Um quarto da população global tem cobertura 5G, mas adoção continua baixa
A 11ª Conferência ANACOM - 5G em Ação decorre até amanhã no Pavilhão do Conhecimento. Soluções e projetos piloto 5G estiveram em destaque
Matilde Fieschi
Mesmo nos mercados mais desenvolvidos, a utilização regular de 5G ainda não disparou. Reguladores europeus estimam que existam seis mil milhões de utilizadores em todo o mundo, até 2028. Em 2023 eram 2,2 mil milhões. Partilha de projetos e soluções em piloto ou em fase de implementação em Portugal marcaram a agenda do primeiro dia da 11ª Conferência ANACOM – 5G em ação, a que o Expresso se juntou como media partner
Fátima Ferrão
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São mais de 100 países e cerca de 300 operadores móveis que garantem a cobertura 5G atual de aproximadamente 25% do planeta. Os dados foram revelados por Konstantinos Masselos, vice-Presidente do Organismo de Reguladores Europeus de Comunicações Eletrónicas (BEREC), presidente da Comissão Helénica das Telecomunicações e dos Correios (EETT), e um dos keynote speakers do primeiro dia da 11ª Conferência ANACOM, que decorreu hoje no Pavilhão do Conhecimento, em Lisboa.
No entanto, o responsável destaca que a adoção desta tecnologia continua baixa, mesmo nos mercados mais desenvolvidos. No final de 2023 existiam 2,2 mil milhões de utilizadores da tecnologia 5G a nível mundial, um número ainda longe da previsão do BEREC que aponta para cerca de seis mil milhões em 2028.
Para esta aceleração, Konstantinos Masselos acredita que a inteligência artificial (IA) terá um papel fundamental, uma vez que permite automatizar processos, rotinas e tornar mais eficientes empresas e negócios de vários setores. Até lá lembra que é preciso demonstrar que o 5G “tem de ser mais do que downloads rápidos. Precisa de ter um verdadeiro impacto na vida das pessoas”.
Inovar para competir
Tornar a Europa mais digital e, consequentemente, mais competitiva para que não continue a afastar-se de outros blocos económicos, como Estados Unidos e China, é um dos grandes desafios da União Europeia (UE). Contudo, o financiamento público e privado continua a ser uma lacuna importante neste contexto, cuja solução passa por apoios da Comissão Europeia.
O Mecanismo Interligar a Europa Digital (MIE Digital), em conjunto com outros instrumentos de financiamento, como o PRR (Plano de Recuperação e Resiliência) ou o InvestEU, destinam-se a apoiar os estados-membros a investir em infraestruturas digitais, com destaque para as redes 5G. Até 2027 serão €250 milhões para a criação e desenvolvimento de projetos relevantes e cujo impacto seja reconhecido pela Comissão. “Esta é a resposta aos desafios tecnológicos, de convergência tecnológica, e de computação que podem garantir que a Europa se mantém competitiva”, afirmou Thomas Kupper, responsável da unidade de investimento em redes de alta capacidade, na DG Connect, que marcou presença na conferência de hoje.
Alguns dos projetos nacionais, quer de financiamento privado, público, ou apoiados ou pelos diversos mecanismos de financiamento da UE estiveram em destaque ao longo de um dia de debates. Soluções 5G em áreas como Energia, Saúde, Administração Pública e Cidades Inteligentes, e Soberania e Proteção Civil subiram a palco para dar a conhecer os seus conceitos, e respetivos impactos na vida das pessoas, mas também na economia.
No segundo dia de conferência serão apresentados projetos relacionados com a Indústria 4.0. a Mobilidade, e a Economia Azul e Recursos Naturais. Recorde aqui a lista completa de participantes e conheça em baixo as principais conclusões do primeiro dia.
Energia
Incentivos de entidades governamentais através de programas como CEF Digital, PT2030, ou PRR são “fatores críticos de sucesso para o desenvolvimento e a implementação do 5G”, defendeu Carla Botelho, da NOS.
“Para incorporar mudanças de espetro em projetos, os processos continuam a ser muito demorados”, aponta Hélio Simeão, da Ubiwhere, deixando a mensagem para evitar situações idênticas no futuro licenciamento das redes 6G.
Regulação do espetro deve aprender com exemplos internacionais como, por exemplo, a Finlândia, e tornar os modelos de licenciamento mais regionais. Sugestão deixada pelo responsável da Ubiwhere: “libertar algum espetro para a inovação”.
ANACOM mostrou-se disponível para ouvir empresas e operadores sobre questão do espetro e lançará, nos próximos dias, uma consulta pública.
Saúde
Possibilidade de utilização de roaming entre os diferentes operadores em caso de catástrofe foi desafio lançado por José Ferreira, do INEM.
Tecnologia em geral, e 5G, em particular, é fundamental para unificar dados e comunicação entre hospitais e centros de saúde, acredita Luís Fareleiro, da Hope Care.
Na saúde, “ainda há limitações tecnológicas que têm que ser ultrapassadas”, disse Carlos Azevedo, do Instituto Pedro Nunes. Uma opinião partilhada por Pedro Gouveia, da Fundação Champalimaud. “Ainda não estamos preparados para adotar a tecnologia 5G em larga escala nos blocos cirúrgicos”.
São precisas mais parcerias e muita investigação para ultrapassar a imaturidade desta tecnologia.
Administração Pública e Cidades Inteligentes
Tecnologia 5G é catalisador e acelerador de todas as áreas da Administração Pública e das Cidades Inteligentes.
É muito importante envolver as universidades porque têm maior liberdade e autonomia para arriscar na inovação e na investigação. “Ligação com as empresas deve ser o ponto de entrada para outras formas de fazer e de arriscar”, sublinha Susana Sargento, da Universidade de Aveiro.
Existem múltiplas formas de utilizar aos dados para que tenham impacto na vida das pessoas e na sua fruição das cidades. Identificar pontos de acidentes, gerir fluxos de trânsito e de pessoas ajustando a oferta de transportes públicos, ou desenvolvimento de Digital Twins para melhor gestão das cidades, foram alguns dos exemplos apresentados.
Soberania e Proteção Civil
Operações táticas terrestres de caráter militar podem beneficiar da utilização do 5G, não apenas nas comunicações.
Segurança física e cibernética são essenciais para garantir resiliência e redundância das operações militares terrestres e marítimas.
“A guerra está a mudar e continuará a mudar usando a tecnologia”, lembra o Coronel Paulo Pinto, do Estado Maior Geral das Forças Armadas (EMGFA). Forças armadas não podem deixar de adaptar-se à transformação digital. Mas, acrescenta o Tenente-Coronel do Exército, Ângelo Silva, “falta investimento”.
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