Quase metade dos jovens é de esquerda, mas são os de direita que se inscrevem em partidos
O Presidente da JSD, Alexandre Poço, durante a sessão de encerramento do 27.º Congresso Nacional da JSD, em Almada.
RODRIGO ANTUNES / LUSA
Os inquiridos que apontam ser de esquerda são 46% do total, mas quando a questão é sobre quantos estão filiados em partido, a vantagem é da direita, mostram dados recolhidos pela Universidade Católica para o Conselho Nacional de Juventude
Um estudo publicado esta segunda-feira (30) pelo Conselho Nacional de Juventude (CNJ), com base num inquérito levado a cabo pela Universidade Católica Portuguesa, revela que quase metade dos jovens é de esquerda, contra menos de um quarto, que se posiciona à direita.
Nos dados constantes das 931 respostas, conseguidas em inquéritos online e grupos de discussão, os inquiridos que apontam ser de esquerda são 46% do total, contra 33,6% que se posicionam ao centro e 20,4% à direita.
O posicionamento político não resulta em diferentes dados de afluência às urnas – os jovens de esquerda, centro e direita têm níveis de participação semelhantes. As assimetrias são mais notadas em respostas relativas à inscrição em partidos ou participação em campanhas políticas.
"Os jovens que se posicionam politicamente à direita são os que mais referem pertencer a partidos e participar em campanhas. Neste grupo, 29% dos jovens pertencem a partidos, enquanto no grupo que se alinha à esquerda, essa percentagem desce para 15,5%", explicam as investigadoras Raquel Matos e Mónica Soares, responsáveis pelo estudo, à Lusa.
Apesar destas diferenças consoante o posicionamento político, o estudo destaca, contudo, uma tendência comum: o afastamento dos jovens tanto da militância partidária como sindical. Segundo o estudo, 34,7% dos jovens participam em associações, mas essa percentagem baixa para 22,7% no que se refere a campanhas eleitorais, 17,5% para partidos políticos e 2,4% para sindicatos.
Para o presidente do CNJ, Rui Oliveira, esta falta de militância explica-se pelo facto de os jovens “não gostarem da parte burocrática e demorada” daquele tipo de entidades, a que acresce ainda, segundo Raquel Matos e Mónica Soares, uma "evidente falta de formação dos jovens sobre o funcionamento dos partidos e dos sindicatos".
As investigadoras acreditam ainda que os jovens “veem estas estruturas como desatualizadas e apresentam ideias erradas acerca de para que servem e como operam”.
Este dirigente destaca igualmente que os resultados do estudo indicam que as redes sociais já se tornaram “o meio de comunicação mais utilizado pelos jovens” para a participação política, o que deverá motivar uma reflexão rápida das várias estruturas, algumas das quais ainda não fizeram essa adaptação às redes sociais, de modo a não afastar os jovens, acredita este dirigente.
Perante esta constatação, Rui Oliveira frisou que o CNJ vai reunir-se com as suas organizações membro, entre as quais juventudes partidárias como a JS, JSD ou JCP, mas também a Comissão de Juventude da UGT ou a Interjovem/CGTP-IN, para analisar o estudo.
"Vamos reunir-nos, apresentar os dados e fazer uma reflexão com elas e com o conjunto das organizações que não são diretamente da área para apresentar soluções, caminhos, para tomar uma posição e pensar sobre estas questões", sublinhou.
Quase 90% dos jovens já participaram em pelo menos uma eleição
89,6% dos inquiridos declararam já ter votado "em algum momento da sua vida". Rui Oliveira considera que este dado permite "afastar a perceção de que os jovens estão desligados e não participam na vida política".
Segundo o estudo, dentro do universo dos jovens que já votaram, 81,8% foram às urnas no âmbito das eleições legislativas, 79,1% nas autárquicas, 76,6% nas presidenciais e apenas 45,6% nas europeias.
O estudo foi feito com base num inquérito 'online' que envolveu 931 jovens dos 18 aos 30 anos e que foi realizado entre 23 de fevereiro a 31 de maio de 2022.
Porque é que os jovens não se sentem motivados a participar em partidos ou sindicatos? E o que é que as estruturas políticas podem fazer para chegar melhor a novos eleitores? Envie-me a sua opinião por e-mail.
Assine e junte-se ao novo fórum de comentários
Conheça a opinião de outros assinantes do Expresso e as respostas dos nossos jornalistas. Exclusivo para assinantes