O BPI atingiu em 2024 o melhor resultado de sempre, ao alcançar os 588 milhões de euros. Um resultado que tornou o banco numa “fortaleza”. O crescimento para a frente é por via orgânica, mas se o seu acionista único, o CaixaBank, quiser, pode ir às compras de outros bancos.
O lucro registado no ano passado representa um crescimento de 12% face ao ano passado, segundo a apresentação feita esta quinta-feira pela comissão executiva. A atividade em Portugal registou um crescimento de 15% face ao ano passado (para 511 milhões de euros), sendo a principal responsável pelas contas.
É um recorde, um reflexo do que aconteceu no grupo como um todo, com o CaixaBank a registar o melhor ano da sua história, com lucros de 5.787 milhões.
CaixaBank sabe comprar bancos, mas não é o caminho definido
Foi precisamente para o CaixaBank que João Pedro Oliveira e Costa apontou quando foi questionado na conferência de imprensa sobre os movimentos de consolidação bancária que têm acontecido pela Europa.
“A acontecer alguma coisa, será sempre um movimento decidido pelo acionista. O CaixaBank foi executando um conjunto importante de consolidações no mercado ibérico, nomeadamente em Espanha, com muito sucesso”, começou por ressalvar. Comprar outros bancos “não é estranho ao grupo CaixaBank”, “está preparado, têm experiência”, e só fez movimentos com “enorme racionalidade”.
O próprio BPI, adquirido em 2017, é um dos exemplos, e foi o período pós-compra que fez com que o português se tornasse “numa fortaleza”. “Esse movimento demonstra que, de facto, essa é uma linha de atuação possível, mas o BPI também cresceu sozinho”, constatou o CEO.
“A minha resposta é honesta: não tenho nenhum mandato, não me foi dito nada para tomar nenhuma opção. Se o acionista, em algum momento, encontrar alguma operação que faça sentido, eles tomarão essa decisão”, continuou. Em Espanha, Gonzalo Gortázar, que preside ao CaixaBank, declarou esta quinta-feira que o grupo está “totalmente focado na Península Ibérica”, mas, relata o jornal Cinco Días, também disse que há espaço para consolidação adicional no mercado espanhol (a operação entre o BBVA e o Sabadell é a que está em cima da mesa no momento).
Porém, ressalvou Oliveira e Costa, as aquisições não têm sido a regra e não constam do plano estratégico apresentado no fim do ano passado.
Mais juros, mais comissões, menos imparidades
Mais 4% de margem com juros (diferença dos que recebe nos créditos a cliente e dos que paga nos depósitos ali aplicado) e mais 12% de comissões compensaram o crescimento de 5% dos custos (sobretudo com rescisões que fechou, mas “não é ideia continuar a negociar mais saídas”).
Também houve uma diminuição de 32% das imparidades: “é muito importante nestas alturas encontrarmos algumas almofadas para o futuro para quando os ciclos forem negativos. Achamos prudente fazer isto agora. O valor da carteira de NPE [ativos problemáticos] é muito baixo e os imóveis para recuperação são 600 mil euros, ou seja nada”.
Mais de metade dos lucros seguem para o acionista
Mais de metade dos lucros do resultado individual (entre 55% e 75%, algo entre 230 e 383 milhões de euros) vai ser distribuído pelo acionista único, o CaixaBank, segundo revelou João Pedro Oliveira e Costa, o presidente executivo do BPI.
Porém, ainda não há certezas, porque a decisão cabe ao CaixaBank em sede de Assembleia-Geral, mas a expetativa é esse intervalo, porque é o “payout [proporção de dividendos face a resultados média] nos últimos anos”.
Rendibilidade “orgulha”, mas vai recuar
“São os melhores resultados de sempre em termos nominais”, admitiu o presidente executivo, João Pedro Oliveira e Costa, mas querendo deixar uma ressalva: “hoje em dia temos três vezes o capital que tínhamos”. Ou seja, há mais capital investido para conseguir esse lucro.
O retorno sobre o capital próprio recorrente em Portugal (que exclui impactos que não se repetem) foi de 18,2%, face a 16% no ano anterior que “muito orgulha”, mas “não será possível manter”. A descida da taxa de juro pelo Banco Central Europeu deverá tirar os lucros dos recordes.
Redução de posição em Angola este ano
As operações em Angola e Moçambique, que geraram 77 milhões de euros (ligeiramente abaixo dos 81 milhões em 2023), continuam sem “novidades”. Em Angola, a posição de 48% que detêm no Banco de Fomento Angola (BFA) contribuiu com 39 milhões de euros para os resultados consolidados (menos 5%) e os 35% que detêm no moçambicano BCI rendeu 38 milhões de euros (menos 3%).
A posição de 48% no BFA deverá reduzir-se, porque se mantém a intenção de colocação de 30% em bolsa da parte do BPI e da acionista maioritária, a Unitel: “Estamos a fazer tudo dentro dos standards [padrões] internacionais, a postura é construtiva de ambos os lados e durante o ano de 2025 a operação acabará por ser concretizada”.
“Não temos nenhum outro cenário alternativo. Temos de ter um bocadinho de paciência. É um mercado muito incipiente em termos de mercado de capitais”, continuou, sublinhando que “há preocupações do Estado angolano que isto corra bem”.
Em relação a Moçambique, o BCI, onde detém 35% (a maioria está na Caixa Geral de Depósitos), João Pedro Oliveira e Costa admitiu preocupação, mas sublinhou que dá um “contributo importante”.