Alexandre Homem Cristo mete o dedo na ferida: "Se a educação falhar, falhamos todos"
A conferência "Cultura e Identidade" juntou, durante esta tarde, várias personalidades em Aveiro para discutir inclusão, cidadania, educação e mobilidade social
Rui Farinha/NFactos
A conferência "Cultura e Identidade" juntou, durante esta tarde, várias personalidades em Aveiro para discutir inclusão, cidadania, educação e mobilidade social
Rui Farinha/NFactos
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O secretário de Estado da Educação marcou presença na conferência “Cultura e Identidade”, que decorreu esta tarde no Centro de Congressos de Aveiro, com organização da Câmara Municipal da cidade e o Expresso como media partner, e reconheceu que há muitas coisas “inaceitáveis” no ensino em Portugal. Mas mostrou-se confiante e pediu a participação “de todos”
Rui Baioneta
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“A nossa identidade, como parte da sociedade, começa nas escolas”, foi uma das frases com que Alexandre Homem Cristo, secretário de Estado da Educação, terminou a sua intervenção. Ele que, pelo meio, assumiu que o ensino em Portugal está longe de ser perfeito. “Continuo sem perceber porque é que o sistema de matrículas online cracha de dois em dois dias e isso é inaceitável...”, afirmou.
E admitiu também que “não é aceitável que os alunos cheguem às salas de aula e não tenham professores, que não se reconheça o esforço dos professores, que o ensino se esteja a deteriorar e que se ache normal que tantos alunos fiquem para trás”. O governante que dar a volta a esta situação e, para isso, pede o envolvimento “de todos: professores, pais, direções”. “Se a educação falhar, falhamos todos. Temos de remar para o mesmo lado. Tragam soluções e nós cá estaremos, este é o princípio de uma longa caminhada”, realçou.
Alexandre Homem Cristo revelou ainda que anunciará em breve, “dentro de 10 a 15 dias”, a estratégia para reforçar a aprendizagem, com base no pressuposto de que ninguém será deixado para trás. Na conferência sobre “Cultura e Identidade” foi feita, sobretudo, uma reflexão com o foco em temas como inclusão, cidadania, educação e mobilidade social, no sentido de se construírem sociedades mais justas e inclusivas.
O discurso de abertura foi da responsabilidade de José Ribau Esteves, presidente da Câmara Municipal de Aveiro. E, quando falou em imigração, admitiu que “boa parte dos imigrantes vem à procura de uma vida melhor, mas, para isso, precisa de ser apoiado, precisa de apoio social”. “Se não for assim, não tem condições. Esta é a verdade”, disse, reconhecendo a boa integração da comunidade imigrante na cidade de Aveiro.
A primeira mesa redonda da tarde, sobre Inclusão e Cidadania, contou com a participação de Teresa Grancho (vereadora e presidente da Comissão de Proteção de Crianças e Jovens de Aveiro) e José Pina (coordenador Aveiro 2024), havendo depois lugar para a gravação do podcast “Bloco Central”, com Paulo Baldaia (jornalista do Expresso), Pedro Marques Lopes (comentador da SIC) e Pedro Siza Vieira (ex-ministro, nos XXI e XXII Governos Constitucionais, e colunista do Expresso). Na segunda mesa redonda da tarde, que abordou o tema “Educação & Mobilidade Social”, o foco esteve em Rui Costa (diretor de Recursos e Projetos Especiais da Fundação Serralves) e Mónica Vieira (coordenadora da Iniciativa Educação, da Fundação Francisco Manuel dos Santos). Os trabalhos desta sessão, que está inserida no programa Aveiro, capital portuguesa da cultura 2024, concluíram-se com o discurso de encerramento de Alexandre Homem Cristo.
Conheça as principais conclusões.
Cidadania
“Penso que surgem alguns perigos perante alguma incerteza no futuro... Neste momento existe cidadania com muita mobilidade, falta sentido de pertença e responsabilidade”, anotou José Pina.
O coordenador do programa Aveiro 2024 defendeu que “é importante envolver os jovens nas iniciativas culturais”, pois muitas vezes estão focados nas novas tecnologias, às quais reconheceu importância “quando bem utilizadas”.
“A partilha (cultural) torna o pensamento eclético e aberto”, afirmou Teresa Grancho, admitindo que é um “desafio permanente” a forma de acolher a comunidade imigrante: “Todos têm de perceber como podem comunicar com a ‘nova gente’. Tem de haver trabalho de equipa”.
Condições de vida
“Quanto mais precisamos da comunidade, mais nos afastam dela. As pessoas andam mais distantes e a sociedade evolui quando todas se juntam”, disse Pedro Marques Lopes.
“Andámos sempre de um lado para o outro, sempre recebemos pessoas, povos de todos os lados, que se integraram. Os portugueses sempre emigraram em busca de melhores condições de vida”, comentou Pedro Siza Vieira.
Informação
“Há um progresso extraordinário no acesso às escolas, os indicadores cresceram muito, colocámos pessoas nas escolas. Agora há o desafio da qualidade na educação”, disse Mónica Vieira.
Mónica Vieira considerou a literacia fundamental para os alunos chegarem a outro nível de aprendizagem e considerou decisivo o “combate às desigualdades”.
“Temos cinco vezes mais alunos no ensino superior”, reforçou Rui Costa, assumindo que “a elevada média de idades dos professores é uma preocupação”.
Inteligência artificial
“Gostava que, em primeiro lugar, fosse para ajudar os professores, pois existem muitas tarefas burocráticas. Ela vai entrar nas salas de aula, há que adaptá-la às necessidades e práticas educativas”, considerou Mónica Vieira.
“A Inteligência Artificial é inevitável e pretende-se que melhore a nossa vida, apesar de todos os riscos que tem”, reforçou Rui Costa.
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