O grande desafio para os agricultores? Produzir mais e melhor sem danificar o ambiente
PEDRO NUNES
PEDRO NUNES
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Repensar a forma como se produzem e distribuem os alimentos, tendo em conta a sustentabilidade - de forma a mitigar os efeitos das alterações climáticas - esteve no centro da discussão do segundo e último dia do Lisbon Agri Conferences
"Temos que tratar do nosso planeta e, ao mesmo tempo, alimentá-lo", começou por dizer Maria do Céu Antunes, ministra da Agricultura, na cerimónia de encerramento do Lisbon Agri Conferences. Esta é a afirmação que resume o grande desafio que os stakeholders do sector agrícola irão enfrentar durante os próximos anos.
Olhar "além da fase agrícola" e conseguir ter uma estratégia e abordagem holística, tendo em conta "toda a cadeia de transformação e distribuição" é a única forma de alcançar a sustentabilidade, segundo a especialista em alterações climáticas, Joana Portugal Pereira.
A inovação parece ser, uma vez mais, o único meio possível para a evolução. Carne cultivada em laboratório e agricultura vertical - que não danifique tanto os solos - foram duas das soluções tecnológicas apontadas durante a sessão para que o sector agroalimentar possa fazer face ao aumento da população e da procura, por um lado, e às exigências dos consumidores, cada vez mais informados, conscientes e preocupados com a sustentabilidade, por outro.
70%
dos consumidores, globalmente, preferem produtos mais seguros, mas sustentáveis e mais saudáveis
António Costa e Silva acredita mesmo que a próxima grande crise será de cariz alimentar. Para o o professor do IST "não vamos ter um país que resiste se não tivermos uma agricultura moderna capaz de olhar para o futuro". A verdade é que mesmo que se possa pensar que Portugal não é um país fustigado pelas alterações climáticas, os dados dizem-nos o contrário: 25% da nossa costa está em erosão. Nesse sentido, e como tudo está interligado, cabe também ao sector agroalimentar assegurar que contribui ativamente para a conservação do país e do planeta.
"A agricultura pode ser um contribuidor líquido para diminuir as alterações climáticas", assegura Assunção Cristas
Estas são as principais conclusões:
12% das exportações nacionais pertencem ao sector agroalimentar, refere Luís Castro Henriques. Foi o único, em 2020, que aumentou as exportações.
A agricultura deverá ter uma "gestão integrada com a floresta e os recursos hídricos", reforça António Costa e Silva
É fundamental que haja uma boa política ambiental e de gestão dos solos, porque nós "dependemos dele", defende Sandra Tavares. A produtora de vinhos aponta ainda o facto de existir falta de mão de obra jovem como outro dos problemas a resolver.
Para António Casanova, a agricultura deve "agregar-se e trabalhar mais em conjunto", deixando a lógica individualista em segundo plano.
A preocupação pelo impacto da alimentação na saúde também marcou a agenda. Segundo os dados apresentados por Joana Portugal Pereira, consumimos muito mais carne, cereais e açúcares do que deveríamos. "Dois em cada três portugueses sofrem de problemas associados a obesidade ou excesso de peso. Riscos cardiovasculares e cancros estão relacionados a esta alimentação".
Veja ou reveja a sessão completa de hoje clicando AQUI e AQUI para assistir à cerimónia de encerramento feita pela ministra da Agricultura.
O Lisbon Agri Conferences regressa em 2023, entre os dias 22 e 24 de novembro.
Saiba mais na edição impressa do Expresso desta semana, nas bancas a 4 de dezembro