A pressão exercida pela pandemia sobre os sistemas de saúde colocou à prova a capacidade de adaptação de todos os seus profissionais, nomeadamente dos enfermeiros, que Ana Rita Cavaco considera terem sido “a única linha de defesa”. Para a bastonária da Ordem dos Enfermeiros, estes elementos “são um pilar essencial” na prestação de cuidados, embora considere que a valorização que o Estado lhes atribui não corresponde ao papel que desempenham. “Os enfermeiros precisam de ter uma remuneração digna e não podem continuar a reformar-se aos 66 anos”, diz, criticando o congelamento de carreiras que impede a melhoria das suas condições de trabalho.
Desde março de 2020, o Serviço Nacional de Saúde (SNS) reforçou o número de contratações para fazer face aos desafios levantados pela covid-19, tendo aumentado o número de enfermeiros. A representante da classe teme, contudo, que os valores voltem a cair quando a crise sanitária terminar. “Agora, lá porque a pandemia abrandou, não podemos despedi-los e continuar a oferecer-lhes contratos de quatro meses”, refere. Ana Rita Cavaco evoca um estudo da OCDE, datado de 2019, que coloca Portugal abaixo da média na proporção destes profissionais por cada 1000 habitantes – na OCDE, são 9,3/100 mil habitantes, enquanto em território nacional, no SNS, o valor fixa-se em 4,2/100 mil habitantes. No entanto, já em maio, o Ministério das Finanças autorizou a integração no SNS de um total de 1366 enfermeiros chamados para a linha da frente no combate ao novo coronavírus, passando de recursos temporários a permanentes. De acordo com o Governo, o objetivo é consolidar a capacidade de resposta nos cuidados de saúde primários, serviços de medicina intensiva e na área da saúde pública.
Sofia Couto da Rocha, Chief Transformation Officer da Lusíadas Saúde, faz questão de destacar a “coragem” demonstrada por estes cuidadores, que não só são uma peça fundamental no apoio aos médicos, como também aos doentes. “A integração de cuidados foi essencial para capacitar os serviços no combate a um desafio deste nível”, afirma. A presidente do Conselho de Enfermagem do grupo, Dulce Gonçalves, lembra que “a intervenção do enfermeiro se reveste de uma importância enorme” em situações críticas, como a vivida ao longo dos últimos 14 meses, e destaca a sua “relação de confiança” e proximidade com os doentes. Seja em ambientes com todos os recursos disponíveis, como nas unidades de cuidados intensivos, ou no domicílio, onde a “principal terapêutica é o próprio enfermeiro”, estes profissionais são capazes de “responder às necessidades da população nos diferentes contextos de saúde”.
“Fazer frente ao desconhecido, com coragem e com a capacidade de cuidar de quem está frágil, é um dom e um superpoder”, afirma Sofia Couto da Rocha, médica de Clínica Geral da Lusíadas Saúde
Por todas estas razões, Ana Rita Cavaco não tem dúvidas de que é preciso evitar a emigração desta classe profissional. “A pandemia mostrou que é preciso fixar enfermeiros em Portugal. Não temos um problema de formação, temos um problema de contratação”, defende. A bastonária assinala que o país perdeu para o estrangeiro, em ano de pandemia, 1230 pessoas formadas e habilitadas a exercer estas funções. A razão, detalha, é explicada pelas condições oferecidas além-fronteiras. “Lá fora são bem pagos, pagam-lhes a formação e, acima de tudo, tratam-nos bem”, assinala.
Estratégias para minimizar esta fuga de cérebros, mas também para melhor aproveitar os recursos humanos especializados vão estar em destaque no Lusíadas Nursing Summit, que se realiza este sábado, 29, entre as 10h e as 13h. A iniciativa da Lusíadas Saúde com apoio do Expresso, que pode ser assistida em direto no Facebook do semanário, vai juntar peritos e profissionais em torno da discussão do futuro da classe, do seu papel no combate às doenças crónicas e na sensibilização da população. “Os enfermeiros promovem a literacia”, sublinha Sofia Couto da Rocha, que considera esta uma função crucial “para compensar o tempo de atraso em muitos diagnósticos [em tempo de covid-19] e o impacto futuro na gestão de muitas doenças crónicas”.
é o número de enfermeiros que o Ministério das Finanças autorizou integrar no SNS em maio para a linha da frente no combate ao novo coronavírus
O que é
O Lusíadas Nursing Summit, organizado pela Lusíadas Saúde com apoio do Expresso, junta especialistas nacionais e internacionais em torno da discussão do futuro da enfermagem, dos seus desafios e da forma como a tecnologia pode ajudar a enfrentá-los.
Quando, onde e a que horas?
Sábado, 29 de maio, entre as 10h e as 13h no Facebook do Expresso
Quem são os oradores?
- Dulce Gonçalves, presidente do Conselho de Enfermagem da Lusíadas Saúde
- Mónica Costa, Enfermeira Responsável na Neonatologia e Unidade de Cuidados Intermédios de Pediatria do Hospital de Cascais Dr. José de Almeida
- Lucília Nunes, Professora Coordenadora da Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico de Setúbal
- Francina Taveira, Enfermeira na Unidade de Cuidados Intensivos do Hospital Lusíadas Porto
- Fábio Cunha, Enfermeiro Especialista no Internamento de Ginecologia-Obstetrícia do Hospital Lusíadas Porto
- Fernando Carvalhão, Enfermeiro Coordenador na Clínica Lusíadas Almada
- Raquel Francisco, Enfermeira Responsável da Unidade de Cuidados Intensivos do Hospital Lusíadas Lisboa
- Jorge Nunes, Médico Coordenador da Unidade de Cuidados Intensivos do Hospital Lusíadas Lisboa
- Susana Moreira da Silva, Diretora de Recursos Humanos da Lusíadas Saúde
- Duarte Moreira, Enfermeiro Diretor do Hospital Lusíadas Porto
- Lurdes Alvarez, Enfermeira Responsável pela Gestão de Alta Hospitalar no Hospital de Cascais
- Rui Anselmo, Enfermeiro no Hospital de Dia Cirúrgico do Hospital de Cascais
- Patrizia Vasconcelos, Coordenadora de Enfermagem Homecare na AMIL
- Andreia Duarte, Enfermeira na Consulta Externa do Hospital Lusíadas Braga e no Lusíadas em Casa
- Marisa Anjos, Enfermeira Responsável do Centro de Procriação Medicamente Assistida do Hospital Lusíadas Lisboa
- Melinda Sawyer, vice-presidente Clinical Quality & Patient Safety United Healthcare Global
- Carmen Gaudêncio, Enfermeira Coordenadora do Internamento e Adjunta da Direção de Enfermagem do Hospital de Cascais
- Vera Lopes, Enfermeira Especialista na Unidade Materno-Infantil da Clínica de Santo António
- Isabel Pereira Lopes, Enfermeira Diretora da Qualidade e Segurança da Lusíadas Saúde
- Ana Duarte Ferreira, Psicóloga Clínica do Hospital Lusíadas Lisboa e responsável pelo Apoio à 2ª Vítima
- Julia Zhou, empreendedora
Porque é que este tema é central?
Em jeito de “reconhecimento e elogio à enfermagem”, o evento surge após 14 intensos meses de combate a uma crise sanitária sem precedentes. Apesar de ainda não estar terminada, a pandemia mostrou que existem desafios a resolver e forçou a importância de pensar os cuidados de saúde do futuro, percebendo de que forma pode ser colocado ao serviço de uma sociedade com carências e exigências diferentes. O papel da tecnologia, dos cuidados de proximidade, da intervenção dos enfermeiros na área da saúde mental ou a capacidade de adaptação a situações extremas serão os principais temas em debate.
Como posso ver?
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