Sistema financeiro

Perdas em Angola impedem Banco Montepio de apresentar lucros nunca antes vistos

Pedro Leitão, presidente do Banco Montepio
Pedro Leitão, presidente do Banco Montepio
Nuno Fox

Banco Montepio vê lucros caírem 16% no ano passado. Lucro recorrente, que exclui o impacto da venda do Finibanco Angola, foi de 145 milhões, um recorde

Perdas em Angola impedem Banco Montepio de apresentar lucros nunca antes vistos

Diogo Cavaleiro

Jornalista

O Banco Montepio registou um lucro de 28,4 milhões de euros no ano passado, um resultado que representa uma descida de 16% em relação aos 33,8 milhões obtidos em 2022. Porém, estes números divulgados em comunicado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) foram muito determinados pela venda da operação em Angola; sem ela, os lucros teriam sido inéditos, à semelhança do que está a acontecer com a banca portuguesa e espanhola.

O efeito da venda do Finibanco Angola foi negativo, na ordem dos 116 milhões de euros, e acabou por limitar aquilo que seria o lucro alcançado em Portugal mais alto de sempre. Seriam 145 milhões, mais de quatro vezes acima dos 33,8 milhões de 2022.

“No ano em que celebra 180 anos de existência, o Banco Montepio divulga um resultado líquido consolidado de 28,4 milhões de euros e recorrente de 144,5 milhões de euros com referência ao exercício de 2023, representando este último a melhor rendibilidade alguma vez obtida pela instituição”, indica o comunicado publicado esta quinta-feira.

Margem de juros sobe

Tal como aconteceu em 2023 com a banca europeia, foi a margem financeira (diferença entre juros pagos em créditos e juros recebidos em depósitos) a beneficiar as contas, graças à subida da taxa de juro de referência do BCE, que conduziu a uma revisão em alta das prestações dos créditos, com o banco a demorar a refleti-lo nos depósitos.

Os juros renderam uma margem de 408 milhões de euros em 2023, quando pouco passava dos 250 milhões um ano antes. A carteira de crédito caiu para 11,7 mil milhões, enquanto os depósitos somaram para 13,4 milhões. O banco conseguiu ainda uma ajuda das comissões, que somaram 5%.

Com os juros em alta, as imparidades para crédito (reconhecimento antecipado de perdas nestes empréstimos) mais do que triplicaram, para 49 milhões.

Menos 400 trabalhadores

No ano passado, o banco presidido por Pedro Leitão concluiu a reestruturação, sendo que os custos operacionais subiram 4%, para 256 milhões, com aumentos nos gastos gerais e de pessoal e com utilização de mais de 8 milhões para financiar os cortes. Saindo de Angola e com reduções em Portugal, o Banco Montepio fechou 2023 com menos 423 trabalhadores, num total de 2983 funcionários. O banco refere que encerrou 14 balcões no ano passado.

“O Grupo Banco Montepio registou uma redução de 979 trabalhadores em termos consolidados desde o final de 2019, dos quais 703 no Banco Montepio e 276 nas subsidiárias, promovendo, deste modo, a simplificação da estrutura organizacional do Grupo”, indica o comunicado, alargando o período de análise para os três anos da reestruturação encabeçada por Pedro Leitão. A redução de pessoal e a simplificação da estrutura fazem parte desse caminho e, além do Finibanco Angola, o Banco Montepio está a vender a licença do seu Banco de Empresas Montepio, que aguarda ainda o aval do Banco Central Europeu.

Também a solidez cresceu: “Os rácios Common Equity Tier 1 e de Capital Total (fully implemented) ascenderam a 16,0% e 18,7%, respetivamente, o que representa um acréscimo de 2,8 p.p. e 3,0 p.p. face ao final do ano anterior”. O presidente do banco, Pedro Leitão, já assumiu numa entrevista ao Expresso que pretende, em 2024, distribuir dividendos aos acionistas (na esmagadora maioria, a Associação Mutualista Montepio Geral) pelo lucro de 2023.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: dcavaleiro@expresso.impresa.pt

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