João Weber Gameiro é um nome que se cruzou por quatro meses com a TAP: foi o período de tempo que esteve na companhia aérea enquanto gestor executivo. Entrou antes do verão, com Christine Ourmières-Widener a subir a presidente executiva, mas não ficou muito tempo. Na sua audição na Comissão Parlamentar de Inquérito, explicou que saiu em setembro de 2021 por não ter seguro para as responsabilidades que exercia. O secretário de Estado do Tesouro da altura diz que não aguentou a pressão, para defender o comunicado que o Governo emitiu na altura.
“Demite-se por considerar, pessoalmente, que não tinha condições para lidar com a pressão que estávamos a ter, especialmente e isso foi muito notório”, declarou Miguel Cruz, secretário de Estado do Tesouro entre junho de 2020 e março de 2022. “Pediu a renúncia, fez uma avaliação sobre a sua capacidade de lidar com o risco associado às decisões que estavam a ser tomadas”, declarou.
“A razão objetiva é porque considera que não tem condições pessoais para aguentar a pressão a que estava sujeito. A razão pela qual toma a decisão não é por não ter o seguro”, continuou o agora presidente da Infraestruturas de Portugal, argumentando que o ex-gestor invocou várias razões, “incluindo que, por não ter o seguro, a sua leitura de risco associada a esse aspeto não lhe permite continuar”.
Apesar das insistentes questões do deputado social-democrata Paulo Moniz, Miguel Cruz fez questão sempre de colocar o ónus em questões “pessoais”, por conta da avaliação feita por Weber Gameiro. Uma forma de alinhar com o comunicado emitido pelos ministérios das Infraestruturas e das Finanças em outubro de 2021, para dar conta da renúncia: “Lamentando que, por motivos pessoais imprevisíveis, a colaboração na gestão da TAP tenha sido interrompida, os ministros de Estado e das Finanças, João Leão, e das Infraestruturas e da Habitação, Pedro Nuno Santos, agradecem o trabalho desenvolvido por João Weber Gameiro”.
Na sua audição, Weber Gameiro também defendeu o comunicado do Governo (“para o Governo foram motivos pessoais, porque são decisão minha, e imprevisíveis, porque não contavam com isso”), mas esclareceu que a sua saída se deveu ao facto de não ter um seguro corporativo (conhecido como D&O, Diretors & Officers) para o risco que enfrenta por potenciais responsabilidades financeiras à frente de uma companhia aérea como a TAP – e pelo facto de não haver um contrato de gestão em que o Estado assegurasse a cobertura desse risco.
Para Miguel Cruz, e após novas insistências do deputado Filipe Melo, do Chega, o facto de nenhum outro administrador ter apresentado a mesma justificação para sair mostra que é uma questão pessoal: “[Weber Gameiro] não sai porque não tem o seguro. Quando muito, sai porque a sua interpretação do risco associado à questão do seguro é diferente do que é aplicado por todos os outros, pelo nível de assunção de risco”, repetiu o antigo secretário de Estado do Tesouro de João Leão.
Completamente alinhados estavam Miguel Cruz e Weber Gameiro numa outra ideia: que o governante tudo fez para convencê-lo a não abandonar a empresa, sem sucesso.
Deu-se a renúncia e o Governo não tinha de pagar indemnização, e foi por aí que Miguel Cruz defendeu que não tinha razão para duvidar, em fevereiro de 2022, que outra gestora, Alexandra Reis, tinha saído com indemnização – já que o comunicado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) mencionava que houvesse renúncia (e não a renúncia por acordo, como depois a TAP veio a corrigir após tal comunicado em dezembro de 2022).
“O Ministério das Finanças não foi informado das razões da saída da Eng.ª Alexandra Reis”, garantiu Miguel Cruz. “Não tinha como saber” da indemnização, disse - o governante só soube da indemnização já fora do cargo, em dezembro de 2022, com a notícia do Correio da Manhã.
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