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Prémio de €60 mil atribuído a projetos de investigação sobre o cancro e retina humana 

Ana Magalhães, Caren Norden e Filipe Pereira foram os investigadores distinguidos, esta quarta-feira, na 68ª edição dos Prémios Pfizer, a que o Expresso se associou como media partner

Prémio de €60 mil atribuído a projetos de investigação sobre o cancro e retina humana 

Matilde Fieschi

Fotojornalista

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Os Prémios Pfizer distinguiram esta quarta-feira, 13 de novembro, um projeto de investigação clínica e dois projetos de investigação básica em saúde, totalizando um montante de €60 mil atribuídos aos vencedores. Cada projeto de investigação básica recebeu €15 mil e o projeto de investigação clínica recebeu €30 mil. A 68ª edição do mais antigo galardão desta área, criado em 1956 pela Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa (SCMED) com apoio da farmacêutica, distinguiu os investigadores portugueses Ana Magalhães, por um trabalho sobre o cancro do estômago, Caren Norden, pela investigação sobre a retina humana e Filipe Pereira por um estudo sobre uma resposta imunitária contra o cancro.

“Este ano a edição foi dificílima. Tivemos 40 e tal candidaturas a investigação básica. Projetos excelentes em áreas completamente diferentes e daí a dificuldade. Em investigação clínica recebemos cinco ou seis candidaturas excelentes. Continuamos a não ter tempo e o estímulo que devíamos para fazer investigação com tempo dedicado”, disse Maria do Céu Machado, presidente da Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa, que aproveitou para anunciar o relançamento do jornal da Sociedade das Ciências Médicas, ao fim de 21 anos sem ser publicado.

Joaquim Ferreira, presidente eleito da Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa, explicou que será um jornal digital de acesso livre, em inglês, e que terá como temas de eleição a investigação médica, cuidados interdisciplinares, tecnologias da saúde e questões de saúde global. “Vai ser o jornal científico das duas escolas médicas”, adiantou, referindo-se à A NOVA Medical School, escola médica da Universidade NOVA de Lisboa e A Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa.

A cerimónia de entrega dos prémios Pfizer que, decorreu no Centro Cultural de Belém, contou ainda com a presença de Ana Povo, Secretária de Estado da Saúde e Paulo Teixeira, diretor geral da Pfizer Portugal, e da investigadora Luisa Lopes, do GIMM - Gulbenkian Institute for Molecular Medicine, que fez uma apresentação sobre a Investigação do cérebro humano, e os desafios e promessas para o futuro, onde explicou as dificuldades no estudo desta área da saúde e como a tecnologia está a ser aplicada neste campo.

“Os projetos distinguidos representam um contributo valioso para a melhoria da qualidade de vida das populações, reiterando a necessidade de que a saúde e a ciência permaneçam indissociáveis na procura por novas soluções terapêuticas”, refere Paulo Teixeira, acrescentando que Portugal possui um potencial notável para se estabelecer como um centro de excelência, apoiado na elevada competência dos investigadores e na qualidade das instituições.

Também Ana Povo, afirmou que o trabalho destes investigadores contribui para a vanguarda da investigação biomédica a nível global. “É essencial continuar a apoiar e fomentar a investigação em Portugal”, diz a secretária de estado da Saúde, acrescentando que esta é uma atividade que atrai talento internacional e cria postos de trabalho qualificados. “A investigação contribui para a sustentabilidade do sistema de saúde com maior conhecimento cientifico, meios de diagnóstico e tratamentos inovadores que contribuem para mais qualidade de vida e redução de custos”.


A responsável afirmou ainda que é intenção do ministério continuar a reforma da carreira dos investigadores em Portugal. “É nosso objetivo criar um ambiente menos burocrático permitindo uma maior agilidade administrativa e mais tempo dedicado e flexibilidade. A investigação precisa de apoio, incentivo e uma aposta continua em talento”, diz.

Conheça abaixo os projetos vencedores:

Investigação Clínica

Com mais de um milhão de casos diagnosticados por ano, o cancro do estômago é uma doença cujos sintomas frequentemente se manifestam já numa fase avançada. Nos últimos anos, têm surgido evidências científicas de que certas proteínas modificadas com carboidratos complexos, quando alteradas, podem desempenhar um papel determinante na progressão dos tumores. A investigação premiada, de Ana Magalhães, do I3S - Instituto de Investigação e Inovação em Saúde, e da sua equipa, estudou um mecanismo molecular que agrava o prognóstico do cancro do estômago, e cujas descobertas podem contribuir para travar a sua progressão. “Com estas descobertas, a nossa equipa de investigação contribuiu para a compreensão de um novo mecanismo de comunicação das células tumorais, identificando um potencial alvo para o desenvolvimento de novas terapias que possam travar a formação de metástases e melhorar o prognóstico de doentes com cancro do estômago”, refere a Investigadora.

Investigação Básica

O estudo liderado por Caren Norden, investigadora principal na Fundação GIMM, analisou como a migração dos fotorrecetores – células responsáveis por detetar a luz, capturar imagens e possibilitar a visão – contribui para o desenvolvimento saudável do olho. Nos humanos, complicações nesta migração podem causar doenças na retina ou problemas de desenvolvimento. O estudo usou o peixe-zebra como modelo para estudar a organização da retina em vertebrados, combinado com observação em tecido humano e em organoides de retina - modelos cultivados a partir de células humanas. “A combinação do peixe-zebra com modelos de cultura celular humana permite uma melhor compreensão do desenvolvimento da retina humana, uma vez que os resultados obtidos com o peixe-zebra podem servir para tornar os estudos com tecido humano mais direcionados e comparativos. Estas pesquisas inter-espécies fornecem uma base para avançar na compreensão da biologia da retina, levando a novas estratégias terapêuticas”, diz a investigadora.

Investigação Básica

O sistema imunitário trava uma batalha constante contra o cancro, recorrendo a mecanismos que lhe permitem identificar e eliminar as células tumorais. No entanto, estas células desenvolvem estratégias que lhes permitem escapar ao reconhecimento por parte do sistema imunitário, evitando assim a sua destruição. O sistema imunitário prevalece quando as suas células são capazes de reconhecer os antigénios presentes nas células tumorais — proteínas específicas na superfície celular que distinguem células saudáveis de células anormais. Na investigação liderada por Filipe Pereira, Investigador do Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra, foi desenvolvido um estudo sobre uma resposta imunitária contra o cancro, em que se transformam células tumorais em células imunitárias. Na investigação, baseada na ideia de que é possível mudar a identidade das células através de um processo chamado “reprogramação celular”, foi possível reprogramar células de cancro (humanas e de ratinhos) em células que apresentam antigénios tumorais. “Quando as células reprogramadas foram injetadas em ratinhos com tumores, houve uma redução no crescimento dos tumores, um aumento na sobrevivência dos animais e uma melhor resposta a tratamentos de imunoterapia já existentes”, destacou o investigador.

Este projeto é apoiado por patrocinadores, sendo todo o conteúdo criado, editado e produzido pelo Expresso (ver Código de Conduta), sem interferência externa.

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