Governos devem seguir estratégias da Comissão Europeia. Portugal e Espanha são dos países com mais potencial na energia verde, mas ambos reclamam melhor legislação, regulação e celeridade. Esta foi uma das conclusões do Portugal Renewable Summit, um projeto da APREN, que tem o Expresso como media partner
Arrancou hoje um dos maiores eventos mundiais dedicados às energias renováveis. Com mais de 500 participantes, o dia ficou marcado por diferentes painéis de discussão: o papel dos operadores da rede de transportes na transição energética, o impacto da NZIA (Net-Zero Industry ACRT), o papel do hidrogénio, a estabilização do mercado elétrico e as estratégias da Península Ibérica que tem servido de exemplo para vários países europeus.
Estas foram as principais conclusões:
Atratividade
- Portugal será sempre um país atrativo do ponto de vista das energias renováveis. A frase é de Pedro Amaral Jorge, presidente da Associação Portuguesa de Energias Renováveis (APREN). Mas para que haja uma efetiva implementação e captação de investimento “é necessário estabilidade política e regulatória”. Para o presidente da APREN, não é possível deixar de referir a guerra na Ucrânia e na faixa de Gaza, que tiveram impactos diretos nos preços da energia. Este contexto macroeconómico - a inflação e as taxas de juros - tem impacto direto na celeridade de desenvolvimento na instalação de renováveis. “Mas no final de 2024 estaremos num enquadramento regular com taxas de juro abaixo e inflação”, conclui.
Redes
- São a coluna vertebral da expansão das energias renováveis. Mas a conciliação entre os vários países europeus não é de fácil alcance. Sem transmissão, diz Concepción Sánchez Pérez, general manager da REE: “nao existe transição energética”. “É preciso partilhar recursos, lições aprendidas, problemas resolvidos e uma colaboração estreita entre todos os atores deste mercado” O problema? Custos. As redes, como defendeu João Conceição, COO da REN, são necessárias à transição energética e as necessidades estão identificadas. E para esses custos muito contribui a lentidão dos processos e do licenciamento. “Entre a tomada de decisão de avançar com um projeto e o seu licenciamento vai um grande hiato de tempo, cujo processo é muito pesado”, disse, acrescentando que “sempre que se fala em desenvolvimento de redes todos [os players] consideram demasiado dispedioso”. Mas a infraestrutura é fundamental, defendeu Damian Cortinas, chair of the board da Entso-e.
Partilha
- Foi dos conceitos mais explorados nos vários painéis de discussão deste primeiro dia do Portugal Renewable Energy Summit. A meta é atingir 70% de energias renováveis transfronteiriça, mas, como defendeu o moderador Pedro Carvalho, professor Catedrático do Instituto Superior Técnico, “os lucros não estão igualmente distribuídos pela Europa” Ou seja, “não havendo melhoria da diplomacia, nem todos os países vão aderir à partilha”. Quanto à Península Ibérica, os sistemas estão bem equipados e os dois países são “um bom exemplo de interconectividade”, disse Concepción Sáchez. “Temos diferenciais de preço entre a Península Ibérica e a Europa. É uma conversa difícil para a Europa. A melhor decisão é avançar com investimentos”, disse Christian Zinglersen, diretor da ACER.
Eólica e solar
- As metas definidas por Bruxelas são 30 gigawatts. Mas, por agora, este objetivo está ainda longe de ser alcançado. Atualmente, a energia do vento representa 17% de toda a eletricidade produzida na Europa. Além dos obstáculos relacionados com o licenciamento, Giles Dickson, CEO da Wind Europe, que representa centenas de empresas ligadas a este tipo de energia, a concorrência da China é feroz: “As receitas não acompanharam os investimentos. Temos uma crise na cadeia de fornecimento na Europa. Mesmo assim, como disse Walburga Hemetsberger, CEO da Solar Power Europe, a energia solar em Portugal tem um forte potencial: “Existem bons exemplos que deviam ser replicados noutros países. Na Europa crescemos 43% relativamente a 2022, atingindo cerca de 40 gigawatts.”
Licenciamento
- Um dos principais obstáculos às energias renováveis está relacionado com os licenciamentos. Num debate dedicado ao impacto da NZIA (The Net-Zero Industry Act), Joaquim Nunes de Almeida, director da DG Grow da União Europeia, refere que se trata de “uma questão essencial”. “Temos um estrangulamento ao nível das autorizações que atrasa a instalação de novas tecnologias.” Foi efinida a legislação comunitária em março deste ano que a Comissão Europeia considera decisiva para a descarbonização da economia.Quanto à celeridade dos processos, Nunes de Almeida explicou que deixará de ser de 24 meses para 12. Para isso, defende, é necessário formar mais profissionais: “[Falta de] competências é um dos maiores problemas que enfrentamos. Precisamos de maior circulação de competências pela europa. Nós na nossa associação temos grandes campanhas e seria bom unirmos esforços”, acrescentou Walburga Hemetsberger.
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