Os primeiros quatro meses de 2023 foram difíceis para os utilizadores de comboios em Portugal. No total houve paralisações a afetar o serviço ferroviário em 64 dias devido às greves de trabalhadores da CP, em especial dos maquinistas, mas também, em alguns dias, de trabalhadores da Infraestruturas de Portugal, empresa que gere as estradas e linhas ferroviárias em Portugal. Agora, com mais um período de greve a chegar ao fim – os maquinistas estiveram em greve durante todo o mês de abril – os trabalhadores ameaçam manter a contestação em maio.
No início da semana haverá o retomar das negociações com o Sindicato Nacional dos Maquinistas dos Caminhos de Ferro Portugueses dos Maquinistas (SMAQ). Mas para a semana seguinte haverá uma reunião alargada com as estruturas sindicais que representam as empresas públicas de transportes, coordenada pelo ministério das Infraestruturas. Está marcada para segunda-feira, dia 8 de maio, às 10h30.
A 19 de abril o ministro das Infraestruturas disse que "as medidas recentemente anunciadas e as discussões que temos mantido com os sindicatos da CP, nomeadamente dos maquinistas, dão boas perspetivas de acabar rapidamente com a greve". João Galamba referia-se ao pacote geral de medidas anunciadas pelo Governo, em especial o aumento intercalar de 1% para a Função Pública (as empresas públicas costumam ter como referencial os aumentos na Função Pública), assim com o pagamento de um apoio extraordinário de 90 euros ou o IVA Zero para um conjunto de produtos essenciais.
Mas para já as estruturas sindicais dizem não haver qualquer avanço na resposta às reivindicações do trabalhadores e que passam essencialmente pela reposição do poder de compra, fortemente afetado pelo disparo da inflação, mas também pela melhoria das condições de trabalho, disse ao Expresso José Manuel Oliveira, coordenador nacional da FECTRANS – Federação dos Sindicatos de Transportes e Comunicações. Nem sequer houve qualquer indicação de que o aumento intercalar decretado para a função pública será aplicado nestas empresas. A expectativa para a reunião que está marcada para dia 8 com as organizações sindicais que representam as empresas públicas de transportes é que possa ser aproveitada para apresentar uma nova proposta aos trabalhadores.
O facto de ser necessário preparar o sistema de transportes para o verão e para o período de férias começa a estar na ordem do dia, mas para isso é necessário estabilizá-lo. A questão é premente sobretudo na Área Metropolitana de Lisboa devido à realização da Jornada Mundial da Juventude na cidade entre 1 e 6 de agosto, evento católico que contará com a presença do Papa Francisco e no qual está estimada a presença de 1,2 milhões de jovens de todo o mundo.
O coordenador nacional da FECTRANS adianta que o novo “quadro de resultados históricos da CP” deve ser tido em conta para responder às reivindicações. A empresa teve lucro pela primeira vez na sua história em 2022, 8 milhões de euros.
O SMAQ, que tem estado na linha da frente da contestação, diz que está preparado para voltar às paralisações agora que chegou ao fim a greve de 30 dias que decorreu durante todo o mês de abril, segundo declarações do seu presidente, António Domingues, à TSF. "Temos a expectativa de nos reunirmos novamente com a tutela nos próximos dias e que a situação seja resolvida. Se não for, faremos greve até onde for possível. Já temos pré-avisos de greve alinhavados, se não houver desenvolvimentos as greves irão continuar já em maio", disse.
O Expresso contactou o ministério das Infraestruturas e a CP para saber o que está e vai ser feito para pôr termo às greves mas não obteve resposta.
4 dias de paralisação total
Os comboios estiveram totalmente parados, por quatro vezes este ano, a 4 e 5 de janeiro, a 9 de fevereiro e a 6 de abril, ainda que com serviços mínimos (exceto a 9 de fevereiro, dia em que não foram decretados serviços mínimos). Mas houve largos períodos com greve ao trabalho suplementar que levaram à supressão de vários comboios por dia.
No total este ano houve greve ao trabalho suplementar na CP entre os dias 3 e 8 de janeiro, com paralisação total nos dias 4 e 5 desse mês; entre 8 e 21 de fevereiro na CP, com paralisação total a 9 desse mês (nesse dia, aos trabalhadores da CP juntaram-se os da IP); nos dias 27 de fevereiro e 1 de março de 2023 (na CP); no dia 28 de fevereiro e 2 de março de 2023 (na CP e na IP); entre 9 e 18 de março na CP; e entre 1 e 30 de abril na CP, com paralisação total a 6 de abril (nesse dia os trabalhadores da IP juntaram-se aos trabalhadores da CP).
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