Horizonte 2030

Prevenir infeção VIH através de medicação. Mito ou realidade?

Prevenir infeção VIH através de medicação. Mito ou realidade?
Carlos Monteiro

Primeiras consultas para acesso à profilaxia pré-exposição (PrEP) enfrentam prazos de espera até seis meses, confirmam ao Expresso duas especialistas em infeciologia. Aumentar disponibilidade da medicação na população é um dos desafios no combate à epidemia

A prevenção da infeção VIH depende de diferentes ferramentas de saúde – mais literacia, maior número de testes, utilização de meios contracetivos e acesso à profilaxia pré-exposição (PrEP). Esta última, embora considerada eficaz para pessoas com maior risco, continua a ser difícil chegar ao medicamento. “O problema não é o acesso, é a capacidade de resposta”, afiança Patrícia Pacheco. A diretora de infeciologia do Hospital Fernando da Fonseca, na Amadora, diz mesmo que, no seu serviço, as “primeiras consultas” estão a ser marcadas para janeiro. No Hospital de São João, no Porto, o agendamento “está com três meses de atraso”, assegura Rosário Serrão, responsável pelo atendimento de VIH/SIDA. Mas por que razão é a PrEP tão importante?

Para combater a desinformação, o projeto Horizonte 2030, criado pelo Expresso com apoio da ViiV Healthcare, dedica esta semana à desconstrução de cinco dos principais mitos em torno da infeção.

Mito 5

Não é possível transmitir VIH através de sexo oral

Ainda que o risco seja “baixo”, é possível contrair o vírus da imunodeficiência com a prática de sexo oral. A evidência científica esclarece que a transmissão pode acontecer mais facilmente quando não é utilizada uma barreira física, como o preservativo, ou quando existem secreções sexuais, como o líquido pré-ejaculatório, esperma ou secreções vaginais. “Costumo dizer que a transmissão do vírus por sexo oral é muito rara, mas depende muito”, atesta a infeciologista Rosário Serrão. O grau de probabilidade está associado a vários fatores, sendo um dos principais a existência de feridas. “Se houver lesões, pode ser uma porta de entrada”, afirma.

Além do VIH, o sexo oral pode ainda ser uma via de transmissão de outras infeções sexualmente transmissíveis, nomeadamente sífilis, gonorreia, clamídia ou herpes, entre outras. Por essa razão, a utilização de contraceção é sempre recomendada.

Desafio

Aumentar acesso à profilaxia pré-exposição

O palavrão desconhecido para muitos é normalmente abreviado para PrEP e não é mais do que um medicamento preventivo, que permite reduzir drasticamente as hipóteses de contrair VIH durante a prática de relações sexuais desprotegidas. Contrariando o preconceito sobre a quem se dirige, os especialistas garantem que esta é uma opção que deve ser considerada por todos os adultos sexualmente ativos, independentemente da orientação sexual, do género ou país de origem.

Porém, o Serviço Nacional de Saúde (SNS) tem evidenciado dificuldades na resposta à procura de cada vez mais utentes. “A nossa capacidade de resposta não é suficiente”, explica Patrícia Pacheco, que considera essencial seguir o exemplo de outros países, como o Reino Unido, onde o apoio é oferecido em clínicas de saúde sexual. “Se [a consulta] continuar apenas em meio hospitalar e cingido a especialistas de infeciologia, não vamos ter capacidade porque somos muito poucos”, acrescenta. No Porto, o São João estabeleceu parceria com organizações de base comunitária para criar pontos de atendimento descentralizados. “Uma vez por semana, enviamos um médico e um enfermeiro para fazer a consulta normal como se fosse no hospital”, exemplifica Rosário Serrão.

Apostar no aumento de pessoas em PrEP deve ser, considera Patrícia Pacheco, uma prioridade, tendo em conta os seus efeitos positivos. “Devíamos ter mais pessoas em PrEP”, critica, enquanto deixa claro que a situação que se vive no Amadora-Sintra acontece, com mais ou menos demora, em “todos os hospitais”. De acordo com o portal do SNS, o tempo médio de espera para acesso à consulta no Hospital Santa Maria, em Lisboa, (o único incluído na lista publicada pelo Ministério da Saúde e com dados referentes ao período entre 1 de abril e 30 de junho) atinge os 83 dias.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

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