O Novo Banco atingiu, em 2023, um resultado líquido de 743 milhões de euros, o que corresponde a uma subida de 33% em relação ao lucro obtido no ano anterior, de acordo com as contas anuais reveladas em comunicado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) esta sexta-feira, 2 de fevereiro.
Sendo o terceiro lucro seguido da sua história, este é o maior resultado anual de sempre deste banco, criado em 2014 dos escombros do Banco Espírito Santo. O retorno sobre os ativos tangíveis, forma de ver a rentabilidade do capital investido, ficou acima dos 20%.
A margem financeira (que resulta da diferença entre juros cobrados em créditos e juros pagos em depósitos) disparou 83%, totalizando mais de 1,1 mil milhões de euros. Foi ela a principal responsável por um lucro anual inédito, tendo em conta a subida abrupta da taxa de juro de referência do Banco Central Europeu (BCE), que levou a uma revisão automática dos créditos, sem que os depósitos comercializados tivessem tido logo a sua oferta ajustada.
A taxa média recebida no lado dos ativos (onde estão os créditos) foi de 4,16% em 2023, quando a paga no lado dos passivos (em que se encontram os depósitos) fixou-se em 1,4%. Neste período, o banco viu cair ligeiramente a carteira de crédito, para 24,5 mil milhões de euros, com as empresas a resvalarem e os particulares a crescerem. Os depósitos recuaram 1% para 28,1 mil milhões de euros.
Mais 200 postos de trabalho
A subida da margem financeira do banco comandado por Mark Bourke foi tão significativa que conseguiu ofuscar na totalidade os quase 150 milhões de euros extraordinários que o Novo Banco tinha conseguido no ano passado com a venda da sede e dos serviços de logística.
Assim, o produto bancário (que concentra a margem, as comissões, que subiram muito ligeiramente, e estes resultados adicionais de exploração) avançou 28%, em contraponto aos custos operacionais, que subiram 7%, segundo o banco “influenciados pela inflação e pelo continuado investimento na simplificação da organização”.
O Novo Banco viu o quadro de pessoal crescer em 200 pessoas, totalizando 4209, embora a rede de balcões tenha permanecido praticamente inalterada (290, menos dois do que um no antes).
Mais imparidades, 5 milhões em impostos
Na demonstração de resultados do banco detido na sua maioria pela Lone Star, as imparidades e provisões (dinheiro de lado para eventuais gastos futuros, em créditos ou em processos judiciais, por exemplo) escalaram 56% para 174 milhões de euros, em especial devido a prováveis perdas com créditos concedidos.
O crédito malparado do Novo Banco representava, no fim do ano, 4,4%, face aos 5,4% um ano antes e à meta de descer dos 4,5% definida pela instituição.
A rubrica de impostos voltou a ser favorável ao Novo Banco. Embora não tanto como em 2022, em que a fatura fiscal ajudou os lucros a crescerem, este ano o banco pagou 5,8 milhões em impostos aplicáveis às empresas, menos de 1% do resultado obtido. Isto sem contar com outra rubrica específica da banca, a contribuição sobre o sector bancário, de 35 milhões, basicamente idêntica ao ano anterior.
Por comparação, o Banco Montepio, de menor dimensão, pagou 50 milhões em impostos.
A evolução dos lucros foi crescente, exceto no período entre outubro e dezembro. O último trimestre, ainda assim, foi o menos generoso em termos de lucro, fixando-se em 104,6 milhões de euros, mas não porque a margem financeira tenha abrandando: houve gastos extraordinários com o Fundo de Garantia de Depósitos (56 milhões), e com uma provisão que tem de constituir (30 milhões) por conta de um imposto sobre imóveis que foi criado em 2021 e que o Novo Banco contesta – imposto que afeta quem é detido por via de offshores.
Capital mais sólido
Em 2023, os rácios de capital do banco – aqueles que de tão frágeis que eram durante anos permitiram pedir dinheiro ao Fundo de Resolução e ao Estado –, foram beneficiando dos lucros alcançados. “No período, o rácio CET 1 fully loaded apresentou um aumento de cerca de 500pb [pontos-base], face a dezembro de 2022 para 18,2% enquanto o rácio de solvabilidade subiu cerca de 560pb para 21,0% (dez/22: 13,1% e 15,4% respetivamente)”.
O banco não conta para estes rácios com o dinheiro que disputa com o seu acionista minoritário, o Fundo de Resolução, de quem espera receber os 485 milhões de euros que faltam para esgotar a garantia negociada em 2017, na venda à Lone Star, de 3,4 mil milhões (mecanismo de capital contingente). Esta quinta-feira, como o Expresso noticiou, o Supremo Tribunal de Justiça determinou que o Fundo de Resolução não tem de pagar 169 milhões que o Novo Banco pedia por conta de uma norma contabilística, mas fica por resolver outros diferendos, a disputar no tribunal arbitral de Paris.
Estes são rácios que vão crescendo porque o Novo Banco, ao contrário dos restantes, não pode distribuir dividendos pelos acionistas até fechar o mecanismo de capital contingente.
Esta notícia da derrota do Novo Banco foi dada no mesmo dia em que o banco recebeu, em contraponto, uma informação positiva: a agência financeira Fitch iniciou a cobertura ao Novo Banco e atribuiu-lhe uma notação de investimento, não considerando a sua dívida como “lixo”, o que ainda não acontece nas restantes agências que avaliam a dívida.
(notícia atualizada pela última vez às 8h00 com mais informação)