Projetos Expresso

Filipe Froes: “O principal risco das vacinas é não serem administradas e exporem as pessoas a uma doença prevenível pela vacinação”

Avanços na ciência durante pandemia podem originar novas vacinas para doenças oncológicas ou degenerativas, dizem peritos
Avanços na ciência durante pandemia podem originar novas vacinas para doenças oncológicas ou degenerativas, dizem peritos
Jose Fernandes

Projetos Expresso. Na semana em que se celebra a importância da imunização, o pneumologista renova a confiança na ciência e nos sistemas de farmacovigilância. À segunda-feira, o “Mais Saúde, Mais Europa” reúne os principais eventos dos próximos dias, numa iniciativa do Expresso com o apoio da Apifarma

Francisco de Almeida Fernandes

Imunização e inoculação são hoje termos comuns à maioria da população mundial, que ao longo dos últimos 16 meses foi assolada pela covid-19. Como nunca antes tinha acontecido, o desenvolvimento de uma vacina que permite garantir imunidade contra o novo coronavírus demorou menos de um ano, contra os sete a dez anos de tempo médio. “Compreendo que a rapidez com que pudemos ter vacinas disponíveis possa desencadear algum receio nas pessoas menos informadas sobre o processo de desenvolvimento e aprovação das vacinas. No entanto, esse receio não tem razão de ser”, garante ao Expresso Hélder Mota Filipe. O professor da Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa lembra que esta conquista só foi possível graças à investigação que vinha sendo feita há vários anos. “Todas as etapas necessárias para o seu desenvolvimento e o grau de exigência foram os mesmos que se pedem a qualquer outra nova vacina na Europa”, aponta.

Na semana em que se celebra a importância desta arma terapêutica, o pneumologista Filipe Froes sublinha que os receios sentidos pelas pessoas em relação a potenciais efeitos secundários destes fármacos não são justificados. “Pudemos constatar a robustez, a precocidade e a fiabilidade dos sistemas de farmacovigilância”, refere. O especialista acredita que os mecanismos que controlam a eficácia e os riscos associados provaram “a sua importância na segurança de todos os medicamentos disponíveis e na tranquilização da população”. Já o professor da Faculdade de Farmácia admite considerar que a questão do equilíbrio entre os efeitos adversos das vacinas covid-19 e os seus benefícios “não têm sido claramente explicados”. “Não há um único medicamento que não tenha riscos. O que é fundamental é que conheçamos bem o potencial de desenvolvimento de efeitos adversos e garantir que o benefício da sua utilização é largamente superior”, explica Hélder Mota Filipe.

“O que estamos a observar no caso das vacinas contra a covid-19 apenas demonstra que o sistema de farmacovigilância está a funcionar adequadamente”, sublinha Hélder Mota Filipe, professor da Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa

Para Filipe Froes, “o principal risco das vacinas é não serem administradas e exporem as pessoas a uma doença prevenível pela vacinação”. O pneumologista sublinha ainda o avanço da investigação científica durante a pandemia que, diz, abre portas a uma maior e melhor preparação dos países a futuras ameaças semelhantes. Estas conquistas podem levar ao aparecimento de “novas vacinas para algumas doenças oncológicas, degenerativas e neurológicas”, algo em que coloca grande expectativa nos próximos anos.

O esforço da comunidade europeia para garantir a aquisição em massa de vacinas contra a covid-19 deverá manter-se para garantir uma União Europeia mais resiliente e socialmente justa. A Presidência Portuguesa do Conselho da UE, cuja atividade é acompanhada em permanência pelo projeto “Mais Saúde, Mais Europa”, tem contribuído para esta missão comum. Além de dois artigos semanais, a iniciativa do Expresso com o apoio da Apifarma pretende fomentar o debate em torno das principais questões na saúde com o evento “Cancro: Cada Dia Conta”, a 26 de maio.

Conheça os principais eventos desta semana:

Terça-feira, 27

  • Um dos principais objetivos da Organização Mundial de Saúde (OMS) para a próxima década é a erradicação das doenças infecciosas no mundo, as hepatites virais ou o VIH. Neste último caso, Filipe Froes acredita que surgirá “uma vacina contra o vírus da imunodeficiência humana” que permita melhorar a qualidade de vida dos doentes.
  • A conferência «Doenças infeciosas emergentes e respetivos desafios ambientais, clínicos e translacionais», organizada pela presidência através do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, vai procurar perceber quais os aspetos que se tornaram mais prementes durante a pandemia e que têm efeito nestas maleitas.
  • O evento, que decorre entre as 09h e as 17h30, contará com a presença de peritos internacionais na área da biologia molecular, imunologia, desenvolvimento de vacinas e doenças infecciosas para debater desafios e oportunidades para a investigação científica nesta área. “Esta pandemia demonstrou que uma estratégia envolvendo as diversas partes interessadas, com a colaboração da indústria farmacêutica, das universidades e institutos de investigação, das autoridades regulamentares e o financiamento adequado, pode acelerar muito o aparecimento de respostas terapêuticas muito importantes”, diz Hélder Mota Filipe.
  • Já sobre o objetivo definido pela OMS para 2030, Filipe Froes diz ser “impossível erradicar as doenças infecciosas”, uma vez que a maioria da biomassa da Terra é constituída por bactérias e outros microrganismos. Em alternativa, “as vacinas, o uso adequado de antibióticos e o desenvolvimento de novos meios de diagnóstico e de terapêutica” são as ferramentas que devemos usar para controlar estas doenças, defende o especialista.
  • A participação na conferência é gratuita e livre, mediante inscrição prévia através deste link.

Quinta-feira, 29

  • Nos dias 29 e 30, o Infarmed e o Ministério da Saúde organizam um evento dedicado ao tema do «Acesso a medicamentos e dispositivos médicos», cuja discussão estará centrada nas questões da disponibilidade, acessibilidade e sustentabilidade na saúde.
  • Diminuir as desigualdades entre Estados-membros no tempo de espera de um doente para ter acesso a um tratamento ou medicamento inovador é um dos grandes objetivos da Presidência Portuguesa, que está a liderar as negociações com o Parlamento Europeu para a aprovação da legislação sobre Avaliação de Tecnologias de Saúde.
  • Rui Santos Ivo, presidente do Infarmed e o líder do grupo de trabalho, diz que esta lei, se aprovada, vai “acelerar e robustecer a avaliação de novos medicamentos [na Europa] em benefício dos sistemas de saúde e dos cidadãos”. Para assistir à conferência, basta inscrever-se antecipadamente no site oficial.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

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