Projetos Expresso

É preciso mais regulação para as energias renováveis

Governos devem seguir estratégias da Comissão Europeia. Portugal e Espanha são dos países com mais potencial na energia verde, mas ambos reclamam melhor legislação, regulação e celeridade. Esta foi uma das conclusões do Portugal Renewable Summit, um projeto da APREN, que tem o Expresso como media partner
É preciso mais regulação para as energias renováveis

André Rito

Jornalista

Arrancou hoje um dos maiores eventos mundiais dedicados às energias renováveis. Com mais de 500 participantes, o dia ficou marcado por diferentes painéis de discussão: o papel dos operadores da rede de transportes na transição energética, o impacto da NZIA (Net-Zero Industry ACRT), o papel do hidrogénio, a estabilização do mercado elétrico e as estratégias da Península Ibérica que tem servido de exemplo para vários países europeus.

Estas foram as principais conclusões:

Atratividade

  • Portugal será sempre um país atrativo do ponto de vista das energias renováveis. A frase é de Pedro Amaral Jorge, presidente da Associação Portuguesa de Energias Renováveis (APREN). Mas para que haja uma efetiva implementação e captação de investimento “é necessário estabilidade política e regulatória”. Para o presidente da APREN, não é possível deixar de referir a guerra na Ucrânia e na faixa de Gaza, que tiveram impactos diretos nos preços da energia. Este contexto macroeconómico - a inflação e as taxas de juros - tem impacto direto na celeridade de desenvolvimento na instalação de renováveis. “Mas no final de 2024 estaremos num enquadramento regular com taxas de juro abaixo e inflação”, conclui.

Redes

  • São a coluna vertebral da expansão das energias renováveis. Mas a conciliação entre os vários países europeus não é de fácil alcance. Sem transmissão, diz Concepción Sánchez Pérez, general manager da REE: “nao existe transição energética”. “É preciso partilhar recursos, lições aprendidas, problemas resolvidos e uma colaboração estreita entre todos os atores deste mercado” O problema? Custos. As redes, como defendeu João Conceição, COO da REN, são necessárias à transição energética e as necessidades estão identificadas. E para esses custos muito contribui a lentidão dos processos e do licenciamento. “Entre a tomada de decisão de avançar com um projeto e o seu licenciamento vai um grande hiato de tempo, cujo processo é muito pesado”, disse, acrescentando que “sempre que se fala em desenvolvimento de redes todos [os players] consideram demasiado dispedioso”. Mas a infraestrutura é fundamental, defendeu Damian Cortinas, chair of the board da Entso-e.

Partilha

  • Foi dos conceitos mais explorados nos vários painéis de discussão deste primeiro dia do Portugal Renewable Energy Summit. A meta é atingir 70% de energias renováveis transfronteiriça, mas, como defendeu o moderador Pedro Carvalho, professor Catedrático do Instituto Superior Técnico, “os lucros não estão igualmente distribuídos pela Europa” Ou seja, “não havendo melhoria da diplomacia, nem todos os países vão aderir à partilha”. Quanto à Península Ibérica, os sistemas estão bem equipados e os dois países são “um bom exemplo de interconectividade”, disse Concepción Sáchez. “Temos diferenciais de preço entre a Península Ibérica e a Europa. É uma conversa difícil para a Europa. A melhor decisão é avançar com investimentos”, disse Christian Zinglersen, diretor da ACER.

Eólica e solar

  • As metas definidas por Bruxelas são 30 gigawatts. Mas, por agora, este objetivo está ainda longe de ser alcançado. Atualmente, a energia do vento representa 17% de toda a eletricidade produzida na Europa. Além dos obstáculos relacionados com o licenciamento, Giles Dickson, CEO da Wind Europe, que representa centenas de empresas ligadas a este tipo de energia, a concorrência da China é feroz: “As receitas não acompanharam os investimentos. Temos uma crise na cadeia de fornecimento na Europa. Mesmo assim, como disse Walburga Hemetsberger, CEO da Solar Power Europe, a energia solar em Portugal tem um forte potencial: “Existem bons exemplos que deviam ser replicados noutros países. Na Europa crescemos 43% relativamente a 2022, atingindo cerca de 40 gigawatts.”

Licenciamento

  • Um dos principais obstáculos às energias renováveis está relacionado com os licenciamentos. Num debate dedicado ao impacto da NZIA (The Net-Zero Industry Act), Joaquim Nunes de Almeida, director da DG Grow da União Europeia, refere que se trata de “uma questão essencial”.Temos um estrangulamento ao nível das autorizações que atrasa a instalação de novas tecnologias.” Foi efinida a legislação comunitária em março deste ano que a Comissão Europeia considera decisiva para a descarbonização da economia.Quanto à celeridade dos processos, Nunes de Almeida explicou que deixará de ser de 24 meses para 12. Para isso, defende, é necessário formar mais profissionais: “[Falta de] competências é um dos maiores problemas que enfrentamos. Precisamos de maior circulação de competências pela europa. Nós na nossa associação temos grandes campanhas e seria bom unirmos esforços”, acrescentou Walburga Hemetsberger.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

Comentários
Já é Subscritor?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate