Acelerador de Sustentabilidade

Soluções para um imobiliário mais amigo do ambiente

Soluções para um imobiliário mais amigo do ambiente
Ilustração: Carlos Monteiro

Guia: é um dos sectores mais tradicionais e onde o preço ainda é um entrave a soluções mais verdes. Mas no futuro a construção será mais flexível e modular, como os Legos, e os edifícios vão consumir menos matérias-primas, energia e água

Ana Baptista

O sector da construção e do imobiliário envolve uma longa cadeia de valor, e por isso as práticas sustentáveis devem ser aplicadas de forma abrangente. Seja no estaleiro ou na escolha da torneira. Porque a sustentabilidade — que inclui a transparência nos negócios e o respeito pelos trabalhadores — é “uma obrigação moral”, diz o CEO da promotora Habitat Invest, Luís Correa de Barros. E vai ser também a garantia de que as empresas sobrevivem. Nas palavras da presidente da Plataforma Tecnológica Portuguesa da Construção (PTPC), Rita Moura, os investidores exigem-no às empresas grandes, que, em contrapartida, terão o mesmo tipo de exigências para com as mais pequenas. Pense num ciclo virtuoso.

Por onde começo?

Pela eficiência de recursos naturais, energia e materiais, ou seja, consumir de forma mais amiga do ambiente, dentro da própria empresa, mas também nos produtos e serviços que faz e/ou fornece e/ou nos edifícios que constrói.

Como assim?

Há soluções que se podem aplicar nas duas situações. Se tiver uma empresa de construção, tem de reduzir os resíduos que produz, reutilizando-os e/ou transformando-os em novos produtos ou em energia. Uma preocupação que também deve ter no edifício que está a construir, por exemplo instalando uma central de compostagem. A mesma lógica é válida no tratamento e aproveitamento de águas sujas ou da chuva, na instalação de sistemas digitais de gestão de consumos de eletricidade, na utilização de lâmpadas de baixo consumo, de sistemas de ventilação natural ou até de torneiras com redução de caudal. Aliás, de acordo com novas regras da Comissão Europeia, um edifício só é considerado sustentável se usar “torneiras com um débito máximo de seis litros de água por minuto”. Deve ainda apostar na instalação de renováveis, tanto para aquecimento de águas como para a produção de eletricidade.

Painéis solares?

Tente pensar além disso. Se integrar uma comunidade de energia — que significa juntar-se a outras empresas para instalar um sistema renovável, partilhando o investimento e a eletricidade produzida —, pode construir um parque eólico. Mas para um projeto de pequena escala há telhas, janelas e até fachadas que incorporam painéis solares. Ou uma turbina eólica, sem pás e com quatro metros de altura, cuja produção de energia pode substituir a de oito painéis solares. Ou ainda fazer como o Time Out Market, em Lisboa, que, por estar num edifício cujo teto não permite instalar painéis solares, está a estudar a colocação de um tapete que gera energia com o movimento dos passos dos visitantes. Neste âmbito, também já há soluções para produzir energia através do movimento gerado pelos clientes nos ginásios dos hotéis.

E que materiais devo produzir ou usar?

Invista em materiais, produtos e equipamentos duradouros, para evitar o consumo de mais recursos naturais. Como diz Rita Moura, a tendência é “usar tudo o que já existe, e não materiais virgens”. Além disso, sempre que puder, substitua o cimento e o betão por madeira ou cortiça, que são materiais captadores de carbono, repara Pedro Mota, consultor da EY. O mesmo é válido para os equipamentos como os eletrodomésticos, que, além de gastarem menos energia, devem ou ser mais duradouros ou mais fáceis de reparar.

O que posso fazer durante a construção e reabilitação?

Atuar logo na fase do projeto, que tem de considerar as condições climáticas do local para reduzir o consumo de energia no interior, mas também tem de ter em conta que os edifícios podem durar mais de 100 anos e, por isso, têm de ter um desenho “adaptável e flexível”, diz Rita Moura. Na fase de obra, a tendência atual é construir tudo numa fábrica — incluindo as paredes e as instalações elétricas — e depois montar no terreno (off-site). A Casais recorreu a essa solução num hotel em Guimarães e o CEO, António Rodrigues, diz que “reduziu para um terço a quantidade de betão, substituindo-o por madeira”. Além disso, construíram “oito pisos em quatro dias”.

Enquanto promotor, o que posso fazer?

Mostrar as vantagens. Uma casa pode ser mais cara se tiver janelas de vidro duplo ou triplo, porque depois não se gasta tanta energia para a aquecer e arrefecer. E incentivar. Por exemplo, para ilustrar os benefícios da mobilidade sustentável, a Habitat Invest ofereceu um Citroën AMI a quem comprou casas no edifício Aurya, em Loures.

Há apoios públicos e privados para isto tudo?

Há, pelo menos, €11,2 mil milhões de fundos públicos, dos quais €7057 milhões são do Portugal 2030 e €4012 milhões do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). Estes apoios são para melhorar a eficiência energética e para reabilitar edifícios, mas também para a construção de habitação social, acessível e para estudantes. Quanto aos privados, os bancos têm linhas de crédito com condições específicas para estes projetos, mesmo em tempo de juros mais altos.

Como me candidato?

Para o PRR, use os sites do IAPMEI, Fundo Ambiental e Balcão 2020. Para o PT 2030, ainda não há dados concretos, porque arranca em janeiro de 2023.

O acelerador das empresas

Seis meses, seis sessões de formação, seis eventos em seis cidades, seis temas — descarbonização, energias renováveis, turismo, agricultura e imobiliário mais sustentáveis e economia circular. Esta é a base do Acelerador de Sustentabilidade, um projeto para as pequenas e médias empresas (PME) organizado pelo Expresso e o BPI e que reúne de forma prática estratégias, conselhos e passos para descarbonizar e ter um negócio sustentável a nível financeiro e ambiental, porque a hora é de mudança.

Textos originalmente publicados no Expresso de 23 de dezembro de 2022

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

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