Transportes

Deputado do PS Carlos Pereira admite que reunião “secreta” com CEO da TAP partiu do Governo

Christine Ourmières-Widener com o presidente da comissão de inquérito, Jorge Seguro Sanches. Na terça-feira, a ainda CEO da TAP tornou pública uma reunião ‘secreta’ que levou a IL a pedir a demissão de João Galamba
Christine Ourmières-Widener com o presidente da comissão de inquérito, Jorge Seguro Sanches. Na terça-feira, a ainda CEO da TAP tornou pública uma reunião ‘secreta’ que levou a IL a pedir a demissão de João Galamba
TIAGO MIRANDA

Sem apontar especificamente a Ana Catarina Mendes ou a João Galamba, Carlos Pereira disse na SIC Notícias que a reunião que ocorreu um dia antes da audição da presidente executiva da TAP teve origem no Governo

Deputado do PS Carlos Pereira admite que reunião “secreta” com CEO da TAP partiu do Governo

Diogo Cavaleiro

Jornalista

O deputado do Partido Socialista Carlos Pereira diz que a reunião “secreta” em que participou em janeiro, e que contou com a presidente executiva (CEO) da TAP e membros da equipa governamental, um dia antes de uma audição parlamentar de Christine Ourmières-Widener, teve a sua origem no Governo.

Num debate na SIC Notícias com o deputado da Iniciativa Liberal Bernardo Blanco, que revelou a realização daquela reunião de 17 de janeiro, o deputado socialista adiantou algo que até agora não tinha dito: que a reunião foi realizada por iniciativa do Governo. Especificamente qual o ministério é que deixou na dúvida.

“O processo de marcação de reuniões preparatórias parte do Ministério dos Assuntos Parlamentares, que articula com o Ministério que tutela a área, e que convocam os deputados, e os deputados participam na reunião. É assim que funciona e foi assim que funcionou”, declarou Carlos Pereira na noite de segunda-feira, 10 de abril, na SIC Notícias, dizendo que não foi o grupo parlamentar do PS que teve a ideia da reunião.

Numa outra intervenção, Carlos Pereira voltou a frisar essa articulação entre os gabinetes de Ana Catarina Mendes e do então recém-empossado João Galamba, frisando que “faz parte do processo normal de convocação de reuniões preparatórias”, mas colocando aí o ónus de que quem “comunicou e instruiu” a reunião foi o Ministério das Infraestruturas. Em janeiro, já Pedro Nuno Santos tinha saído do Governo, tendo sido substituído por Galamba.

É a primeira vez que o deputado socialista aponta o Governo como a origem deste encontro, já que na primeira vez que falou sobre o tema, na semana passada, disse que tinha recebido o convite da sua secretária.

Tem de perguntar à CEO da TAP”

Do lado do Governo, e ainda que os ministros digam que é normal haver este tipo de reuniões, ninguém assumiu a iniciativa para a realização desta reunião, nem o convite à participação da TAP. No Parlamento, Christine Ourmières-Widener consultou a agenda para provar que tinha recebido o convite de uma assessora de Ana Catarina Mendes, mas do gabinete da ministra dos Assuntos Parlamentares há a recusa de que o convite formal (e não apenas a ligação por Teams) tenha dali saído.

João Galamba, por sua vez, defendeu em comunicado que foi a CEO da TAP que pediu para participar na reunião, e que “não se opôs”. Porém, não disse quem é que a avisou desse evento. Já Christine Ourmières-Widener disse que tinha sido convidada pelo Ministério das Infraestruturas, ainda que até dizendo que achava que era do tempo de Pedro Nuno Santos – que, em janeiro, já não estava em funções.

Carlos Pereira também não sabe, e respondeu à jornalista Patrícia Carvalho, da SIC Notícias, que “tem de perguntar à CEO da TAP” como é que teve conhecimento do encontro para, como disse Galamba, ter solicitado para participar.

A 17 de janeiro, o deputado do PS, membros das equipas de Galamba e de Ana Catarina Mendes reuniram-se com Christine Ourmières-Widener, um dia antes de a líder da TAP ser ouvida na comissão parlamentar de Economia. O Presidente da República já se queixou publicamente sobre esta reunião, por considerá-la irregular. Já o presidente da Assembleia da República disse que sendo uma reunião política não devia ter contado com a líder da TAP, esperando que não se repita – mas sublinhando que os grupos parlamentares são livres de se reunirem com quem quiserem.

Sem razões para se afastar da CPI

Na SIC Notícias, o deputado Carlos Pereira voltou a insistir na diferença entre uma comissão parlamentar permanente de economia e uma comissão de inquérito, que é instituída de poderes para judiciais – mas até ao momento ainda não foi dado por ninguém exemplo de outra reunião deste género com a participação de líderes de entidades públicas antes de uma audição. É normal haver encontros entre membros de equipas governamentais e grupos parlamentares (sendo que aqui só Carlos Pereira participou, e recusou que outros deputados socialistas se tenham queixado de não terem integrado a comitiva), mas não com responsáveis que serão ouvidos posteriormente.

Por considerá-la normal, Carlos Pereira recusa ter motivos para se afastar da comissão parlamentar de inquérito à TAP por conta desta reunião. “Não houve preparação, não houve reunião secreta, foi uma reunião absolutamente normal, que acontece com todos os partidos que passaram pelo Governo e que fazem reuniões preparatórias”, disse.

O PSD e o Chega apresentaram requerimentos para que o caso seja discutido na comissão parlamentar de Transparência e Estatuto dos Deputados, que se reúne esta terça-feira para os discutir.


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