Sandra Maximiano, professora no ISEG, acredita que uma crise política nesta altura reduzirá a confiança de cidadãos e empresas no Governo
José Fernandes
Sandra Maximiano, professora no ISEG, acredita que uma crise política nesta altura reduzirá a confiança de cidadãos e empresas no Governo
José Fernandes
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O risco do chumbo do Orçamento do Estado pode abalar a confiança de cidadãos e empresas e pôr em risco a execução do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). Esta variável, conjugada com o aumento generalizado dos preços da energia e com a falta de matérias-primas comprometem a desejada retoma económica no pós-pandemia. Conclusões do debate desta tarde, inserido no ciclo de conferências “Parar para Pensar”, que junta o Expresso à Deco Proteste, e cujo tema foi a ‘Nova Economia’
Fátima Ferrão
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Independentemente de ser aprovado, o Orçamento do Estado (OE) é, na opinião de Sandra Maximiano, “o orçamento dos bocadinhos e do poucochinho, que ficará aquém das expectativas de todos”. Para a professora do Instituto Superior de Gestão (ISEG), que marcou presença na conferência que decorreu esta tarde na sede do Grupo Impresa, falta visão estratégica e objetivos bem definidos para o futuro do país, com linhas orientadoras claras e objetivas, sem as quais não será possível fazer as tão necessárias mudanças estruturais. “Falta consistência estratégica”, reforça Filipe Santos, reitor da Católica School of Business & Economics, outro dos oradores convidados para debater o tema da ‘Nova Economia’ no pós-pandemia. “A política económica em Portugal faz-se de ano para ano, a cada orçamento, e não devia ser assim, pois resulta apenas em políticas de curto prazo”, acrescenta.
Marcelo Rebelo de Sousa alertou, recentemente, para o eventual chumbo do OE, com o argumento de que uma crise política poderá pôr em causa a execução do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). Uma opinião partilhada, em parte, por João Duque. Para o economista e professor no ISEG, que marcou presente nesta conferência, a rejeição do OE, apesar de criar uma crise política, poderá não condicionar a aplicação da ‘bazuca’. “Acredito que os políticos irão arranjar forma de aprovar os fundos com eventuais duodécimos”. Menos otimista, Sandra Maximiano, aponta os efeitos negativos para empresas e cidadãos. “Vai gerar instabilidade e falta de confiança em toda a sociedade”. Filipe Santos acrescenta a perda de credibilidade do sistema político. “Estamos a ter uma crise política teatralizada”. O reitor acredita que a crise política não interessa a ninguém mas, para ser credível, “a ameaça precisa de ser bem teatralizada”.
Moderada por Marta Atalaya, a conversa que juntou os três economistas, foi a segunda do ciclo de debates ‘Parar para Pensar’, que associa o Expresso e a Deco Proteste, e que conta com o apoio da Google.
Conheça outras conclusões:
Mais do que uma crise política, as grandes fontes de incerteza económica atuais são, na opinião de João Duque, o aumento dos preços da energia e as falhas verificadas no mercado das matérias-primas. Para o economista, os grandes blocos económicos (EUA, China, Rússia e União Europeia) determinarão o rumo económico dos próximos anos, mediante o modelo de cooperação ou de rutura que possam adotar. Em Portugal, diz, “as exportações podem ser afetadas, quer pela falta de matéria-prima, quer pelo aumento de preços que o custo da energia poderá impor à produção”.
Para colmatar este eventual aumento dos custos de produção, Portugal terá que assegurar que as exportações têm valor acrescentado, sob pena de perderem competitividade dentro do território europeu. “É preciso apostar mais em inovação”, aponta Sandra Maximiano. Contudo, para tal, a professora acredita ser necessário definir de forma muito objetiva os caminhos da inovação. Para já, acredita que a mudança será lenta “porque temos constrangimentos políticos”.
Já Filipe Santos defende que é possível inovar e criar valor acrescentado internamente apostando nos segmentos em que Portugal se distingue dos parceiros europeus. “Podemos ser uma combinação de Silicon Valley e Florida da Europa”, exemplifica. O responsável da Católica acredita que o país tem potencial para atrair centros de competência e tecnológicos internacionais graças a fatores intrínsecos como a segurança, o clima e os recursos especializados de que dispõe. Mas, para consegui-lo, “tem que haver uma política fiscal atrativa e a tal visão estratégica que falta”, conclui.