Da agricultura e da família à “fragilidade” do CDS: o que defendem os jovens da Juventude Popular em vésperas do congresso?
Francisco Camanho, presidente da JP, durante 31.º Congresso do CDS em Viseu
PAULO NOVAIS
Há três moções em cima da mesa para o Congresso Nacional. Catarina Marinho, Enide Menezes e Jorge Costa Braga vão a debate esta quarta-feira às 18h na redação do Expresso
Pela primeira vez em 50 anos, a Juventude Popular (JP) tem duas mulheres a candidatar-se à liderança, no congresso que vai ditar a sucessão de Francisco Camacho. Catarina Marinho (26 anos, 13 de militância) quer passar “Do Dizer Ao Fazer”. Já para Enide Menezes (23 anos, nove de militância), “O Motivo é Portugal”. Mas há também uma terceira moção estratégica global na mesa do XXVI Congresso. Jorge Costa Braga (21 anos, seis de militância) é o primeiro signatário de “Por uma Juventude Popular Popular”.
Os três vão estar na redação do Expresso na tarde desta quarta-feira (dia 12). O debate, emitido em direto no site, está marcado para as 18 horas.
Catarina Marinho e a vontade de fazer
A atual vice-presidente da Comunicação quer uma JP “mais eficiente, dinâmica, profissional e próxima dos seus militantes”. A moção que subscreve define três eixos (Liberdade, Pessoa e Responsabilidade) e divide as propostas em três fases de vida.
Na primeira, a Educação, defende um ensino “focada no aluno e não no Estado”. Reconhecendo que “a educação é a chave para travar a pobreza de qualquer sociedade e quebrar os ciclos de pobreza intergeracional”, define um objetivo: “ter um país educado e não um povo reduzido a ser conduzido ou escravizado”. Para isso defende mais segurança nas escolas, mais qualidade no ensino, a valorização dos profissionais e mais liberdade de escolha.
Na segunda, argumenta pela “independência e emancipação” dos jovens. Para tal, defende a “absolutamente indispensável” reforma fiscal e a valorização das carreiras. “Queremos desburocratizar, simplificar e reduzir o peso e a maçada do Estado sobre quem trabalha”, afirmam.
Na terceira, lança uma série de medidas de defesa da família, das propostas para a habitação aos incentivos à natalidade e promoção da segurança (com mais apoio para as forças de segurança e mais controlo na imigração). “Portugal tem de ser um país onde é possível constituir família, onde a esfera de liberdade natural das famílias é respeitada e onde a família é valorizada como bem e valor”, escrevem.
A nível interno, a moção que subscreve quer concelhias e distritais mais ativas, mas também estruturas nacionais mais profissionalizadas e mais diálogo político. O objetivo é também “aproximar os jovens da política”.
Enide Menezes e o “motivo Portugal”
“Sabemos que, nos dias que correm, não é fácil ser da JP”, escreve Enide Menezes na mensagem que acompanha a moção que escreve. Quando a “crença fundada em valores” tende a ser substituída “pelo facilitismo populista”, a atual secretária-adjunta nacional quer que a JP se afirme “a verdadeira casa dos jovens de Direita”.
Para tal não podem existir tabus. “Temos de ser capazes de falar de imigração regulada, sem esquecer a vertente humanista que sempre lhe foi tão próxima”, argumenta. Mas também defender “Estado parceiro ao invés de um Estado obstáculo” e “lutar contra o preconceito de que [a cultura] só é valorizada e apoiada pela Esquerda”.
Entre as principais bandeiras está a agricultura. A JP deve “voltar a posicionar-nos junto dos jovens agricultores” que têm sido “ignorados e negligenciados nas últimas governações”, afirma.
A moção não esquece a saúde (mais moderna, eficiente e com mais PPP), a educação (onde se impõe a necessidade de uma “reforma profunda do sistema de ensino” e um “ensino sem ideologias” e mais autónomo), a habitação (que deve ser “prioridade nacional”) e a economia (onde é urgente a “criação de um ambiente que favoreça a iniciativa privada”, que atraia “investimento” e valorize “trabalho, inovação e empreendedorismo”).
Jorge Costa Braga e a moção que não o coloca na corrida
A moção do presidente da distrital do Porto não tem como objetivo “almejar os cargos em disputa”, ou seja não pretende liderar os jovens do CDS. O foco é antes o rumo da Juventude Popular (e do CDS por extensão).
O diagnóstico é reservado. “A posição do CDS-Partido Popular e da Juventude Popular, nos últimos anos, tem sido a de uma mera força estanque”, lê-se no documento. “Não temos sido capazes de apresentar grandes propostas”, critica. E por isso, “a situação frágil em que o partido ainda se encontra acaba por se dever a esta ambiguidade”.
Para os subscritores, a JP não pode ter medo da “(injusta) atribuição de rótulos”. E deve apresentar as suas propostas, seja a reversão do acordo ortográfico ou “o fim à atribuição da instituição do casamento a pessoas do mesmo sexo”.
Para o grupo, a JP deve defender a reforma constitucional (interrompida com a queda do último governo), pautando pela descentralização e a construção de um “verdadeiro sistema semi-presidencialista” (com o Presidente da República a assumir a política externa e a fazer um mandato único mais longo).
Pela “CEE como projeto económico”, mas contra a “União Europeia como projeto político”, a querem que a JP defenda uma “postura portuguesa” no campo internacional na qual o país reforça as parcerias que lhe sejam mais favoráveis.
O Congresso da Juventude Popular realiza-se a 22 e 23 de fevereiro na Costa da Caparica, em Almada.