Transportes

Pedro Nuno, Galamba, João Leão e Medina: presidente da TAP diz que houve um muro de silêncio, indiferença e excesso de controlo

Pedro Nuno, Galamba, João Leão e Medina: presidente da TAP diz que houve um muro de silêncio, indiferença e excesso de controlo
Antonio Pedro Ferreira

O exonerado presidente do conselho de administração da TAP queixa-se de ter ficado meses sem respostas a pedidos e alertas de falta de transparência que fez. Ninguém escapa à crítica: João Leão, Pedro Nuno Santos, Fernando Medina e João Galamba

Manuel Beja, o ainda presidente do conselho de administração da TAP, esclareceu, na sua intervenção inicial de mais de 20 minutos na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), que não concordou com a saída de Alexandra Reis da administração e tentou por quatro vezes falar com o então ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, sem ter tido, no entanto, sucesso.

"Foi uma decisão da qual discordei e que tentei evitar", defendeu. Mas não conseguiu evitar; aliás, o gestor conta que não conseguiu chegar à fala com o ministro Pedro Nuno Santos. "Tentei em quatro ocasiões falar com o ministro Pedro Nuno Santos, sem sucesso". E afirma: "à época, não eram conhecidas as conversações que o ministro tinha tido com a CEO (presidente executiva)" sobre o tema.

"A 2 de fevereiro de 2022 soube pela Alexandra Reis [que o acordo de saída estava pronto]. A 4 de fevereiro a CEO disse-me que era para assinar o acordo até ao fim do dia", contou aos deputados.

"A saída de Alexandra Reis permitiu evidenciar muitos problemas que existiam [ao nível de governação], e depois daí agravaram-se", avançou Manuel Beja. E especificou: "os tópicos de discordância [entre Christine Ourmières-Widener e Alexandra Reis] não punham, a meu ver, em causa a execução do plano de reestruturação".

Tutela “começou bem, mas perdeu o norte”

Aos deputados, Manuel Beja frisou que tinha aceitado o convite para ser chairman (presidente não executivo) da TAP por acreditar no princípio de não interferência da tutela, mas não foi isso que se verificou. “Este exercício de tutela política começou bem, mas perdeu o norte”, atacou. Foi substituído por um “fator de controlo”.

Um exemplo que deu foi relativo à comunicação social. “Tornou-se evidente” que os temas com repercussão mediática tinham de passar pelo acionista. “Os comunicados de imprensa passavam pelo visto prévio dos ministérios”, exemplificou Manuel Beja.

Aliás, chegou a dizer que por vezes “a vontade de fazer acontecer no Ministério das Infraestruturas era desacelerada pelo imobilismo do Ministério das Finanças”.

Embora houvesse este controlo, Manuel Beja também mostrou que havia aspetos de “inação política”, como a elaboração do contrato de gestão – que tem de ser assinado por gestores de empresas públicas para terem objetivos e metas a cumprir. E aí os principais visados foram os responsáveis das Finanças, tanto João Leão como Fernando Medina. No caso de Medina, até disse que esteve oito meses à espera de uma reunião.

Só que Pedro Nuno Santos, embora controlasse, também não deu resposta aos pedidos de nomeação de novos administradores para a TAP.

Saída de Alexandra Reis evitável

“Acreditei que a saída poderia e deveria ter sido evitada – e continuo a acreditar. As razões invocadas não justificam a saída”, disse Manuel Beja sobre as divergências que dividiam a administradora executiva Alexandra Reis e Christine Ourmières-Widener.

Também nesta saída não contou com apoio acionista. Nunca falou com a tutela sobre o conflito. “Tentei quatro vezes com Pedro Nuno Santos, mas não consegui. Mostrei o meu desagrado ao secretário de Estado Hugo Mendes. Fiz aproximações à chefe de gabinete”, contou aos deputados.

Relações entre ministros melhoram entre secretários de Estados pioraram

Falar com o ministro [das Finanças] João Leão era fácil? "Era um exercício possível... Mas o secretário de Estado, Miguel Cruz, era acessível", afirmou Manuel Beja.

Questionado, o gestor esclareceu então: "As relações entre ministros [João Leão e Pedro Nuno Santos vs Fernando Medina e João Galamba] melhoram, mas em termos de secretários de Estado as coisas pioraram. O secretário de Estado Miguel Cruz era muito interventivo".


Manuel Beja esclareceu ainda que teve duas reuniões com Alexandra Reis, enquanto secretária de Estado do Tesouro, para resolver questão das quais estava à espera de uma resposta havia "largos meses".

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