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Autárquicas 2021

A rota dos líderes. Costa foca-se na disputa com PSD e evita incomodar PCP, Rio investe nos Açores

A rota dos líderes. Costa foca-se na disputa com PSD e evita incomodar PCP, Rio investe nos Açores
SÉRGIO AZENHA/Lusa

Campanha oficial para as autárquicas arranca esta terça-feira (depois dos três dias de luto pela morte de Jorge Sampaio). Costa vai estar ao lado dos candidatos à noite e vai evitar concelhos que há quatro anos foram tirados ao PCP. Rio faz apostas cirurgicas em concelhos pequenos e nos Açores; vai segurar a Guarda e piscar o olho a Portalegre. Jerónimo, de norte a sul, quer agarrar terreno perdido. Por onde vão andar os líderes partidários nas próximas duas semanas?

A rota dos líderes. Costa foca-se na disputa com PSD e evita incomodar PCP, Rio investe nos Açores

Rita Dinis

Jornalista

A rota dos líderes. Costa foca-se na disputa com PSD e evita incomodar PCP, Rio investe nos Açores

Liliana Valente

Coordenadora de Política

Esta terça-feira arrancam as eleições autárquicas, com a campanha de estrada a incluir todos os líderes partidários, num apoio final a alguns candidatos. As estratégias são diferentes e denunciam em que aposta cada um deles. Aqui contamos-lhe isso, caso a caso.

Costa caminha (pouco) sobre chão quente com PCP

Na pré-campanha, o secretário-geral do PS despachou logo alguns dos locais quentes de guerra aberta com os comunistas: Almada, Loures e Setúbal por onde passou ligeiro nas críticas ao PCP (como pode ler aqui). Na agenda para estas duas semanas de campanha eleitoral, o socialista concentra-se nas capitais de distrito em comícios ao final da tarde e à noite e em muitas acções de campanha no fim de semana… sobretudo a Norte, em alguns concelhos que o PSD quer roubar.

É o caso de Viana do Castelo, onde Costa vai estar na sexta-feira à noite, ou em Marco de Canaveses. Nesta autarquia, a presidente Cristina Vieira está a ser acusada pelo PSD de fazer campanha com as obras do Governo, com queixa na Comissão Nacional de Eleições. A socialista roubou a câmara há quatro anos ao PSD, com maioria absoluta, e Costa vai tentar ajudá-la a manter o resultado no domingo. Depois, na segunda-feira, irá até à Amadora, uma câmara liderada pelo PS, por Carla Tavares, na qual o PSD apostou em Suzana Garcia. As sondagens dizem que os sociais-democratas sobem, mas longe de ganharem a autarquia.

No campo das autarquias tremidas, António Costa vai a Castelo Branco, terra onde o PS pode perder para um socialista (sem cartão), ex-presidente da câmara, Luís Correia. Outra das autarquias em evidência que vai ser visitada pelo secretário-geral socialista é a de Portalegre, uma câmara ganha por independentes e que pode pender para qualquer um dos partidos, seja PS, seja PSD.

Mas há também câmaras que o PS quer roubar. Costa vai a Póvoa do Lanhoso e à Maia, duas autarquias que quer tirar ao PSD e vai também a Évora, que quer tirar ao PCP. Os socialistas apostaram no autarca de Reguengos de Monsaraz, José Calixto, para atacar Évora ao dinossauro comunista, Carlos Pinto de Sá. Foi o único autarca que o PS apostou em mudar de câmara, por já não poder ser recandidato por limitação de mandatos, e Costa vai apoiá-lo na terça-feira. Também na terça vai a outro território alentejano, Beja. Aqui é ao contrário: é o PCP que quer recuperar a câmara perdida há quatro anos para o PS.

Tirando estas duas autarquias, que estavam na primeira agenda de Costa para o fim de semana passado, e que foram recalendarizadas devido aos dias de luto por Jorge Sampaio, o secretário-geral socialista não mais pisa território em disputa com o PCP no período de campanha oficial. Evita todas as câmaras da margem sul onde os socialistas têm esperança de manter ou ganhar as câmaras (como Almada, Barreiro e Seixal). Em Almada já esteve, e não está prevista qualquer nova deslocação, nem ao Barreiro nem ao Seixal- Mastambém evita outos a norte do Tejo, incluindo no distrito de Santarém.

Rio dá tudo nos Açores (e pouco no Porto). Chicão evita terreno dos críticos

Depois de uma alteração de planos por causa do funeral do antigo Presidente da República Jorge Sampaio, Rui Rio vai para a estrada esta terça-feira (onde já anda desde o fim de agosto) para o sprint final de campanha e começa logo na Guarda com um objetivo: segurar. Entre os sociais-democratas acredita-se que aquela capital de distrito está firme, mas uma dissidência dentro do partido pode fazer tremer o resultado. Portalegre e Açores vão ser as grandes apostas de Rio nesta reta final, que tem um pormenor peculiar: o encerramento da campanha, o dia do tudo por tudo, não vai ser passado no continente.

Trancoso e Mêda são dois concelhos pequenos por onde o líder do PSD também vai passar já esta terça-feira, uma vez que são duas apostas para ganhar. É que, tanto num como noutro, o PSD e o CDS vão coligados e, a avaliar pela soma dos votos de há quatro anos, as hipóteses de vencer são elevadas. Também Figueira de Castelo Rodrigo (Guarda) é uma aposta clara, com o líder da distrital da Guarda a concorrer, e Castelo Branco idem. É para aí que vai a caravana do PSD esta quarta-feira, uma vez que os sociais-democratas apostam na divisão interna que houve no PS para ver se os problemas alheios se traduzem em vantagem para o candidato laranja.

Portalegre, atualmente nas mãos de uma independente, é, a par de Coimbra (onde Rio esteve na semana passada e já não volta), a capital de distrito do continente que o PSD mais sonha roubar e é por lá que Rio vai estar esta semana. Com a agenda ainda por definir na sua totalidade, também a área metropolitana de Lisboa vai ter prioridade, já que recuperar eleitorado nos centros urbanos é uma meta importante para Rio, assim como o distrito de Viana do Castelo, à partida mais acessível aos sociais-democratas mas cuja capital de distrito vai ser difícil de conquistar.

O que não consta, para já, na agenda do líder do PSD é o distrito e o concelho do Porto -- no roteiro provisório há apenas um dia destinado à "zona Norte" e outro dia por definir -- onde Rui Rio acabou por escolher o seu antigo vice-presidente, Vladimiro Feliz, para dar a cara pela candidatura contra Rui Moreira. O encerramento da campanha, por sua vez, vai ser feito nos Açores, onde Rui Rio estará na última quinta e sexta-feira de apelo ao voto.

Já Francisco Rodrigues dos Santos vai começar esta semana nos Açores (o CDS tem expressão mais forte em São Jorge, onde vai estar), e vai apostar forte em Oliveira do Hospital, onde o líder é candidato à Assembleia Municipal e por onde a caravana centrista vai passar três vexes nas próximas duas semanas. Entre uma ida à Madeira, Coimbra, Leiria, Porto (onde apoia Moreira) e Amadora (onde apoia Suzana Garcia), 'Chicão' não vai passar naquela que é uma das maiores apostas do CDS para estas autárquicas: São João da Madeira, onde o CDS encabeça a coligação com o PSD e onde o candidato é João Almeida, assumido crítico de Rodrigues dos Santos, e que foi seu adversário no último congresso do partido.

PCP. De norte a sul, mas sem visitar todas as capelinhas

Jerónimo vai correr o país de lés a lés, nas duas semanas de campanha eleitoral em que o secretário geral do PCP vai andar na estrada, varrendo literalmente as estradas que ligam Viana do Castelo até Faro. São mais de 600 quilómetros de distância entre as duas cidades, mas a este percurso juntam-se as passagens pelos ‘pontos obrigatórios’ do circuito habitual da caravana comunista, sejam eles os bastiões do interior alentejano ou a grande cintura à volta de Lisboa, onde o PCP tem maior implantação autárquica.

Jerónimo não vai parar, porque nínguem melhor do que ele sabe que a campanha é difícil e o terreno movediço. Depois de, nas últimas autárquicas, o partido ter assistido perplexo à queda de dez câmaras (9 para as mãos do PS), os comunistas sabem que não é hora para baixar a aguarda, nem mesmo quando o luto nacional decretado pela morte do antigo Presidente Jorge Sampaio, travou as campanhas no terreno. Os comunistas foram dos poucos a manter a actividade política “adequando” as iniciativas à contenção própria dos dias de luto, mas não deixaram de levar o secretário geral a Benavente ou Alpiarça, as duas únicas Câmaras que a CDU mantém no distrito de Santarém. Nas últimas eleições, Constância deixou de fazer parte da lista de autarquias comunistas do distrito, mas, desta vez, Jerónimo nem vai por lá passar.

No programa de campanha do líder, há um misto de quase tudo: Jerónimo visita as velhas capelinhas comunistas, aposta na reconquista de algumas câmaras perdidas e até tem margem para a pura marcação de terreno político, em concelhos onde nunca os comunistas têm expectativa de ganhar uma Câmara. O programa mostra que Jerónimo não vai passar por todas as 24 autarquias do PCP, seleccionando apenas 15 e excluindo mesmo Grândola, Sobral do Monte Agraço ou Silves, onde tudo aponta, a vitória está garantida (embora já tenha passado por lá antes). Também não vai a Trás os Montes, Beiras ou a qualquer uma das Regiões Autónomas , mas irá cumprir campanha em Gondomar, Viana do Castelo, Braga ou Guimarães, concelhos onde a representação autárquica comunista é reduzida a algumas (poucas) juntas de freguesia e onde nunca foi conquistada qualquer Câmara. Curiosamente, o líder comunista não tem prevista qualquer passagem por Peniche, a histórica autarquia que o PCP perdeu nas últimas autárquicas para uma candidatura independente. E que, até então, era a Câmara mais a Norte que os comunistas detinham em todo o País.

Passagem obrigatória da caravana do líder é, porém, Almada e Barreiro. As duas autarquias caíram há quatro anos para as mãos do PS e o PCP recorreu, agora, a dois dos seus maiores dinossauros – Dores Meira e Carlos Humberto – para tentar recuperar o tempo perdido. Jerónimo já assumiu não ser “nenhum exagero” sonhar com a recuperação destas duas Câmaras e irá pelo menos uma vez acompanhar a campanha destes dois candidatos. E, como o programa não está ainda fechado, admite-se que possa haver mais incursões em Almada e no Barreiro. Se, claro, o ‘fator Jerónimo’ servir para desequilibrar as renhidas sondagens eleitorais naqueles concelhos para o lado das pretensões comunistas.

Ventura a sul, Catarina entre Odemira, Lisboa e Porto. PAN e IL nos centros urbanos

Mantendo a presença no Parlamento enquanto deputada, Catarina Martins (tal como João Cotrim Figueiredo) vai equilibrar as duas semanas de campanha com os plenários da Assembleia da República. Entre Lisboa, Vila Franca de Xira, Aveiro, Porto e as estufas de Odemira, o Bloco de Esquerda, que não tem grande expressão autárquica, vai apostar forte nos centros urbanos e numa campanha temática, nomeadamente a habitação e os direitos laborais e sociais.

André Ventura vai passar a primeira semana à procura de deixar marca a norte - com dois comícios, um na Maia e outro em Vila Nova de Famalicão -, apostando depois forte a sul do tejo, onde ficará na segunda e última semana de campanha. Évora, Faro, Beja, Lisboa e Setúbal são apostas, com o líder do Chega a passar por Mourão e Monsaraz e a fazer um comício em Moura (onde é candidato à Assembleia Municipal), outro em Setúbal e outro em Lisboa. Moura e Mourão foram, de resto, concelhos onde Ventura teve melhores resultados nas últimas presidenciais em que concorreu em nome próprio. É nisso que quer apostar.

Já o PAN, com Inês de Sousa Real, vai dividir-se entre a Área Metropolitana de Lisboa e Porto, com passagem por Faro e Braga e com idas breves a Leiria, Coimbra, Viseu e Santarém. E João Cotrim de Figueiredo (IL) vai apostar tudo nas áreas metropolitanas, onde tem mais expressão, e em Aveiro (Santa Maria da Feira e Anadia) e Braga (Famalicão e Guimarães). Objetivo: fixar eleitorado a pensar nas legislativas.

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