Geração E

Pais portugueses sentem dificuldade a falar de “segurança online ou do uso de redes sociais” com os filhos

Pais portugueses sentem dificuldade a falar de “segurança online ou do uso de redes sociais” com os filhos
Xavier Lorenzo

Pais sentem-se mais à vontade para falar com os filhos sobre temas que os próprios vivenciaram na juventude, explica, em entrevista ao Expresso, a psicóloga Ruth Ministro

Cátia Barros

Jornalista

Os pais portugueses estão mais à vontade para debater com os filhos temas como o consumo de álcool e de substâncias (56%), a religião (55%), a discriminação (54%) e o luto (35%), refere um estudo, realizado em parceria por TikTok e YouGov, que analisou as conversas entre adolescentes e pais de adolescentes sobre segurança online em geral. Além disso, o mesmo estudo conclui que “os adolescentes não se sentem à vontade para falar sobre questões como a imagem corporal (30%) e o tempo de ecrã (30%) com os pais”. Mas o que significam estes dados?

Os temas mais referidos pelos pais são “temas com que eles próprios [os pais] se confrontam na juventude e ao longo das suas vidas”, começa por esclarecer a psicóloga Ruth Ministro. É por isso que se sentem “mais seguros ao falar acerca deles, uma vez que têm algo a ensinar baseado nas suas vivências e conhecimentos adquiridos com nelas”. O mesmo não se verifica quando se fala de “segurança online ou do uso de redes sociais”.

Apesar de ter uma explicação, a psicóloga diz que é “preocupante que se verifique este abismo entre pais e filhos”, alertando que “é urgente criar uma ponte que permita a comunicação” sobre o tema. “Essa é a única forma de minimizar os riscos que a exposição excessiva e desacompanhada aos conteúdos online e aos ideais de beleza irrealistas e inatingíveis podem ter na autoestima dos adolescentes”.

“Estes números são preocupantes e refletem o facto de que muitos dos pais não conhecem a realidade da relação que os filhos têm com as redes sociais: a experiência que os filhos têm online, a linguagem que usam para abordar essa experiência, tudo isso é muitas vezes um território desconhecido e desconfortável para os pais”, destaca a psicóloga.

Ainda assim, há uma questão que permanece: como é que os pais devem falar com os filhos sobre estes temas? “Antes de mais é preciso preparar os “filhos para o uso das redes sociais e para os conteúdos online antes de estes começarem a estar expostos a eles”. Para tal é imperativo “promover desde cedo uma autoestima positiva, ou seja, um sentimento positivo acerca do todo que somos”.

Além disso, é importante incentivar “o desenvolvimento de uma relação saudável com o corpo, ajudando os adolescentes a percebê-lo como um meio que lhes permite explorar o mundo, experienciá-lo, senti-lo e integrá-lo de forma única, um meio de se relacionarem com outros e de expressar o resultado de todas essas vivências”.

Ruth Ministro, psicóloga na clínica Reach, refere, ainda, que é importante “consciencializar para modelos irrealistas de imagem corporal”, e criando “espaço para o diálogo” e nunca “abordar estes temas de forma unilateral e diretiva”, uma vez que “é preciso ouvir o que os adolescentes têm para dizer sobre a sua experiência e sobre o que sentem”. A psicóloga refere que é fundamental “acolher as suas partilhas com abertura e curiosidade, sem julgamento, com real empatia, aceitação e vontade de também aprender sobre eles e sobre o mundo deles” e nunca “apenas com o objetivo de ensinar ou controlar”.

Outra coisa importante é que os comportamentos dos pais seja um “modelo positivo no que respeita o uso de ecrãs e redes sociais” e incentivar a que “explorem atividades que os façam sentir-se bem e que os ajudem a conhecer-se e a relacionar-se consigo mesmos”.

O estudo da YouGov envolveu mais de “12.000 adolescentes (com idades entre os 13 e os 17 anos) e pais de adolescentes de todo o mundo”. Em Portugal a amostra foi de 511 pais de pelo menos um adolescente com idades entre os 13 e os 17 anos e 515 adolescentes com idades entre os 13 e os 17 anos. As respostas foram recolhidas entre os dias 9 e 23 de janeiro de 2024.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: cbarros@expresso.impresa.pt

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