades temos, que capacidades nos faltam e, sobretudo, como se vai evoluir para se preparar para o impacto da GenAI”, acrescenta o espanhol.

“68% dos inquiridos a nível global indicaram que se sentem entusiasmados e impressionados com o potencial transformador da IA Generativa”, lê-se ainda nas conclusões globais do estudo.

Os números globais do estudo sobre a IA generativa

Abrangeu 34 mercados em cinco regiões e 12 sectores industriais. Mais de dois mil “tomadores de decisão” foram entrevistados


87%

dos inquiridos em Portugal afirmaram que os colaboradores não têm as competências necessárias para trabalhar com IA generativa (GenIA), versus 67% do estudo global. Conclui-se no “Global GenAI Report — How organizations are mastering their GenAI destiny in 2025” que a disseminação de políticas de utilização de soluções de GenIA é quase inexistente, com 96% dos portugueses a confirmarem esta ideia (72% no global)


90%

referem, no capítulo da “Inovação e Tecnologia”, que a infraestrutura herdada dificulta a aplicação eficaz da GenIA e 96% dos CIO (chief information officer) e CTO (chief financial officer) afirmaram que as soluções baseadas na cloud são o método mais prático para suportar aplicações de GenIA


81%

confirmam, em “Ética, Segurança e Sustentabilidade”, que é muito importante que os líderes ajudem os colaboradores a equilibrar inovação e responsabilidade. Já 72% disseram que a sua organização não possui uma política de utilização de GenIA para colaboradores, incluindo orientações sobre a proteção de propriedade intelectual


45%

dos CISO (chief information security officer) expressaram preocupações em relação à tecnologia, assumindo que se sentem “pressionados, ameaçados ou sobrecarregados”, e 82% afirmaram que as regulamentações governamentais sobre IA são pouco claras, o que dificulta as estratégias de GenIA

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