“Ainda não sabemos qual será o impacto real da pandemia”
Marta Atalaya conduziu o debate sobre o Pós-Pandemia, o primeiro de oito do ciclo ‘Parar para Pensar’, que associa o Expresso à Deco Proteste e que conta com o apoio da Google
NUNO FOX
Marta Atalaya conduziu o debate sobre o Pós-Pandemia, o primeiro de oito do ciclo ‘Parar para Pensar’, que associa o Expresso à Deco Proteste e que conta com o apoio da Google
NUNO FOX
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Além da crise económica e social previsível, os próximos anos poderão criar mais disrupção, a vários níveis, do que a pandemia. Portugal lida com desafios internos, mas também externos sobre os quais não tem controlo. Estas foram algumas das conclusões do debate “Pós-pandemia”, inserido no ciclo de conferências ‘Parar para Pensar’, que decorreu esta tarde, numa iniciativa que junta o Expresso e a Deco Proteste
Fátima Ferrão
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Segundo um estudo da OCDE, divulgado em junho, Portugal vai demorar mais de três anos a recuperar da crise económica, devido ao seu contexto económico prévio, agravado pela pandemia. A crise sanitária teve um efeito muito assimétrico na economia, quer pelo facto de ter afetado muito alguns sectores - enquanto fez disparar outros -, mas também ao nível do dinheiro das famílias que, em alguns casos, viram os seus rendimentos a encolher, enquanto outros garantiram um crescimento no seu orçamento mensal.
“A economia ainda nos vai pregar mais partidas agora do que com a pandemia”, acredita Pedro Pimentel, diretor-geral da Centromarca, um dos convidados para o debate “Parar para Pensar: Pós-pandemia”, que decorreu esta tarde na sede do Grupo Impresa. Para o representante das empresas de produtos de marca, disrupções nas cadeias de abastecimento, como o aumento do preço dos combustíveis, da energia, embalagens ou matérias-primas, terão enormes impactos na economia. A isto, aponta, acrescente-se as assimetrias nos rendimentos e o desemprego, em especial acima dos 45 anos, e temos “uma situação económica complicada, com muitas pressões a montante”. Ana Pinto Borges, professora no Instituto Superior de Administração e Gestão (ISAG), também presente no debate, subscreve e acrescenta mais uma questão social: “A prevalência de problemas de saúde mental, que aumentou durante a pandemia, vai repercutir-se também a nível económico”. O peso deste problema no já sobrecarregado Sistema Nacional de Saúde (SNS) será enorme, assim como no mercado de trabalho, com mais absentismo, por exemplo.
Mas o impacto da pandemia terá também consequências ao nível da mudança de hábitos e de comportamentos, com impacto no trabalho ou no consumo e, consequentemente, na economia. “Ainda não sabemos qual será o verdadeiro impacto da economia e, provavelmente, só teremos uma noção mais real daqui a dois anos”, acredita Diogo Gonçalves, fundador da Nudge Portugal, outro dos oradores que marcou presença nesta conferência. Miguel Cristóvão, Business Development Manager da Deco Proteste, completa: “Com cerca de dois milhões de pessoas no limiar da pobreza em Portugal não será fácil antecipar como será o consumidor do futuro”.
Conheça as outras conclusões:
A adaptação das marcas à pandemia foi, na opinião de Ana Pinto Borges, bastante positiva, apesar da abordagem “mais artesanal” de algumas face aos novos canais de venda. Já Pedro Pimental defende que ter uma abordagem omnicanal é tão importante para as empresas como para o consumidor, pois este “quer ser tratado da mesma forma seja na compra online, por telefone ou presencial”.
Apesar de uma maior preocupação com a sustentabilidade por parte dos consumidores, “mais de metade não estão dispostos a pagar mais por isso”, diz Miguel Cristovão. O mesmo acontece com a preferência por produtos locais ou nacionais, que cresceu com os confinamentos, mas que agora começa a esbater-se.
Perceber e antecipar os comportamentos dos consumidores será, na opinião de Diogo Gonçalves, uma das formas das marcas adequarem a sua oferta. O conceito Nudge - que está a desenvolver em Portugal - permite perceber o sistema de decisão dos consumidores e a forma como este influencia os comportamentos. “Tomamos a maior parte das decisões com o sistema automático, pelo que tendemos a ser impulsivos”, revela. A pandemia pode, na sua opinião, ser uma oportunidade para implementar hábitos positivos no comportamento e no consumo.