Sistema financeiro

Caixa Geral de Depósitos regista subida de 45% nos lucros e paga dividendos acima de €350 milhões ao Estado

Caixa Geral de Depósitos regista subida de 45% nos lucros e paga dividendos acima de €350 milhões ao Estado
TIAGO MIRANDA

Banco público apresenta melhores resultados das operações internacionais da história. CGD vai dar mais de 350 milhões de euros em dividendos ao acionista Estado; e acima disso seguirá o edifício-sede

Caixa Geral de Depósitos regista subida de 45% nos lucros e paga dividendos acima de €350 milhões ao Estado

Diogo Cavaleiro

Jornalista

Caixa Geral de Depósitos regista subida de 45% nos lucros e paga dividendos acima de €350 milhões ao Estado

Isabel Vicente

Jornalista

A Caixa Geral de Depósitos registou, em 2022, uma subida de 45% dos lucros, totalizando €843 milhões face aos 583 milhões alcançados no ano anterior.

Segundo a apresentação feita esta quinta-feira, 2 de março, em Lisboa, por Paulo Macedo, presidente do banco público, os resultados vão permitir distribuir ao Estado dividendos acima dos 350 milhões de euros, em “cash”. O valor exato ainda não está definido, e só será decidido em assembleia-geral, mas Macedo mencionou 352 milhões de euros.

Acima desse montante, já de si bastante elevado face à média, ainda será entregue ao acionista Estado um dividendo em espécie: o edifício-sede. Não há ainda um montante, e tendo em conta que é uma transação com partes relacionadas, terá de ser avaliada por auditor independente, bem como pela comissão de auditoria do banco público.

O edifício-sede passou agora do fundo de pensões para a própria CGD, mas seguirá para o Estado - é neste edifício que o Governo irá instalar parte dos seus ministérios. A última transação em que foi alvo, em 2010, o imóvel foi avaliado em 251,8 milhões de euros.

Operação internacional com recorde

A operação internacional rendeu valores inéditos, totalizando 194 milhões de euros. Em Portugal, a atividade gerou 650 milhões de euros. "Refira-se que esta evolução foi influenciada pela variação cambial ocorrida nos países das principais unidades do Grupo Caixa no exterior", explica o banco.

“Os principais contributos para o resultado da atividade internacional foram provenientes do BCI Moçambique (63 milhões de euros), BNU Macau (45 milhões de euros), do BCG Angola (35 milhões de euros) e da Sucursal de França (32 milhões de euros), nesta última refletindo o efeito recorrente da venda do edifício sede”, apontam as contas divulgadas esta quinta-feira, 2 de março.

Cobertura de perdas passadas em 2024

A nível de retorno sobre o capital investido pelos acionistas (conhecido como ROE, return on equity), o indicador alcançou os 9,8%, “evidencia uma recuperação clara face aos ROE do período de 2011-2022, de -1,3%”.

Na apresentação, Paulo Macedo e a administradora com o pelouro financeiro, Maria João Carioca, mostraram a vontade de cobrir as perdas registadas pelo banco na última década.

“Não foi ainda agora que conseguimos recuperar os prejuízos do ciclo anterior, mas estamos confiantes que seja em 2023”, disse Macedo. Faltam 597 milhões de euros para cobrir tais perdas passadas, o que até permite que a CGD, mesmo perdendo lucros em 2023 face a 2022, cumprir tal desígnio.

Fundo de pensões pesa

Para chegar a este resultado, a CGD conseguiu registar um crescimento de 44% da margem financeira (na prática, a base do negócio bancário, que corresponde à diferença entre os juros recebidos nos créditos e nos juros pagos nos depósitos) na ordem dos 1,4 mil milhões de euros. O crescimento tem ocorrido devido ao ambiente de taxas de juro em alta do Banco Central Europeu.

A juntar a isto, as comissões somaram 8%, e as operações financeiras renderam mais 24%. Ao todo, as rubricas de proveitos renderam mais 32% ao chegarem aos 2,3 mil milhões de euros.

Do lado dos custos, os encargos dispararam 58% para 1,2 mil milhões de euros, sendo que aqui teve impacto a despesa extraordinária de 246 milhões de euros com a “transferência das responsabilidades com pensões financiadas pelo fundo de pensões”.

O cost-to-income (indicador que compara os proveitos com os custos) ficou-se nos 39,1%, o que compara com a média da União Europeia que está nos 61,1%.

Já a rubrica de provisões e imparidades deu um impulso positivo às contas, ao contrário do ano anterior, em que foi colocado dinheiro de lado para reestruturações e saídas de pessoal.

Impostos iguais, apesar de mais lucro

Apesar de ter aumentado os seus resultados, a CGD teve a mesma fatura fiscal em 2022 e em 2021: cerca de 270 milhões de euros.

Para perceber é preciso recuar a 2017, já que foi aí que registou prejuízos, mas anulou esse reporte porque podia não gerar resultados nos anos seguintes para aproveitá-los fiscalmente. Como o banco foi tendo lucros, chegou a 2022 e conseguiu reverter essa anulação, o que permitiu reduzir a fatura fiscal de 2022.

Depósitos e crédito sobem

Olhando para a operação comercial, em 2022, os recursos totais ascendem a 75,9 mil milhões de euros, mais 5,3% do que em 2021, dos quais com um crescimento de 3,9 mil milhões de euros em depósitos de clientes.

No lado do crédito, o crescimento foi mais tímido, na ordem dos 1,2%, para 46 mil milhões de euros, dos quais 25 mil milhões de crédito em habitação e mil milhões no crédito ao consumo.

Margem de capital de 4,2 mil milhões

“Os números continuam a ser muito expressivos”, classificou Maria João Carioca os rácios de solidez da CGD.

O rácio mais exigente, designado CET1, passou de 18,2% para 18,7% dos fundos próprios, o que corresponde a uma diferença de 9,6 pontos percentuais – ou de 4,2 mil milhões de euros – face ao requisito mínimo exigido pelo Banco Central Europeu (BCE).

Os ativos não produtivos diminuíram 624 milhões de euros, evolução que se justifica pela redução dos créditos não produtivos e dos fundos de reestruturação, e da diminuição dos imóveis detidos para venda. “Um valor expressivo e muito inferior àquele com que começamos em 2018”, disse a administradora financeira.

(notícia atualizada às 17h27 com mais informações)

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: dcavaleiro@expresso.impresa.pt

Comentários
Já é Subscritor?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate