“Somos um país de salários baixos.” Podia ser uma frase ouvida no café, nas colunas de opinião dos jornais ou da televisão, mas é uma especialista em finanças pessoais a dizê-lo. Bárbara Barroso falou com o Expresso para percebermos como conseguem as pessoas viver com salários baixos. É possível viver com 1000 euros? E com menos? Partimos desta questão, mas o leitor pode fazer as suas próprias contas mais abaixo.
Há anos que se fala da “geração dos 1000 euros”, mas o que significa isso hoje em dia? Os mais recentes dados, do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, mostram que mais de 50% da população trabalhadora nem atinge esse patamar e, se olharmos para os jovens com menos de 30 anos, a percentagem sobe para 65%.
Certo que são percentagens inferiores às de 2015, mas é preciso ter em conta que nos últimos anos o salário mínimo foi sendo atualizado, o que em teoria tem o efeito de contágio nos restantes salários.
No fundo, o dinheiro que chega ao banco é muitas vezes inferior a 1000. Aliás, mesmo para um jovem não casado e sem filhos que ganhe 1000 euros brutos, tal traduz-se num salário que nem chega a 800 euros, sem contar com subsídios.
Bárbara Barroso, em conversa com o Expresso, aplaudiu as pessoas que vivem com estes salários - e ainda mais as que vivem com o salário mínimo -, pois sabe que é “muito difícil”. E poupar ao final do mês? “É praticamente impossível, só não é impossível porque sei de quem o faça”, diz.
Mas faça as contas. Consegue poupar no final do mês?
Apesar de várias das dicas que apresentamos abaixo serem ‘gerais’ e poderem aplicar-se a qualquer um dos casos, há algumas que podem se aplicar melhor ao seu. Leia o ponto que lhe foi indicado (e depois, pode ler os restantes):
Rever as despesas? Sim, mas não só
Um saldo negativo pode ter diferentes patamares - é diferente ter a conta negativa em 500 euros ou 100 euros -, mas seja qual for o patamar em que se encontra é necessário rever as suas despesas. Para tal, como explicou Bárbara Barroso, fundadora da plataforma MoneyLab, é preciso fazer um “plano financeiro, uma análise das nossas finanças”. Como? Com um mapa de receitas e despesas. É preciso “fazer o registo de tudo” - e hoje até existem diversas aplicações gratuitas em que tal é possível -, mas o mais importante é que isto seja feito “ao ínfimo detalhe, a um café”.
Às vezes não há uma noção exata da “poupança escondida”, mas apenas uma ideia aproximada dos gastos. Bárbara sugere ainda rever as diferentes aplicações no telemóvel e serviços, como os streamings, que subscrevemos: muitas vezes não os usamos e são débitos diretos que “nem vemos sair da conta”.
E, se não for suficiente, planear a comida que se come semanalmente, para se poupar no supermercado e rever os contratos com as empresas de telecomunicações, energia ou mesmo os créditos.
Mas não se deve esquecer que cortar as despesas tem um limite. “Há mínimos para eu cortar, cortei tudo o que tinha para cortar e agora? Deixa de comer? Não. Tem de ganhar mais, não há outra forma”, afirmou a especialista. Part-time, serviços extra como freelancer, venda de comida, entre outros, são algumas das possibilidades para quem quer ganhar um dinheiro extra.
Há “poupança escondida”
Ter um saldo pouco negativo, a bater nos ‘zero’ ou pouco positivo, não é o ideal, mas nada que não se consiga contornar. Assim, além do mapa de despesas, de rever os seus contratos e de planear a sua alimentação, deve ainda rever as diferentes aplicações no telemóvel e serviços como os streamings, que muitas vezes não usamos e são débitos diretos que “nem vemos sair da conta”, como apontou Bárbara Barroso. Com esse dinheiro, “poderia estar a constituir um fundo de emergência, um PPR [Plano Poupança Reforma] e não tem consciência”.
Uma área onde, dependendo da zona onde se vive, pode cortar despesas é no carro. Já pensou em ir de transportes para o trabalho?
A base da poupança: o fundo de emergência
Se lhe sobra entre 50 a 200 euros por mês, já tem margem para ter despesas extra (como ir jantar fora, beber um copo, ou comprar aquela peça de roupa que lhe falta no armário), mas também pode começar a pensar no futuro. A melhor forma de conseguir poupar, é “optar pelo método de pagar-se a si primeiro”, tal como faz o Estado com o IRS, explicou Bárbara Barroso. É também importante “criar consistência, criar este hábito de poupança, mesmo que seja um euro por dia”, continuou.
Começando a poupar é preciso começar pela base, criar o fundo de emergência. O fundo de emergência é o valor das nossas despesas mensais (o valor final que lhe deu no nosso ‘jogo’) a multiplicar por seis ou por 12, precisamente para em situações de, como o nome indica, emergência, em que seja necessário assegurar a sobrevivência, esclareceu a especialista.
Já pensou na reforma? Já investe?
Se lhe sobram mais de 200 euros por mês tem muitas opções pela frente. Além de ter margem para as despesas extra, como no patamar anterior, tem liberdade financeira o suficiente para pensar em começar a poupar para ter um complemento de reforma e a investir - consoante os seus objetivos. “É preciso investir, de forma consistente, mesmo com poucos montantes. Quebrar o mito de que só os ricos é que podem investir. Perpetuando esse mito só os privilegiados é que continuam a investir. Eu consigo investir com muito pouco dinheiro, com 10 a 20 euros, com 100 euros, é possível investir”, afirmou Bárbara.
Seja em PPR ou outras formas de investimento, ser jovem é uma oportunidade de investir a longo prazo. Como Bárbara Barroso já tinha dito ao Expresso previamente, “as ações são historicamente a classe de ativos que melhor remunera o capital, sobretudo ações de mercados desenvolvidos” e a história mostra que “quanto mais tempo se esteja no mercado acionista”, com exposição a “boas empresas”, melhor isso é no longo prazo. Assim, quando mais cedo se entra no mercado melhor, visto que “mais tempo permite que se consiga acomodar anos maus no longo prazo e permite que, mesmo num cenário de um ano de perda, ao olhar para 10 ou 20 anos as rendibilidades ainda sejam positivas”. Claro que cabe a cada um analisar se quer correr este risco.
Tem dúvidas, sugestões ou criticas? Fale connosco por aqui.
Assine e junte-se ao novo fórum de comentários
Conheça a opinião de outros assinantes do Expresso e as respostas dos nossos jornalistas. Exclusivo para assinantes