O conselho do Banco Central Europeu (BCE), presidido por Christine Lagarde, decidiu esta quinta-feira por uma sólida maioria subir os juros em mais 25 pontos-base. A principal taxa diretora passou para 4,5% e a taxa de remuneração de depósitos do sector bancário subiu para 4%. Esta última taxa remunera, agora, 3,7 biliões de euros ‘parqueados' na chamada facilidade permanente de depósito.
Nas atas da reunião anterior, em julho, recomendava-se que não fosse dada “demasiada importância” a esta reunião de rentrée do BCE em setembro, mas o evento acabou por estar em foco nos últimos dois meses como um momento decisivo no ciclo de aperto da política monetária e como uma reunião muito quente em que a decisão seria tomada por uma unha negra.
O BCE iniciou o ciclo de aumento dos juros em 21 de julho do ano passado, tendo subido as taxas em 450 pontos-base (4,5 pontos percentuais) até à data. A decisão desta quinta-feira é a 10ª subida consecutiva.
Christine Lagarde desenvolverá as razões da decisão na conferência de imprensa que se realizará em Frankfurt a partir das 13h45 (hora de Portugal) e apresentará, também, as novas projeções macroeconómicas para a zona euro, que atualizarão as avançadas em junho.
O BCE optou por continuar a subida dos juros pois nas novas projeções de inflação para este ano e para o próximo avançou com uma revisão em alta. O abrandamento do surto inflacionista vai ser mais lento: este ano a inflação média será de 5,6%, em vez de 5,4% avançada na previsão anterior, e no próximo ano ainda ficará acima de 3%. A nova projeção aponta para 3,2% em 2024,quando em junho se previa 3%.
Esta quinta-feira, antes da comunicação oficial da decisão, a probabilidade para um aumento dos juros subiu para 65% depois de a Reuters ter revelado na quarta-feira que os economistas do BCE vão avançar com uma revisão em alta da previsão da inflação na zona euro em 2024, apontando, agora, para mais de 3%. Nas projeções avançadas em junho, esperava-se que a inflação no próximo ano estabilizasse em 3%. Esta semana, a Comissão Europeia avançou com a previsão de 2,9% para a inflação do próximo ano.
Fruto da probabilidade de uma nova subida ter começado a dominar as perspetivas dos investidores, o juro médio da dívida da zona euro a 10 anos subiu de 3,25% no final de agosto para 3,44% a 13 de setembro, segundo dados do BCE. No caso das obrigações do Tesouro português naquele prazo de referência, as yields no mercado secundário aumentaram de 3,21% para 3,42% naquele mesmo período, de acordo com o registo da Investing.com.
Transmissão “vigorosa” do aperto monetário
O BCE decidiu subir os juros e ser inflexível na continuação do aperto monetário, apesar de constatar que “os anteriores aumentos das taxas de juro decididos pelo Conselho do BCE estão a ser transmitidos de forma vigorosa”, lê-se no comunicado oficial.
O conselho reconhece que a subida dos juros já está a ter um impacto negativo claro na economia. “As condições de financiamento tornaram-se mais restritivas e estão a refrear cada vez mais a procura, o que constitui um importante fator para fazer a inflação regressar ao objetivo”, refere o BCE. A consequência deste efeito “vigoroso” é a revisão em baixa das projeções para o crescimento. “Perante o crescente impacto na procura interna desta maior restritividade e o enfraquecimento do enquadramento do comércio internacional, os especialistas do BCE reduziram significativamente as suas projeções para o crescimento económico. Esperam agora que a economia observe uma expansão de 0,7% em 2023, 1,0% em 2024 e 1,5% em 2025”.
Na estratégia do BCE de combate à inflação, a economia da zona euro tem de arrefecer o suficiente para que não haja pressão do lado da procura. Tanto mais que se espera que a inflação fique acima do esperado em virtude de se prever “uma trajetória mais elevada para os preços dos produtos energéticos”.
Os analistas estão a interpretar um parágrafo do comunicado oficial como deixando uma porta aberta a uma pausa futura, desde que prolongada: “Os juros do BCE já alcançaram níveis, que se mantidos por um período suficientemente largo, contribuirão substancialmente para o regresso da inflação ao seu objetivo [de 2%]”.
Fed reúne-se a 20 de setembro, com pausa na calha
A atenção dos investidores vira-se, agora, para a reunião da Reserva Federal norte-americana (Fed) a 20 de setembro e no dia seguinte para o encontro de politica monetária do Banco de Inglaterra.
A inflação em agosto subiu para 3,7% nos Estados Unidos. Mas a inflação subjacente (excluindo as componentes mais voláteis) desceu. No entanto, para o comum dos norte-americanos, o que conta é a inflação de um cabaz que integra a alimentação, a energia (sobretudo os combustíveis na bomba) e os gastos com a habitação, e esse indicador está em 5,2%. No mercado de futuros, as probabilidades mais elevadas mantêm-se para uma decisão de pausa por parte da equipa liderada por Jerome Powell na reunião de setembro e nas duas seguintes em novembro e dezembro.
Em setembro, antes da reunião desta quinta-feira do BCE, já se realizaram 11 reuniões de bancos centrais para decidir política monetária. Com exceção de um, a opção foi por uma paragem do ciclo de subidas ou por cortes. Quatro bancos optaram por cortar os juros - Arménia, Chile, Geórgia e Polónia -, com destaque para o banco central em Varsóvia, que desceu os juros em 75 pontos-base, tendo sido acusado pela oposição política por ter tomado uma decisão ‘eleitoralista’ favorecendo o governo polaco, que vai a eleições a 15 de outubro. Por uma subida optou o Banco Central da África Ocidental, que abrange oito economias africanas, com um aumento moderado de 25 pontos-base. Por uma pausa decidiram-se seis bancos, com destaque para o Banco da Reserva da Austrália e o Banco do Canadá.
A próxima reunião do BCE realiza-se a 26 de outubro em Atenas. O conselho já disporá da segunda estimativa da inflação em setembro, mas ainda não terá a estimativa para o crescimento no terceiro trimestre do ano (que só será publicada a 31 de outubro).