Projetos Expresso

O triunfo do robô e da produção biológica

Alcino Pires, administrador da Geosil, exibe o galardão do prémio Agricultor do Ano
Alcino Pires, administrador da Geosil, exibe o galardão do prémio Agricultor do Ano
Tomás Almeida

Instituto e empresa nortenhos vencem com projetos que usam a inovação para enfrentar os desafios na agricultura. Secretário de Estado elogiou o que se faz em Portugal e lamentou que sejam cada vez menos os interessados pelo mundo rural

Se alguém pensar que inovação na agricultura é só sobre cultivar novas variedades de tomate ou batata ou aplicar fertilizantes de forma mais eficiente, está redondamente enganado. A tecnologia está a invadir os campos a uma velocidade impressionante e a ideia de que é um mundo simples e que a tecnologia ficou para trás está absolutamente errada. Quem é que disse que o agricultor não pode ser também um especialista em drones, inteligência artificial ou robôs? O futuro da agricultura já chegou — e parece que é mais tecnológico do que nunca.

E isso pode até explicar a escolha do Projeto Modular E, do INESC TEC, para vencedor do Prémio Inovação Agricultura 2024, atribuído pela Timac Agro. “Este projeto nasce num laboratório de robótica para a agricultura e floresta de precisão, dentro do instituto de investigação, que é privado mas sem fins lucrativos, e que se foca essencialmente nestas tecnologias. É aí que temos vindo a desenvolver este robô”, explica Filipe Santos, que se fez acompanhar por mais dois elementos da equipa, Luís Santos e André Aguiar.

O porta-voz do grupo não esconde que esta distinção “é mais do que motivadora”. “Temos um mote que é ciência com impacto. Temos trazido os valores para o terreno para provar que é possível ter robótica portuguesa, tecnologia portuguesa, desenvolvida em Portugal, com impacto para a agricultura portuguesa mas também mundial. E este é o reconhecimento desse trabalho, que muito nos orgulha e motiva”, realça.

Um robô barato e flexível que abraça todas as culturas

O robô é uma solução de baixo custo que permite transportar um conjunto alargado de equipamentos de agricultura de precisão. É ainda flexível, a ponto de poder acrescentar-se equipamento que seja necessário, e também poder ser adaptado a diferentes culturas. “É um veículo com grande versatilidade e autonomia, que neste domínio da robótica é fundamental. A agricultura de precisão é a ferramenta mais poderosa que nós temos hoje em dia para o uso mais eficiente dos recursos”, comenta Nuno Canada, presidente do ­INIAV e do júri.

A INESC TEC, fruto deste primeiro lugar, recebeu um prémio monetário de €10 mil. De referir as menções honrosas atribuídas ao Centro Agrotech, Pre Vinegrape e Projeto Revolution.

Alcino Pires também regressou orgulhoso a Bragança, ele que é administrador da Geosil, empresa que recebeu o Prémio Agricultor do Ano 2024. “É sempre motivo para continuarmos, pois significa que estamos no bom caminho. É uma injeção de adrenalina e incentivo. Surpreendido? Não é algo com que se esteja a contar, embora saibamos o papel que temos naquilo que fazemos”, diz.

Portugal ao “mais alto nível”

Rui Rosa, presidente da Vitas Portugal, reconhece que a inteligência artificial já chegou à agricultura e que, embora ainda haja muito para explorar nesta matéria, é já muito utilizada na área dos seguros agrícolas. E enaltece a qualidade das candidaturas apresentadas. “Para nós é uma grata recompensa. As candidaturas foram de excelente qualidade, diversificadas e em número muito apreciável”, afirma. Nesse sentido, está já a pensar na organização da 3ª edição deste prémio.

No encerramento do certame esteve João Moura, secretário de Estado da Agricultura. O governante lembra que Portugal “é do mais alto nível que existe no mundo inteiro com as suas técnicas, regras e hábitos de produção. Aquilo que se faz hoje no país é uma agricultura amiga do am­biente, que utiliza bem os recursos naturais, que os estima, preserva e conserva, e utiliza a mais alta tecnologia, como ficou aqui bem visível”. E acrescenta: “Há uma grande evolução científica, muito conhecimento científico nas práticas agrícolas, pelo que os portugueses podem estar descansados com a qualidade dos alimentos que consomem.” Ainda assim, vinca, “é importante transmitir estas coisas boas, coisas positivas, que muitas vezes são confundidas com imagens negativas quando é completamente diferente”. João Moura reconhece que “há um caminho a percorrer para passar a mensagem boa” e lamenta que, pelo caminho trilhado, sejam cada vez menos “os que se interessam pela agricultura e pelo mundo rural.”

OS VENCEDORES DE 2024

PRÉMIO INOVAÇÃO AGRICULTURA

INESC TEC O Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência (INESC TEC) é um centro de investigação e desenvolvimento com sede no Porto, e polos em Vila Real, Minho e também uma filial no Brasil, focado em áreas de engenharia, ciência e tecnologia. É uma instituição de referência, no país e a nível internacional, nas áreas de sistemas de informação, computação, engenharia eletrónica, automação, inteligência artificial, redes e telecomunicações, entre outras. No laboratório que desenvolveu o Projeto Modular E trabalham 30 pessoas. Filipe Santos, com 44 anos, é o mais velho. Este instituto tem como missão desenvolver tecnologia de ponta, promover a inovação e transferir conhecimento para o sector industrial, contribuindo para o avanço científico e tecnológico.

PRÉMIO AGRICULTOR DO ANO

Geosil Com sede em Bragança, foi a candidatura premiada e tem como atividades principais a agricultura, a pecuária e a silvicultura, incluindo a produção biológica de castanhas, avelãs e azeitonas. Promove também a criação de ovinos de raça galega bragançana preta. Fundada em 1993, a empresa está comprometida com a sustentabilidade, promovendo a produção biológica. O universo Geosil tem cerca de 185 funcionários. “A empresa representa muito para a região, que é desfavorecida e com pouca juventude. Um dos nossos objetivos é fixar os jovens e transmitir conhecimento também da parte agrícola, principalmente aos originários de Bragança, embora, devido à falta de mão de obra, trabalhem connosco pessoas de outras origens, como Brasil, Ucrânia, São Tomé e Príncipe ou Cabo Verde”, diz o administrador Alcino Pires.

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