Perder a vida por infeção de VIH ou SIDA não é, hoje, uma realidade comum em Portugal e em grande parte dos países da União Europeia, embora continuem a registar-se mortes por estas causas. Apesar do vírus representar perigo para a saúde, os números têm vindo a diminuir ao longo das décadas – em território nacional, entre 1984 e 2019, registaram-se 15.213 mortes por VIH e 10.905 por SIDA, de acordo com os últimos dados disponibilizados pela Direção-Geral da Saúde (DGS). Mas será que um diagnóstico de infeção por VIH significa receber uma sentença de morte?
Para combater a desinformação, o projeto Horizonte 2030, criado pelo Expresso com apoio da ViiV Healthcare, dedica esta semana à desconstrução de cinco dos principais mitos em torno da infeção.
Ter VIH é uma sentença de morte
Fernando Maltez, diretor do Serviço de Infeciologia do Hospital Curry Cabral, em Lisboa, é categórico: receber o diagnóstico de infeção por VIH “obviamente não é [uma sentença de morte]”. Na década de 80, o desconhecimento e a consequente ausência de terapêuticas para combater o vírus permitiam a evolução para o estado de doença, o Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (SIDA), que diminuía drasticamente a hipótese de sobrevivência. “Quando os doentes apareciam com infeção tinham uma esperança média de vida que não ia além dos 18 meses”, recorda o especialista.
Hoje, porém, o cenário é muito diferente. O surgimento dos primeiros antiretrovirais – medicamentos que permitem inibir a replicação viral – permitiu ganhar novas formas de lutar contra a infeção. “A evolução terapêutica tem sido um acontecimento sem paralelo”, explica Fernando Maltez, que não tem dúvidas de que, hoje, pessoas infetadas com VIH “podem ter excelente qualidade de vida”. Para isso, é necessário seguir as indicações médicas e tomar a medicação diária recomendada. “Se, de facto, o fizerem, poderá ser uma doença crónica como é a diabetes ou a hipertensão”, sublinha.
Desafio
Cumprir a estratégia 95-95-95
Até 2030, a Organização Mundial de Saúde (OMS) quer reduzir ao mínimo possível o número de novas infeções por VIH para controlar a epidemia que dura há mais de 40 anos. A meta está cada vez mais próxima, acredita Fernando Maltez, que vê na estratégia 95-95-95 a luz ao fundo do túnel – garantir que 95% das pessoas infetadas conhece o seu estado serológico, conseguir que 95% destas esteja em tratamento e assegurar que 95% das pessoas em tratamento tenham a carga viral suprimida.
Com o aumento da informação sobre o vírus, a desejável melhoria no acesso aos cuidados de saúde e uma maior adesão à terapêutica, o infeciologista defende que “é possível” cumprir a expectativa. “Para isso, é fundamental que a pessoa infetada não fuja de saber o diagnóstico, que aceda aos cuidados de saúde e que cumpra as indicações dos seus médicos”, remata.
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