As taxas de juro começaram a subir em julho do ano passado, com o Banco Central Europeu (BCE) a travar a fundo após 11 anos de estímulos monetários. Porém, os bancos portugueses não acompanharam o aumento do preço do dinheiro no lado dos depósitos. Portugal era em dezembro de 2022 o país da zona euro que remunerava pior os novos depósitos de particulares, com uma taxa de juro média de 0,35%, de acordo com dados do Banco de Portugal (BdP) divulgados esta quinta-feira, 2 de fevereiro.
No conjunto do ano 2022, as famílias depositaram a prazo nos bancos portugueses 49.393 milhões de euros, uma subida face aos 43.016 milhões de euros depositados no ano anterior. No fecho do ano, em dezembro, a remuneração média dos novos depósitos a prazo era de 0,35%, a mais baixa do conjunto de países que fazem parte da moeda única. Em dezembro de 2021, a taxa média fora de 0,04%.
Os “lanternas vermelhas” da zona euro eram, a par de Portugal, a Grécia e Chipre, com taxas médias de 0,36% e 0,4%, respetivamente. França liderava entre os 19 países da zona euro, com uma taxa de juro média de 2,29%. A média da zona euro era de 1,44% no final do ano de 2022.
Os depósitos a prazo a um ano, que representaram 88% do montante total de novos depósitos a prazo, terminaram 2022 em Portugal com uma taxa de juro média ligeiramente mais baixa, de 0,3%, quando a média da zona euro era de 1,34%. No final de 2021, a taxa média tinha sido de 0,04%.
Nas empresas, que depositaram a prazo 21.513 milhões de euros em 2022 - com 96% deste montante a ser aplicado em depósitos a prazo a um ano - o juro médio era de 0,97% no fecho do ano. No final de 2021, o juro médio fora de 0,06%.
Os dados do BdP mostram que até agosto de 2022 “a taxa de juro dos novos depósitos a prazo até um ano foi sistematicamente superior à praticada na área do euro, em particular durante 2020, ano em que a taxa média praticada na área do euro foi negativa”.
“Em agosto de 2022 este comportamento inverteu-se e, desde então, a remuneração dos depósitos na área do euro tem superado as taxas praticadas em Portugal, com um diferencial crescente [0,05 pontos percentuais (pp) em agosto, 0,42 pp em setembro, 0,46 pp em outubro, 0,69 pp em novembro e 0,79 pp em dezembro]”, detalha o banco.
Créditos pagam mais
Do lado dos créditos concedidos não houve travão no juro cobrado aos clientes. No ano passado, os bancos concederam às famílias 23.878 milhões de euros em novos empréstimos, uma subida de 1908 milhões de euros face a 2021. “Por finalidade, foram concedidos 16.156 milhões de euros para novos empréstimos à habitação, 5377 milhões de euros para consumo e 2345 milhões de euros para outros fins, mais 886, 891 e 132 milhões de euros do que em 2021, respetivamente”, detalha o BdP.
Disparando as taxas Euribor, a par da subida da taxa diretora do BCE, o juro cobrado no crédito à habitação cresceu de forma muito acentuada no ano passado, agravando de forma muito significativa a mensalidade paga pelas famílias. De uma taxa média de 0,83% em dezembro de 2021, o juro médio passou para 3,24% no final do ano de 2022, segundo o BdP.
“Esta subida acompanha a trajetória das taxas Euribor, que, em dezembro, foram em média 3,03% no prazo a 12 meses, 2,57% a 6 meses e 2,07% a 3 meses (-0,50%, -0,54% e -0,58% em dezembro de 2021, respetivamente)”, detalha o banco central.
No crédito ao consumo, a subida da taxa de juro média foi menos pronunciada, passando de uma taxa de 7,18% em dezembro de 2021 para 7,97% um ano depois.
Às empresas, os bancos concederam, em novos créditos em 2022, mais 1229 milhões de euros face ao ano anterior, num total de 22.055 milhões de euros. “Uma análise por escalão de montante mostra que foram concedidos 12 442 milhões de euros nos empréstimos até 1 milhão de euros e 9616 milhões nos empréstimos acima de 1 milhão de euros”, especifica o BdP.
A rendibilidade destes créditos para os bancos também disparou no segmento dos clientes empresariais, passando de 2% em dezembro de 2021 para 4,44% um ano depois. Um crescimento “transversal aos empréstimos até 1 milhão de euros (de 2,12% para 4,45%) e aos empréstimos acima de 1 milhão de euros (de 1,90% para 4,42%)”, acrescenta o banco.
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