Horizonte 2030

I=I, a fórmula sobre VIH que muitos ainda desconhecem

I=I, a fórmula sobre VIH que muitos ainda desconhecem
Carlos Monteiro

Manter relações sexuais com uma pessoa portadora do vírus é ou não seguro? Esta é a questão a que o Expresso procura responder com o apoio de especialistas em saúde, na semana que dedica à desconstrução dos mitos em torno do VIH

Viver com o vírus da imunodeficiência humana (VIH) não precisa de ser um fardo, mas, para que assim não seja, é importante aprofundar o conhecimento sobre a infeção, a forma como acontece e, acima de tudo, como a prevenir. Apesar do longo caminho percorrido desde a descoberta dos primeiros casos, o estigma e a discriminação continuam a fazer parte do dia-a-dia dos portadores de VIH.

Para combater a desinformação, o projeto Horizonte 2030, criado pelo Expresso com apoio da ViiV Healthcare, dedica esta semana à desconstrução de cinco dos principais mitos em torno da infeção.

Mito 4

Pessoas com VIH não podem ter relações sexuais seguras

A resposta é curta e direta, explica ao Expresso a responsável pelas consultas de VIH/SIDA do Hospital de São João, Rosário Serrão. “É um mito”, assegura. É, portanto, seguro manter relações sexuais protegidas com uma pessoa infetada com VIH, desde que esta esteja “em tratamento antiretrovírico” e o vírus esteja “controlado”. Isto é hoje possível graças aos avanços da ciência e à evolução da medicação para a infeção VIH, que permite a um indivíduo que cumpra escrupulosamente o tratamento atingir um patamar em que “a carga vírica é indetetável”. O tempo até chegar a esse resultado depende da resposta do sistema imunitário de cada um e apenas depois do vírus ser indetetável pode dizer-se que não existe transmissão.

Apesar de comprovado pela ciência, o médico de saúde pública Gonçalo Figueiredo Augusto diz, sobre esta questão, que o estigma “continua a existir mesmo por parte dos médicos”. No entanto, Rosário Serrão lembra que a fórmula I=I significa apenas e só que o portador do vírus não infeta o/a parceiro/a com VIH. “As outras infeções sexualmente transmissíveis (IST) podem ser adquiridas não usando o preservativo”, aponta. Entre as mais comuns, estão, por exemplo, a sífilis, clamídia ou gonorreia e qualquer pessoa sexualmente ativa pode contraí-las.

Desafio

Informar a população sobre a fórmula I=I

“Ninguém diria que teria uma relação sexual desprotegida com uma pessoa com VIH. No entanto, isso é muitas vezes mais seguro do que ter uma relação sexual desprotegida com alguém cujo status de VIH não conhecemos”, exemplifica Gonçalo Figueiredo Augusto. O médico alerta, no entanto, que o sexo desprotegido deve ser sempre evitado e reforça que a infeção por VIH é “evitável”, pelo que a utilização de meios contracetivos não deve ser descurada.

Além das formas tradicionais de proteção durante a prática sexual, os especialistas que integram o Conselho Consultivo do projeto Horizonte 2030 defendem, de uma forma geral, que o acesso ao autoteste para VIH deve ser aumentado. “Saiba o status, faça o teste”, afirma o perito. À semelhança do que acontece com o autoteste para a covid-19, o do VIH também pode ser encontrado nas farmácias, com um custo a rondar os €20. É ainda possível fazer o teste de forma gratuita através do seu médico de família ou, de forma anónima, em qualquer organização de base comunitária – o Grupo de Ativistas por Tratamentos (GAT), a Ser+, a Abraço ou o Centro de Aconselhamento e Deteção do VIH/SIDA (CAD) são algumas das opções disponíveis.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

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