Horizonte 2030

Para resolver a epidemia de VIH basta “colocar o tema na agenda dos políticos”

No primeiro debate, moderado pela jornalista da SIC Marta Atalaya, participaram Andreia Ferreira (Ser+), Cristina Sousa (Abraço), Isabel Aldir (médica), Maria Eugénia Saraiva (Liga Portuguesa Contra a SIDA) e Ricardo Mexia (médico de Saúde Pública)
No primeiro debate, moderado pela jornalista da SIC Marta Atalaya, participaram Andreia Ferreira (Ser+), Cristina Sousa (Abraço), Isabel Aldir (médica), Maria Eugénia Saraiva (Liga Portuguesa Contra a SIDA) e Ricardo Mexia (médico de Saúde Pública)
NUNO FOX

Criar estratégias de prevenção e promoção da literacia na população e entre os profissionais de saúde é, acreditam os especialistas, essencial para o sucesso no combate ao vírus. Mas tornar esta uma questão prioritária para os políticos é também fundamental, defende a Liga Portuguesa Contra a SIDA

Francisco de Almeida Fernandes

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Garantir que Portugal cumpre os objetivos internacionais com que se comprometeu para o controlo da infeção por VIH até 2030 depende, sobretudo, de três fatores: aposta na prevenção e literacia, coordenação entre serviços de saúde e as organizações de base comunitária, e vontade política. Este é uma das conclusões consensuais entre os especialistas que compõem o Conselho Consultivo do Horizonte 2030, projeto do Expresso com apoio da ViiV Healthcare, e que participaram, esta terça-feira, na última conferência sobre VIH/SIDA.

Para Maria Eugénia Saraiva, presidente da Liga Portuguesa Contra a SIDA, é “muito fácil” resolver a epidemia – basta, para isso, “colocar o tema na agenda dos políticos”. A ironia da líder desta organização não-governamental é também uma provocação para chamar à atenção das dificuldades no financiamento que estas instituições enfrentam ano após ano. “Todos vivemos um estrangulamento financeiro”, lamenta. Sem estabilidade nas contas, estas entidades enfrentam grandes desafios na concretização daquela que é a sua principal missão: servir de braço direito do Serviço Nacional de Saúde (SNS) para prevenir, diagnosticar e apoiar o tratamento de quem vive com VIH. Em causa está o fim de vários projetos financiados pelo Ministério da Saúde e o tempo até à sua renovação.

Margarida Tavares, secretária de Estado para a Promoção da Saúde, reconheceu os desafios que permanecem na redução dos diagnósticos tardios, mas reforçou o empenho do Ministério da Saúde nesta matéria. Alargamento da PrEP às organizações de base comunitária é, garante, uma prioridade
NUNO FOX

A secretária de Estado para a Promoção da Saúde, Margarida Tavares, reconhece o problema e garante, em declarações ao Expresso, que “vai ser resolvido muito breve”. “Temos de encontrar uma forma mais fisiológica, mais óbvia, mais sustentável de acolher a participação das organizações de base comunitária como parceiros do SNS e dar mais dignidade a essa parceria”, sublinhou.

Conheça as principais conclusões:

Estratégia 95-95-95

  • O principal objetivo de Portugal e dos seus parceiros internacionais que subscreveram o repto lançado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) é chegar ao final da década com a epidemia controlada. A intenção é garantir que 95% das pessoas com VIH são diagnosticadas, que 95% dessas são tratadas e que em 95% dos casos seja possível atingir a carga viral indetetável.
  • Isabel Aldir, que além de infeciologista é também conselheira do Presidente da República para a saúde, defende que já muito foi alcançado nas últimas décadas. Porém, alerta, “o desafio é agora muito maior” na identificação dos casos ainda por detetar. “As realidades [regionais] são muito diferentes. Temos de conseguir encontrar estratégias para as diferentes realidades”, aponta.
"Tratamento e o acesso à inovação terapêutica é muito importante para que Portugal continue a estar na linha da frente no combate a esta pandemia", considera André Mendes, country manager da ViiV Healthcare
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  • Um exemplo passa pela criação de parcerias entre as organizações de base comunitária e os cuidados de saúde primários para aumentar os diagnósticos precoces. A Liga Portuguesa Contra a SIDA tem feito este trabalho em Loures e Odivelas, onde criou gabinetes, dentro dos centros de saúde, para apoiar a testagem, o acompanhamento das pessoas testadas e para a literacia junto dos profissionais de saúde sobre VIH/SIDA.
  • Combater o estigma e a discriminação é, para os especialistas, uma das principais prioridades. “Há estigma dentro dos cuidados de saúde e isso não é bom”, admite a enfermeira Catarina Esteves, do Hospital de Cascais, que vê na comunicação a resposta para desfazer mitos sobre a infeção.
  • Luís Mendão, do GAT, alerta para o impacto do estigma na qualidade de vida de quem vive com VIH, mas chama à atenção também para a importância de as sociedades encararem a questão do envelhecimento. “Isso traz desafios em termos de saúde”, reforça.
O segundo painel de reflexão, sobre qualidade de vida, contou com Catarina Esteves (Hospital de Cascais), Gonçalo Figueiredo Augusto (Escola Nacional de Saúde Pública), Ricardo Baptista Leite (médico) e Sónia Dias (Escola Nacional de Saúde Pública).
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