Fintechs: ecossistema português com mais potencial do que outros mercados do sul da Europa

Jornalista
O VIPE, programa de aceleração da Visa para impulsionar o mercado das fintechs (organizações que oferecem serviços financeiros que se diferenciam pelas facilidades proporcionadas pela tecnologia) encerrou a primeira edição nacional, realizada em conjunto com Espanha, com a garantia de continuidade do projeto. Durante o evento Visa Innovation Program Europe Summit Portugal Edition que decorreu na Fintech House, em Lisboa, no dia 30 de janeiro, estiveram presentes representantes das oito fintechs selecionadas no âmbito do programa - Coverflex, Fraudio, Holywally, Goscore, Toqio, Dedomena AI, Reveni e Dogood People -, cujas soluções vão ao encontro de alguns dos maiores desafios que o sector financeiro enfrenta atualmente, como a deteção de fraudes, o acesso inclusivo ao financiamento, carteiras digitais, novos modelos de benefícios para colaboradores, a IA aplicada aos dados, gestão de devoluções de compras online e embedded Finance (integração de serviços financeiros em contextos não bancários). Os casos de sucesso das empresas participantes em 2023, entre as quais as portuguesas Coverflex, Fraudio e Holywally - serviram de plataforma para fomentar o diálogo em torno do futuro dos pagamentos digitais.
Depois de uma primeira edição em Espanha, que já contou com empresas nacionais, o alargamento a Portugal foi “muito natural” e o “balanço do programa é positivo”. Eva Ruiz, Responsável Visa de Fintech para o Sul da Europa, revelou que a estreia em Lisboa teve também como objetivo tornar as finetchs portuguesas “disponíveis para os bancos e empresas” e, em simultâneo, “construir um pouco o ecossistema e a gerar envolvimento”. Com um total 111 candidaturas, todas com um interesse específico nos mercados espanhol e português, foram selecionadas oito empresas, a partir da análise realizada por especialistas da Visa, da Hackquarters e da Fintech Solutions, tendo em conta conhecimentos, ambição de crescimento e modelos de negócio com potencial para serem escaláveis a nível global. A relevância das soluções do trabalho socioeconómico realizado pelas oito fintechs foi reconhecido durante a conferência, em que se destacou o dinamismo da indústria de pagamentos em Portugal, e em todo o mundo.
Impulsionar experiências de pagamento disruptivas
“O ecossistema português tem muito potencial porque culturalmente os portugueses estão mais habituados e preparados mentalmente em procurar além-fronteiras”, sintetiza Eva Ruiz para explicar que “sendo Portugal um mercado pequeno, as startups têm de pensar na expansão desde o primeiro dia de existência e, neste contexto, denotam um espírito empreendedor surpreendente, com capacidades linguísticas melhores do que se encontram noutros mercados do sul da Europa”. A responsável da Visa apontou ainda outras vantagens encontradas no contexto nacional: “Portugal, neste caso Lisboa como um dos seus principais hubs, atrai talentos estrangeiros, apresenta um contexto favorável para certo tipo de atividade, como blockchain e cripto, que atrai talentos interessantes para a cidade, gerando um ecossistema rico, diversificado e vibrante, e com as melhores ligações para investidores estrangeiros, apresentando ainda uma percentagem significativa de unicórnios face ao número de startups, maior do que em outros países do sul da Europa.”
Durante o programa, as fintechs tiveram a oportunidade de contribuir para impulsionar experiências de pagamento disruptivas, capacitar os comerciantes e as PME, promover novos fluxos de pagamento e construir um futuro inteligente e sustentável com finanças integradas.
Gonçalo Santos, Country Manager da Visa em Portugal, revelou que, durante esta edição, apresentaram as empresas do programa a perto de 90 parceiros: “Estão já a ser exploradas 25 parcerias, número que reflete o espírito do programa, em que conseguimos ligar o ecossistema das fintech aos nossos clientes e parceiros, atuando como uma rede aberta e proporcionando a visibilidade necessária para escalarem os negócios”. Prometeu ainda que a intenção é “continuar a contribuir para o desenvolvimento dos pagamentos do futuro e para o dinamismo do mercado português".
Eva Ruiz anunciou, desde já, que a ideia é complementar a próxima edição com a temática da “embedded finances”, que considera “um grande tópico”, uma vez que para os parceiros financeiros, é muito importante “ter uma janela para as capacidades disruptivas que as fintechs podem trazer”. Enquanto na primeira edição do Visa Innovation Program Europe (VIPE) as empresas selecionadas tinham capacidades dirigidas ao consumidor final, na segunda destacaram-se “players B2B puros”.
Kaan Akın, CEO e fundador da Hackquarters by Tenity, sublinhou igualmente “a qualidade do ecossistema português e espanhol e a diferenciação e inovação das soluções, continuam a abrir novos horizontes e a demonstrar que a inovação contribui realmente para o desenvolvimento económico e para uma maior qualidade de vida”. Falou ainda “deste contexto, combinado com os poderosos recursos disponíveis no Visa Innovation Program Europe” como “a fórmula para o sucesso". Já António Veiga Ferrão, Diretor Executivo da Fintech Solutions, acentuou que “o programa funciona verdadeiramente como plataforma nacional e europeia e destacou que o “objetivo é levar ainda mais longe o VIPE e utilizá-lo como rampa de internacionalização das fintech nacionais".
Eva Ruiz recordou que o programa já conta com um unicórnio a nível internacional, a Payhawk, uma empresa de soluções de pagamentos de despesas, que graças ao VIPE recebeu 1200 candidaturas em cinco anos, e 100 POC - colaborações que conseguiriam concretizar – passando de quatro para sete mercados (Grécia, Chipre, Malta, Turquia, Espanha, Portugal e Itália) e promovendo parcerias, com bancos, retalho, fintechs e com a própria Visa. “Muitos casos de sucesso não são manchetes nos media porque se mantém reservada por ser vista como uma vantagem competitiva”.
Apelo a maior participação de mulheres
No que se refere ao futuro imediato do programa, a responsável da Visa para os mercados do sul da Europa aponta a importância de “conectar fintech cada vez mais a outros mercados, para explorar possibilidades de expansão”, recordando que em 2023, “apostamos em trabalhar com apadrinhamento”. Por último, frisa que “gostamos muitos dos nossos fundadores masculinos, mas lutamos muito para que as mulheres participem mais no programa e temos muitas mulheres a liderar na Visa. É uma questão-chave para nós e por isso queremos apelar às mulheres empreendedoras para que participem no VIPE”.
Devido à interação com o ecossistema, as inscrições no programa de aceleração de empresas tecnológicas de serviços financeiros Visa Innovation Program Europe estão sempre abertas, mas são esperadas para os próximos dias novidades sobre a edição de 2024.
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt