A CP anunciou que obteve em 2022 o melhor resultado de sempre – trata-se, aliás, da primeira vez que a empresa ferroviária teve lucros. Foram 8 milhões de euros, um “marco histórico”, diz a empresa em comunicado.
Trata-se de uma melhoria de 22 milhões de euros em comparação com 2021, com a CP a destacar o facto de este aumento se registar “num contexto de aumento expressivo dos custos com energia para a tração dos comboios”, que “aumentaram mais de 28,5 milhões de euros em apenas um ano”.
Para este resultado contribuiu o facto de o governo ter passado a cumprir o Contrato de Serviço Público, através do qual é paga à CP a prestação do serviço público, algo que a empresa não refere no seu comunicado. Durante muito tempo teve de ser a CP a arcar com os custos desse serviço, o que a levou a acumular uma dívida bastante significativa.
Um dos fatores que a CP destaca como tendo contribuído para a melhoria das contas foi a recuperação dos comboios que estavam abandonados e que foram postos em circulação, ajudando assim a contrariar a grave falta de material circulante com que a empresa tem vindo a ser confrontada nos últimos anos. Esta recuperação permitiu, explica a CP, devolver à congénere espanhola Renfe algumas das automotoras que esta lhe tinha alugado. Além disso, a reabertura das oficinas de Guifões, em Matosinhos, permitiu “a realização de manutenções que, anteriormente, seriam entregues a empresas externas”. “Uma ação estratégica que resultou numa poupança de vários milhões de euros”, adianta a CP.
Por outro lado, a fusão da Empresa de Manutenção de Equipamento Ferroviário (EMEF) na CP “criou sinergias e proporcionou benefícios significativos, melhorando a integração e otimização dos serviços prestados”, explica a empresa ferroviária, acrescentando que essa fusão “permitiu ainda a expansão das atividades comerciais. Além de possibilitar que a CP internalizasse a revisão de bogies, que estava a ser realizada por uma empresa espanhola, trazendo maior eficiência e controle de qualidade às operações, a CP passou a fornecer serviços de manutenção de bogies também para empresas ferroviárias espanholas, expandindo o seu alcance e fortalecendo a sua posição no mercado”. Bogie é um equipamento existente nos veículos ferroviários que suporta a instalação dos rodados, eixos e suspensão.
Passageiros aumentam 2,2% face a 2019
A empresa destaca também o facto de ter atingido “o maior número de passageiros dos últimos 20 anos” – foram mais de 148 milhões de passageiros transportados no ano passado. Este número representa um aumento de 2,2% face a 2019, o ano anterior à pandemia, havendo a destacar o serviço urbano de Lisboa, com um crescimento de 6,7% e os serviços regionais (mais 5,1%). O impacto do Programa de Apoio à Redução Tarifária nos Transportes Públicos (PART), que fez descer bastante o preços dos passes, “foi crucial para um incremento de aproximadamente 12% nos títulos mensais”, diz ainda a CP.
No comunicado não é feita referência ao comportamento do volume de negócios, apenas aos lucros. O presidente da CP, Pedro Moreira, é citado dizendo que “os resultados positivos alcançados são fruto de políticas de gestão prudentes e focadas na sustentabilidade e do papel crucial dos trabalhadores da empresa, fundamentais na conquista deste resultado histórico”.
“Este marco histórico evidencia também a gestão cuidada dos recursos financeiros, oriundos de fundos públicos. Tal comprometimento ilustra o senso de responsabilidade da empresa em aprimorar a eficiência, minimizar custos e assegurar a sustentabilidade das suas operações”, adiantou.
A CP refere que em 2022 alcançou um índice de regularidade de 97,5%, que só não foi melhor por causa das greves: “ao longo das mais de 421 mil circulações realizadas, houve 11 mil supressões, sendo 9 mil consequência de greves. Excluindo o impacto das greves, a regularidade atingiria um índice de 99,5%”.
Trabalhadores querem valorização de salários e profissões
Reagindo aos resultados da empresa, que foram antecipados pelo ‘Público’, a FECTRANS - Federação dos Sindicatos de Transportes e Comunicações disse que os bons números alcançados em 2022 “foram obtidos num ano em que, mais uma vez, se verificou uma desvalorização dos salários, em que continua a existir trabalhadores a menos dos necessários para assegurarem o serviço público, com uma frota envelhecida sem se vislumbrar quando começa a ser substituída”.
A federação adianta que os resultados “demonstram que a empresa pública CP tem futuro desde que haja vontade política para que a mesma assuma o seu importante papel num sistema nacional de transportes e que há todas as condições para se negociarem a valorização dos salários e das profissões, de modo a fixar os trabalhadores à empresa e se criarem melhores condições para recrutar novos trabalhadores e se fazer a transmissão de conhecimentos entre gerações”. A contestação à administração da CP e ao governo tem marcado este ano de 2023 com uma série de paralisações dos trabalhadores do grupo CP que, conjugadas com as greves na Infraestruturas de Portugal, têm levado a várias supressões de comboios por todo o país.
Um dos fatores que permitiram alcançar lucros foi uma medida que a FECTRANS defendia há muito tempo, a integração da EMEF na CP: “a redução de custos só foi possível com as medidas de internalização de serviços decorrentes do retorno das oficinas (ex. EMEF) à CP, medida por nós reivindicada durante muitos anos e que agora é demonstrado que tínhamos razão”, diz a estrutura sindical, adiantando que “este dado deve ser um incentivo para continuar a internalização de áreas que a CP ainda mantém externalizadas, como é o caso da FERNAVE que deve seguir o mesmo caminho da ex. EMEF, assim como é necessário um processo de reunificação de todo o sistema ferroviário nacional, dotando-o dos meios necessários nas diversas valências”.
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